domingo, 23 de fevereiro de 2014

Norucongo no Quadrilátero

 
O leitor certamente achou estranho o título do artigo. Norucongo é uma nova palavra. Tive o cuidado de verificar no Google. A sua criação foi inspirada na Belíndia, conjunção da Bélgica e Índia, termo popularizado por Edmar Bacha em sua fábula "O Rei da Belíndia. Norucongo é a conjunção de outros dois países, a Noruega e o Congo. O quadrilátero se refere à forma geométrica do Distrito Federal. Este texto é inspirado no documentário Noruega e Congo no centro do Brasil, de Camila Murugussa e Jhady Arana, que utilizaram dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). na excelente obra cinematográfica, é mostrado que temos a Noruega e o Congo dentro do quadrilátero. A Noruega é representada pelo Lago Sul e o Congo pela Cidade Estrutural. A Noruega é o país que apresenta o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); 0,943. O Lago Sul supera o IDH da Noruega; 0,945. Por sua vez, a Cidade Estrutural tem IDH semelhante ao do Congo, país de menor índice do planeta: 0,286.
O IDH é baseado em renda, educação e saúde (expectativa de vida) e foi criado como contraponto ao indicador utilizado até então, o Produto Interno Bruto (PIB), que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. No Lago Sul, a renda "per capita" é de aproximadamente R$ 19 mil reais. Na cidade Estrutural, a renda "per capita" é de R$300 reais e a familiar, de R$ 1.300 reais. No documentário, especialistas - Julio Miragaya (Presidente da Codeplan), Seguei Suarez, Herton Araújo e Marcelo Medeiros (pesquisadores do Ipea) - discutem a extrema desigualdade social do Distrito Federal, que é a maior entre as Unidades Federativas do Brasil. No Lago Sul, 84% dos chefes de domicilio têm curso superior, ao contrário dos baixos níveis de escolaridade da Cidade Estrutural. A grande migração que vem ocorrendo no Distrito Federal e região metropolitana é também um vetor importante para a construção desses cenários tão desiguais entre duas localidades separadas de recursos naturais e sem proporcionar uma educação de qualidade, provavelmente, aumentará o abismo entre ricos e pobres. Sem a reversão desse quadro, as crianças e jovens de famílias de baixa renda não terão oportunidade de terem educação de qualidade.
Assim, não terão oportunidades em um mercado de trabalho justo e serão candidatos a uma vida no mundo da marginalidade. Provavelmente, estamos à b eira da explosão do caldeirão social. O abismo que se alarga entre "os que têm e os que não têm" transformou o relacionamento humano em cenário de conflitos permanentes - étnicos, tribais, religiosos, nacionalistas ou meramente sociais -, enquanto os indivíduos experimentam frustração, alienação e desconforto sem-fim. Os recentes fenômenos sociais (manifestações nas ruas e rolezinhos), que são frutos de mobilização social e da consciência do reconhecimento dos jovens e direitos, expressam a insatisfação dos habitantes das populações marginalizadas e sofridas.
As políticas e instrumentos de inclusão social (Bolsa família, Cotas etc) podem amenizar a situação. Porém, políticas de longo prazos devem ser introduzidas para que essas medidas sejam extintas. O primeiro passo seria proporcionar educação básica de qualidade a todos os jovens brasileiros. Teríamos, assim, uma nova geração com oportunidade de trabalho para uma vida digna e comportamento social com solidariedade e ética. Chegamos a uma encruzilhada na evolução da espécie humana. A ameaça de cairmos numa noiva idade de trevas tornou-se concreta. É importante que tenhamos a consciência de que estamos todos vivendo uma breve viagem no planeta. Nessa viagem, devemos deixar um legado virtuoso para nossos descendentes. Esse esforço de cada um de nós para a extinção do Norucongo no Distrito Federal e no Brasil, deverá ser Missão prioritária.


*Autor: Dr. Isaac Roitman 
Professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB


Agradecimentos: M.R. Assistente Social
Iracema Alves/ jornalista cadeirante por mim digitado em 23/02/2014
Colaboração Wiglinews 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

* O DESABAFO DE UM JORNALISTA

"Nós jornalistas, estamos de luto. A família de Santiago Andrade está de luto. Não nossos patrões que fazem do jornalismo um espetáculo de horrores. Que colocam na frentes das câmaras âncoras despreparados e irresponsáveis que vomitam seus preconceitos e ódios". O comentário é de Florestan Fernandes Jr.** jornalista, em artigo publicado pelo site Pragmatismo Político, em 13/02/2014.
"Vai ser rápido, três takes", foi o que disse Santiago ao sair da redação. A expressão banal usada com frequência por repórteres e cinegrafistas quando têm a tarefa de gravar um assunto que não demanda muito tempo, agora merece uma longa e demorada reflexão. Morreu um repórter do cotidiano, que colocava sua vida em risco quase que diariamente na nobre tarefa de informar. Com suas imagens ajudou a aumentar a audiência de telejornais. Certamente nunca teve o reconhecimento financeiro de seu importante trabalho. Como todos os colegas de profissão, tinha um salário miserável pelo risco que corria. Mas isso não é o mais importante. Ele já está morto. Morreu registrando as cenas de barbárie de um país que, pela primeira vez, se olha no espelho e vê um rosto marcado pelas cicatrizes de centenas de anos e abandono e descaso. De um país de poucos, de uma justiça para poucos, de terras nas mãos de poucos, da educação para poucos, de riqueza para poucos. Um país de uma elite arrogante, perversa e preconceituosa, que por séculos controla a política em todos os níveis; estadual, municipal e federal.
Nós jornalistas, sim, estamos de luto. A família de Santiago Andrade está de luto. A sociedade brasileira mais uma vez está de luto. Não nosso patrões que fazem do jornalismo um espetáculo dos horrores. Que colocam na frente das câmaras âncoras despreparados e irresponsáveis que vomitam seus preconceitos e ódios. Jornalismo de baixo nível que usa e abusa do sensacionalismo para garantir audiência. De "âncoras" desafiando o bom senso todos os dias com um pensamento esquizofrênico e preconceituoso. Um jornalismo transvestido de notícia  que manipula dados, denúncias e, em vez de levar conhecimento, cultura e educação, faz da notícia um controle de mentes. São os Black Blocs da comunicação. Ajudaram e continuam ajudando a destruir os valores mais importantes da cidadania e de justiça social. Tudo cinicamente justificado pela liberdade de expressão. Tudo para manter o status quo de uma elite atrasada e mesquinha que realmente não quer abrir mão de seus privilégios.

** Florestan Fernandes Júnior é jornalista com ampla experiência em telejornalismo. Filho do renomado sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995).
Para Senhora Andrade e Vanessa
"Que parem os relógios, cale o telefone, jogue ao cão um osso e que não ladre mais. Que os aviões gemendo acima em círculos, escrevam contra o céu o anúncio Santiago Andrade morreu. Que os pombos guardem luto com laço no pescoço; que os guardas usem finas luvas de cor breu. Ele era nosso norte, sul, leste, oeste, enquanto viveu; era nossos dias úteis, nossos fins de semana, nosso dia a dia. É hora de apagar as estrelas, e hora de guardar a lua, desmontar o sol, despejar o mar, jogar fora as flores. Nada há de mais certo doravante, a não ser as saudades eternas de uma espoas e uma filha e seus verdadeiros amigos".
W.H.Ander - por mim copiado em um cinema de Buenos Aires em 1999 (I.A)
* Obrigada querido mestre.
Iracema Alves/ jornalista cadeirante/por mim digitado em 16/02/2014
Participação: Wiglinews 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Transposição do rio São Francisco, um projeto dos tempos do Império

Existem registros de ocorrência de secas no nordeste do país desde do século 17, e desde o século seguinte, o poder central português já planejava meios de combate-la, como registrou o pesquisado Francisco Jácome Sarmento. "A primeira aprovação de verbas para combater consequências da secas deu-se pós-independência (1822), resultante da grande estiagem de 1824-35 (...). Antes registrou-se a gênese das frentes de emergência ( no período seco 1721-25), quando navios trouxeram mantimentos para os que aceitassem trabalhar nas obras públicas nas novas vilas", escreveu na obra Transposição do Rio São Francisco - "realidade e obra a construir".

A reportagem é de Marcia Dementshuk,  publicada pelo sítio A Pública,  em 07/02/2014.
Uma história que João Ferreira Filho, tenente-coronel da reserva do Exército Brasileiro conhece muito bem. Engenheiro especialista em obras na área hídrica, Ferreira Filho conta que os dois anos de estiagem que o Nordeste enfrentou no tempo do Império - 1844-1845 - motivaram o intendente da comarca do  Crato, no Ceará, Marcos Antônio de Macedo, a propor um projeto para trazer água do São Francisco para seu estado. O canal partiria de Cabrobó, em Pernambuco, para abastecer o Rio Jaguaribe, um dos principais do Ceará. 

Foi o primeiro projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, elaborado em 1847. Trinta anos se passaram sem que o imperador Dom Pedro II tomasse conhecimento do ousado plano, até que o Nordeste enfrentou outro período de secas, entre 1877 e 1879.  Desistiu de retomá-lo, porém, porque estudos feitos pelo Barão de Capanema, demonstraram não haver recursos técnicos para fazer com as águas transpusessem a Capada do Araripe, localizada na divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Por isso, a primeira ação de combate a seca acabou sendo a construção do açude do Cedro, em Quixadá, no Ceará, vinte anos depois. 

Em 1909, o governo republicano de Afonso Pena criou a Inspetoria de Obras Contra a Seca (embrião do atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - (Dnocs). A transposição chegou então a ser cogitada pelo primeiro presidente, Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, mas em agosto de 1913, ele desistiu de implementá-la novamente por causa da elevação de 160 metros na área da Chapada do Araripe,  que interromperia o curso da águas. Miguel Arrojado defendia que o problema do Nordeste era educação, conforme proferiu em conferência dia 23 de agosto de 1913, no clube de Engenharia do Rio de Janeiro, conforme consta no arquivo do Departamento de Obras Contra as Secas (Dnocs) e da Biblioteca Nacional. " Chegamos, assim, aos mais graves de todos os problemas: o da educação! Só ela, unicamente ela, permitirá que o povo goze de sã higiene, aprenda e aperfeiçoe a irrigação, promova a indústria compatível com a ambiência, adote a fenação e use o silo, não abandone o gado e melhores-lhe a raça, facilite-lhe a água não contaminada, devolva as culturas nas grandes várzeas irrigadas, abra por si poços, faça açudes, compreenda, enfim, a importância deste grande esforço que está sendo empregado em prol de seu bem-estar". 

Em viagem à Europa, Epitácio Pessoa, presidente entre 1919 e 1922, encontrou a solução para o problema da elevação da capada junto ao engenheiro português Fonseca Rodrigues: se houvesse uma queda d'água na jusante de Cabrobó, em Pernambuco, então seria possível geral energia hidráulica e mecânica para transpor a Capada do Araripe. Quando assumiu a presidência, Epitácio pessoa  inseriu a Transposição da Chapada do Araripe e a implantação de açudes entre suas ações prioritárias. Ele deu ordens para a construção de 205 grandes açudes - a maioria abastecida pelas águas do São Francisco -, 220 poços profundos e cerca de 500 Km de ferrovias. Mais uma vez, porém, essas obras foram interrompidas: uma fiscalização chefiada por Cândido Mariano da Silva Rondon constatou desvios de recursos, o famoso "Relatório Rondon", de 1922. Já assisti este filme e continuo abominando esta praga de outras gerações (grifos meus).  O tenente-coronel João Ferreira Filho, que acompanha de perto os projetos de combate à seca desde os anos 80, relembra outro projeto de transposição. "Em 1982 eu estava no 1º Grupamento de Engenharia, sediado em João Pessoa (PB) e recebi a missão de acompanhar o projeto do coronel  Mário Andreazza para a transposição do São Francisco.

O era abrangente: envolvia os rios São Francisco, Parnaíba, Tocantins, com previsão para ser realizado em 40 anos. Seriam redirecionados, ao final, 330 metros cúbicos por segundo do Rio São Francisco  e 300 do Rio Tocantins, a um custo estimado em US$3,3 bilhões. "O farto e chuvoso inverno de 1984 3 também questões políticas paralisaram a execução do projeto", lamenta o coronel Ferreira. Nesse período a população brasileira acompanhava pela mídia o sofrimento do povo nordestino na seca que durou de 1979 a 1983. O fato das secas nordestinas serem cíclicas já havia sido preconizado em 1977 pelos pesquisadores Carlos Girardi e Luiz Teixeira, do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos (SP).  Mas informação era mantida em segredo pelo governo militar. os pesquisadores previram secas com duração de cinco anos a cada 26 anos, e secas de menor intensidade, com duração de três anos, a cada 13 anos. "Como eu estava no ITA (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica), naquela época, tive acesso a esta pesquisa. O argumento para o sigilo era o pavor e o descontrole que ria gerar na população", lembra o coronel Ferreira. 

A seca de 1991 a 1993 foi menos intensa, mas foi ampla, atingindo também Fortaleza e Ceará, Campina Grande, e Paraíba. Ciro Gomes, então governador do Ceará, construiu o Canal do Trabalhador em apenas 90 dias para abastecer Fortaleza, trazendo águas do Rio Jaguaribe. Na Paraíba, o governador na época, Cícero Lucena, pleiteou sem sucesso recursos federais para construir a adutora de Moxotó  para abastecer campina Grande com águas do Rio São Francisco, a ser realizado em 180 dias em caráter emergencial. A seca terminou em 1994 e o projeto não chegou a sair do papel. De acordo com o coronel Ferreira, a seca de 1997 a 1999 foi ainda mais abrangente. Desta vez entraram em colapso os sistemas de abastecimento de água de Fortaleza, recife e Caruaru (PE), campina Grande (PB) e João Pessoa. "O Recife era abastecido por água que vinha de navio, da Bahia. Na Paraíba o transporte de água até o município de Soledade era feito de trem e chegava ao preço de uma grama de ouro o metro cubico", conta.


De acordo com o coronel Ferreira, a seca de 1997 a 1999 foi ainda mais abrangente. Desta vez, entraram em colapso os sistemas de abastecimento de água de Fortaleza, do Recife, Caruaru (PE), Campina Grande (PB) e de João Pessoa. “O Recife era abastecido por água que vinha de navio, da Bahia. Na Paraíba o transporte de água até o município de Soledade era feito de trem e chegava ao preço de um grama de ouro o metro cúbico”, conta.

Assim, mais uma vez, a ideia da transposição de águas do Rio São Francisco voltou à pauta. O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso determinou a elaboração de um projeto de transposição inicialmente com um eixo, de Cabrobó ao Ceará. O então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, demandou que o governo federal ampliasse o projeto, incluindo o que é hoje o Eixo Leste. Seriam retirados 28 metros cúbicos por segundo pelo Eixo Leste, sendo 10 metros cúbicos para a Paraíba e 18 para Pernambuco. Pelo Eixo Norte, seriam retirados 99 metros cúbicos por segundo, sendo 10 para Pernambuco, 10 para a Paraíba, 37 para o Rio Grande do Norte e 42 para o Ceará. Ou seja: um total de 127 metros cúbicos por segundo de retirada de água, que beneficiaria 188 cidades. O custo estimado era de R$ 2.689.340.791,32.

Contudo, um grupo de empresas, entre elas a Odebrecht e a OAS Engenharia, havia obtido uma outorga pela Agência Nacional de Águas para usar 300 metros cúbicos por segundo para um mega projeto de irrigação, e assim não seria possível captar mais água sem comprometer o funcionamento da Hidrelétrica de Sobradinho. A polêmica durou até o final do governo Fernando Henrique. A solução foi reduzir a vazão de água na captação do Projeto de Integração do Rio Francisco.

A vez de Lula


Luís Inácio Lula da Silva, chegando à presidência, deparou com problemas em licitações, liberações ambientais e protestos populares contra a execução da obra, como a do bispo baiano Luiz Flávio Cappio, que impetrou uma greve de fome de 10 dias em protesto apoiado por ambientalistas de todo o país. Em agosto de 2007, foram iniciadas as obras dos canais de aproximação no Reservatório de Itaparica (Eixo Leste) e em Cabrobó (Eixo Norte) – veja o mapa abaixo.

É o mesmo local de onde, um século e meio antes, o governo imperial pretendia captar água.



Fonte: Instituto Humanitas Unisinos, A Pública
Iracema Alves/ jornalista cadeirante
Colaboração: Wiglinews

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"PM CRIA MONSTROS", DIZ EX-POLICIAL (...)"

Após ser expulso da Polícia Militar do Ceará em janeiro, acusado de distribuir seu livro intitulado "Militarismo, um sistema arcaico de segurança pública", dentro da Academia Estadual de Segurança Pública, o ex-soldado Darlan Menezes Abrantes (foto), 39 anos, voltou a criticar o atual modelo da PM e a militarização da corporação, da qual fazia parte há 13 anos. "Sou a prova viva de que esse sistema de segurança pública é falido" e "cria monstros", declarou, em entrevista ao UOL.
A reportagem é de Carlos Medeiros  Gil Alessi, publicada pelo portal UOL,03/02/2014.
Fonte: http://goo.gl/Vok6fr  
"Quando eu era da cavalaria, fiz muitas coisas das quais me arrependo. Quando eu chegava em dizia para minha esposa 'nossa, eu sou um monstro!' O treinamento militar é opressivo, e faz com que o policial trate a população como inimigo, e não como aliado", falou. Para ele, a violência e os excessos cometidos pelos policiais nas ruas tem origem na opressão vivida pelos praças (PMs de patente inferior) dentro dos quartéis. "Os oficiais têm poder total sobre os praças. Como uma polícia antidemocrática pode fazer a segurança de uma sociedade democrática? A PM tem uma estrutura medieval". Segundo Abrantes, "durante os treinamentos os superiores ficam dizendo que você não é nada, que você é um parasita.                                                                                                                          
Lembro que na academia um superior me deu uma folha de papel em branco e disse:' esses são os seus direitos'. Aí quando o policial se forma, já é um pitbull."
Para ele, o militarismo "serve para as Forças Armadas", e não para segurança interna do país, " É preciso desmilitarizar a corporação e fundi-la como polícia civil. A cada ano, a polícia perde de goleada para o crime organizado, e a solução está na modernização e desmilitarização da força". Procurada pela reportagem, a Secretaria Pública e Defesa Social do Ceará afirmou que à época do ingresso de Abrantes na corporação "a formação de policiais militares se dava pelo extinto Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PM" e que o atual treinamento conta com um programa de formação cidadã, "trabalhando as concepções de cidadania, respeito aos Direitos Humanos e à diversidade étnica e cultural".
Expulsão: a controladoria da PM expulsou Abrantes "com base em vários artigos do Código Disciplinar do Código Penal Militar", de acordo com o tenente-coronel  Fernando Albano, porta voz da corporação. "Os atos praticados vão de encontro ao pudor e ao decoro da classe. Só isso que a PM tem a falar", disse ele. A advogada do ex-soldado, Quércia de Andrade Silva, afirma que já recorreu da expulsão e diz acreditar que a decisão possa ser revertida. "Tem outro processo também na auditoria militar, mas que está ainda m fase inicial. Ele será ouvido pela primeira vez em maio. Estamos aguardando a resposta desse recurso para possivelmente recorrer à Justiça", diz Quércia.
Para ler mais:
  • 17/12/2013 - Museu do Índio: Violência e prisões marcaram ação da PM durante despejo
  • 29/11/2013 - 'A autoridade policial passou a pressupor violência e arbitrariedade', diz tenente da PM
  • 05/11/2013 - ‘Quero meu olho’, diz garota que acusa PM de usar bala de borracha
  • 30/10/2013 - PM fez 'cavalo de pau' e atirou, dizem amigos de adolescente morto em SP
  • 15/10/2013 - PM diz ter ouvido tortura na sede da UPP na noite em que Amarildo sumiu
  • 05/10/2013 - A professora que enfrentou a PM
  • 03/02/2014 - Policiais assumem não ter treinamento adequado para lidar com protestos
  • 27/01/2014 - Ação da polícia questiona seu preparo para futuras manifestações
  • 27/01/2014 - 'Polícia chegou batendo em todo mundo', conta estudante

  • 22/01/2014 - Cinco pessoas morrem por dia em confronto com a polícia no Brasil, diz Human Rights
  • Iracema Alves/ jornalista cadeirante

    sábado, 1 de fevereiro de 2014

    Setor Educacional começa a apresentar pontos de fragilidade

    * Reginaldo Gonçalves

    A busca pela excelência no ensino nem sempre representa uma estratégia de continuidade. O mercado começa a se estreitar e o objetivo para muitas instituições, principalmente as que buscam o mercado de capitais, é a massificação de alunos nas salas de aula, o que segue na contramão das boas práticas. 

    São diversos grupos de ensino buscando fusões e aquisições com o objetivo de aumentar o número de alunos e reduzir drasticamente os custos fixos. No final, a intenção é alcançar um patamar de mensalidade que lhes permita atingir a camada mais humilde da população.

    Além de por em risco a excelência, tal prática não garante a adimplência. Os baixos preços de mensalidade não são fator exclusivo de decisão para essa faixa da população, como podem julgar muitos executivos da área. Muitas vezes, o nome da instituição pesa na opção do candidato dentre as várias alternativas de cursos disponibilizados.

    As instituições foram ao mercado em busca de carteira de alunos e espaço físico. Os valores de venda foram fixados entre R$ 7.000,00 a R$ 10.000,00 por aluno, mas na maioria dos casos os imóveis não fizeram parte do negócio.

    O mercado acionário deu um impulso ao flexibilizar a busca por capital mais barato, uma opção ao mercado financeiro que evitou o endividamento das universidades e mantendo possibilidade de novas aquisições. É o caso de Kroton, Estácio de Sá, Anhanguera (em processo de fusão com a Kroton a ser finalizada pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica), SEB, Ser Educacional, Gaec Educação (Anima), entre outras que foram adquiridas por diversos grupos e que estão em processo de recuperação de sua saúde financeira e busca a melhoria do ensino.

    As instituições precisam cada vez mais estabelecer seus diferenciais para se manter em um mercado exigente e competitivo. E esse diferencial não está no preço. Tal estratégia culmina em elevado número de alunos por sala, falta de investimentos na manutenção, estrutura física, biblioteca, equipamentos de informática, material acadêmico para professores, e até mesmo em itens básicos como segurança e limpeza. O investimento é fundamental para a busca da qualidade.

    A união da Kroton com a Anhanguera irá transformar as duas instituições em uma das maiores do mundo com cerca de 1 milhão de alunos e valor de R$ 13 bilhões. A transação ainda está sob a análise do Cade, que avalia o prejuízo à concorrência em 50 municípios. Se aprovada, essas cidades poderão ver o preço da mensalidade subir, sem a contrapartida dos investimentos em qualidade de ensino. É uma lógica perversa!

    Recentemente o Ministério da Educação descredenciou duas instituições no Rio de Janeiro: a UniverCidade e Universidade Gama Filho, ambas adquiridas  pelo Grupo Galileo Educacional. Por ocasião da negociação, o conglomerado se comprometeu a melhorar o sistema educacional. Entretanto, o que se viu foi falta de pagamento a professores e funcionários, de condições mínimas na manutenção do prédio e outras fragilidades em relação às exigências mínimas do MEC.

    Os dirigentes do Grupo Galileo alegam que possuem patrimônio imobiliário superior ao passivo financeiro, mas, até o momento do descredenciamento não houve qualquer manifestação para regularização das dívidas. O descredenciamento prejudicará cerca de 1.600 professores e mais de 1.000 funcionários administrativos, além dos 9.500 alunos que já perderam parte das aulas em 2013 em virtude de greve.

    Infelizmente os programas das instituições de ensino não são iguais, as disciplinas que são elencadas com seus programas e quantidade de horas aula são definidos no projeto pedagógico e aprovados pelo MEC através da autorização e reconhecimento dos diversos cursos com conteúdo de formação básica, profissional, complementar e teórico-prática.

    O aproveitamento das disciplinas pode ser um problema para a transferência dos alunos para outras instituições, sem falar no valor das mensalidades. A situação é bem complexa e essa garantia o MEC não poderá dar. 

    No atual cenário de ensino superior no Brasil, os alunos devem observar atentamente a condição da instituição onde estudam, as notas do ENADE, que indicam o grau de responsabilidade no ensino e na manutenção da infraestrutura, e a nota do CPC - Conceito Provisório de Curso.

    A nota do Enade abaixo de 3 indica que a instituição de ensino não está conseguindo manter seu nível de comprometimento com os seus professores e alunos, condições mínimas na relação ensino-aprendizagem. A partir de agora, não é apenas a opção pelo curso que conta, mas a análise da condição geral da universidade, para evitar problemas que possam comprometer a conclusão do curso. 
      

    * Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina - FASM