sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pensando nos que são diferentes por dentro e por fora

"Vi outro dia o programa de Os Trapalhões dar uma grande ajuda a deficientes físicos. Vi um basquete de paraplégicos, notável como demonstração de amor à luta. Diariamente a televisão passa pequenos spots com mães e pais de crianças excepcionais ou com depoimentos de deficientes físicos. Prefiro chamá-los diferentes. Mas fico pensando em nós poetas, em nós artistas, em nós multidão de pessoas diferentes. Diferentes por dentro...ou deficientes por que não nos conseguimos ajustar às regras que regem o mundo, que ditam as leis e fazem das pessoas ajustados e tristes carneirinhos. Penso na legião de diferentes... que somos os que procuramos ver o mundo, o amor, a vida pela ótica da própria sensibilidade. A todos os diferentes, por dentro e por fora, dedico esta crônica."
Diferente não é quem o pretende ser. Este é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente. Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados. Para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. É de medo de não aguentar, caso um dia venham a ser. O diferente é sempre um ser mais próximo da perfeição. O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados, vitórias são adiadas: esperanças são mortas. Um diferente medroso, este sim, acaba se transformando num chato. Os diferentes muito inteligentes entendem por que os outros não os entendem.
Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porque de quem o agride. O diferente sempre paga o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente aguenta no lombo a ira do irremediavelmente igual: a inveja do comum; o ódio do mediano. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que sempre está certo. O diferente começa a sofrer cedo, desde o primário, onde todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos), se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em "puxa, fulano, como você é complicado". O que é embrião de um estilo próprio em "você não está vendo como é que todo mundo faz".

O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações nos quais acaba se transformando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores. Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno o agridem e gargalham. Diferente é o que engorda mais um pouco; chora onde os outros xingam; estuda onde os outros burram. Quer onde os outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotinizara. Sofre onde outros ganham. Diferente é o que: fica doente onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supunha. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes.Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala sempre nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. deixa o adversário fazer o gol porque gosta mais de jogar do que ganhar.

Diferente é o que aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual. Os diferentes aí estão enfermos: paralíticos; machucados; engordados; magros demais; homossexuais bonitos demais; inteligentes em excesso; bons demais para aquele cargo; excepcionais; narigudos; barrigudos; joelhudos; de pé grande; feios; de roupas erradas; cheios de espinhas; de mumunha; de malícia ou de baba; os diferentes aí estão: doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais. A alma do diferente é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos que forem capazes de os sentir e entender. Nessa morada estão os maiores tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-los depois.

*Artur da Távola pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, advogado, jornalista, radialista, escritor, professor. Foi deputado federal de 1987 a 1995 e senador de 1995 a 2003. Nasceu no Rio de Janeiro em 03 de janeiro de 1936 e faleceu em 09 de maio de 2008.


Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja
suficientemente forte para suportá-lo depois.
Arthur da Távola



Querido Mestre, permaneço fiel ao seu ensinamento " de tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças a cerca de suas ações" (grifos meus)

Iracema Alves/ jornalista cadeirante
Colaboração WIGLINEWS











2 comentários:

  1. Iracema, li, reli e tentei interpretar à minha maneira, esse pensamento traduzido em linhas, que lhe permitem a "liberdade pra voar" e povoar outras mentes e almas. Nós, eu e Thereza, que sabemos muito de perto o que é um "diferente", concordamos e aprendemos a lidar com isso, mas acertar 100% nos procedimentos dignos é algo para outra encarnação, o que não impede nossa eterna dedicação ao aprendizado voltado ao bem de todos e ao incentivo de amigos e outrem para que também o façam. Saúde pra vc, Atilio e Heitor
    Paulinho

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  2. Queridos Paulinho, Thereza & Cia, obrigada pela presença de vcs mesmo virtual. Aliás, ultimamente meus melhores momentos em todos os sentidos, são os virtuais. Ambos sabem que tudo fiz e às vezes
    ainda faço, em prol "daqueles diferentes" que não podem ter voz ativa. Permaneço trabalhando voluntariamente porém, conto com ajuda
    de pessoas que me ajudam a inserir detalhes no blog.Aproveito para
    agradecer a colaboração de WIGLINEWS.bjs Acho que estou cansando de VOAR rsrsrs

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