Mesmo sendo o Brasil um país tão ensolarado, é possível que a população sofra com a falta de vitamina D?
Estudos coordenados por Marise Lazaretti Castro (Unifesp), com apoio da FAPESP, revelam que a carência do nutriente na população de São Paulo é grande, principalmente entre os mais velhos. *
Marise Lazaretti Castro, professora da Disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); chefe do setor de Doenças Osteometabólicas** da Escola Paulista de Medicina e pesquisadora do tema há mais de 15 anos revela: a deficiência na população é muito grande, principalmente entre os idosos institucionalizados. Em uma pesquisa feita na cidade de São Paulo, mostramos que 92% dos 177 idosos institucionalizados tinham valores insuficientes de vitamina D. No caso dos 243 idosos que moravam em domicílio, o número foi de 85%. Entre os 141 jovens que compuseram o grupo de controle, a taxa foi de 40%. Quando avaliamos a proporção de pessoas com deficiência de vitamina D. que são valores ainda mais baixo do ideal, o índice foi de 40% entre os idosos institucionalizados, 15% entre os idosos em domicílio e 5% entre os jovens. Essa pesquisa foi concluída em 2004 e, estudos posteriores indicaram que, embora os números de deficiência entre idosos institucionalizados sejam assustadores, eles continuam não recebendo suplementação (grifos meus).
Pesquisadora defende suplementação com
vitamina D para idosos por Karina Toledo
Agência Fapesp: o que caracteriza a insuficiência e a deficiência de vitamina D e qual é a consequência em cada caso?
Castro: os estudiosos mais conservadores afirmam que o ideal seria 20 nanogramas (ng) de 25-hidrovitamina D (25OHD) - que é o metabólico dosado no exame - por mililitro (ml) de sangue. Nossos resultados entretanto, estão de acordo com a Sociedade Americana de Endocrinologia, que defende valores acima de 30 ng/ml. Abaixo de 10 ng/ml é considerado deficiência.Valores entre 10 e 30 ng/ml são considerados insuficiência e já estão associados ao aumento do risco de fratura osteoporótica, pois há elevação da produção do hormônio da paratireoide, o PTH**, que provoca a desmineralização do osso. Esse quadro é conhecido como hiperparatireoidismo secundário a insuficiência de vitamina D. Já os casos de deficiência causam uma doença ainda mais grave: a osteomalácia, que é o amolecimento dos ossos. Também causa fraqueza muscular muito grande. Estudos recentes têm associado a deficiência de vitamina D a uma série de outros problemas de saúde, como câncer de mama, de próstata, colorretal, além de condições autoimunes, como diabetes e esclerose múltipla.
Agência Fapesp: quais são as causas da hipovitaminose na população brasileira?
Castro: Falta de exposição solar e uso de filtro solar.
Agência Fapesp: a alimentação influencia?
Castro: É praticamente irrelevante. Trabalhos recentes mostram que a ingestão diária fica abaixo de 100 unidades de vitamina D por dia. São poucos os alimentos com quantidades significativas e eles não são consumidos com muita frequência - peixes gordos como o atum, salmão e cavala. Agora começaram a surgir alimentos fortificados com vitamina D como iogurte e leite. Pode ser que melhore um pouco a ingestão, mas não acho que vai suprir a quantidade ideal.
Agência Agência Fapesp: qual seria a ingestão diária ideal?
Castro: Costumamos nos basear nas determinações das agências de saúde americanas.Na última revisão eles aumentaram para 600 unidades diárias, mas ainda acho pouco, principalmente para os grupos de risco para fratura. Um trabalho feito com pacientes atendidos no Ambulatório de Osteoporose da Disciplina de Endocrinologia da Unifesp - a maioria composta por mulheres na pós-menopausa - mostrou que, pelo menos nesse caso, foi necessária a uma ingestão acima de 2 mil unidades diárias para manter os níveis ideais. Esse trabalho também mostrou que os pacientes que praticavam atividade física tinham níveis maiores de vitamina D.
Agência Fapesp: qual é a relação com a atividade física?
Castro: Ainda não sabemos ao certo, com certeza é um tema que precisa ser investigado em uma pesquisa futura. Além da prática de atividade física ao ar livre estar relacionada com maior chance de exposição solar, a vitamina D por ser lipossolúvel, poderia ter sua meia-vida alterada nas situações de maior metabolismo energético.
Agência Fapesp: quais os grupos que precisam de maior atenção com a suplementação?
Castro: O trabalho sobre a variação sazonal mostrou que negros tinham valores mais baixos de vitamina D do que os brancos. Os homens tinham valores mais baixos do que as mulheres. E quanto mais velho o voluntário, menor foi o valor de vitamina D Idosos institucionalizados sem dúvida são um grupo de risco para fraturas e a suplementação com vitamina D deveria fazer parte da rotina. Outro estudo mostrou que pacientes com lúpus eritematoso sistêmico - proibidos de tomar sol para não estimular a atividade da doença - também têm risco aumentado de fratura.
Agência Fapesp: a suplementação deveria fazer parte do acompanhamento geriátrico para todos os idosos, na sua opinião?
Castro: Sim, em nosso ambulatório prescrevemos para todos os pacientes atendidos. E percebemos com esse último trabalho que mil unidades ainda é uma dose baixa. Outra pesquisa do grupo mostrou que a simples suplementação com vitamina D pode aumentar a força muscular dos idosos com deficiência de vitamina D. Foram avaliados 46 pacientes divididos aleatoriamente em dois grupos. Metade recebeu suplementação e a outra placebo. No grupo de suplementação, a força dos músculos flexores de quadril aumentou 16,4% em relação ao níveis basais. A força dos músculos extensores de joelho subiu 24,7%. Como esses são músculos responsáveis pela marcha, o ganho de força muscular também diminuiu o risco de quedas.
* Texto de Doutora Marise Lazaretti Castro - no primeiro parágrafo todos seus créditos.
Digitado e postado em 17/05/2013 por Iracema Alves jornalista e cadeirante.
Colaboração de Wiglinews
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