segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Secretárias adotam novo figurino

De mandona a meiga, de negra a branca, de principiante a experiente, de "extintor de incêndio" a anjo da guarda, todas as participantes do desfile de milhões de secretárias do mundo todo, conquistaram esse singular lugar nas organizações, públicas e privadas, graças a formação profissional, competências ecléticas e simpatia - triângulo do sucesso. 


Durante uma palestra para cerca de trezentas secretárias fomos questionados com várias perguntas, tendo uma delas se destacado pelas sua abrangência e profundidade: "qual o nosso futuro profissional? Ser uma secretária virtual ou, simplesmente, uma ex-secretária"? Legalmente e com todos os méritos, hoje, o termo correto é: Profissional de Secretariado. Ratificamos o que respondemos no evento, afirmando que grande parte das responsabilidades da profissão é encontrada no Livro dos Provérbios, nas antigas civilizações gregas e egípcias, atribuições que deverão perdurar ao longo dos tempos. Não visualizo a perda de importância da nova roupagem da profissão, a qual transformou-se numa destacada passarela que abre espaço para voos    mais altos,  dentro das organizações. Até em filmes como "Uma Secretária de Futuro", estrelado por Melanie Griffith, que interpreta a eficiente mas exageradamente ambiciosa secretária ou de "Loucos de Amor" onde, a então estonteante Marilyn Monroe contracenou com o incrível Groucho Max ou de  "Amor Eletrônico" com a excepcional Katharine Hepburn, ou ainda na novela brasileira - A Indomada - com a caricata Mérilu, pode-se encontrar ingredientes especiais, sobre a receita do sucesso em tão atraente profissão.
Observando os requisitos indispensáveis de uma secretária de grande empresa transnacional, de um profissional liberal ou de um pequeno empreendimento, concluímos que o essencial resume-se na conduta ética, competência técnica  habilidades eclética. Com as profundas transformações estruturais e tecnológicas provocadas pela globalização, o futuro dessas profissionais continua vinculado ao significado (do latim) original da palavra secretária - secretum - aquela que guarda segredo de outrem - conduzindo a  uma assessoria executiva, com todas as prerrogativas do cargo. O sucesso na carreira passa, obrigatoriamente, por cursos específicos de Secretariado e pela participação continuada em eventos e atividades que potencializem o seu talento e, elevem o seu desempenho. A habilidade na operação dos modernos meios de comunicação eletrônica, com seus processadores de textos, Internet, software dos mais sofisticados, Internet e outros dispositivos, têm contribuído com o sistema de excelência em gestão de empresas. de todos os portes e segmentos. A fusão de empresas multinacionais evidencia que o domínio do inglês tornou-se obrigatório, mas ser fluente em mais de um idioma poderá representar a diferença que fará na ascensão da carreira. A busca incessante da redução de custos operacionais tem exigido que uma mesma funcionária atenda a várias Diretorias, ou setores da empresa, desempenhando uma multiplicidade de tarefas, que têm sido facilitada graças ao cotidiano da mulher que sempre exigiu dela a tão propagada empregabilidade, mesmo quando o termo não era usual no mercado de trabalho.
Saber aplicar os fundamentos de administração de empresa, estar em sintonia com o planejamento estratégico, primar pelo relacionamento interpessoal com os clientes/ fornecedores internos e externos e, principalmente ter habilidade para lidar com a imprevisibilidade do Chefe, são aviamentos de um figurino que, cada vez mais, ganha silhueta gerencial.  Com a lembrança de que a prioridade zero da secretária de sucesso é saber exatamente o que ela nunca deve fazer, encerramos com o bordão daquela simpática da TV brasileira - "está provado que eu não sou apenas um rostinho bonito, mas que aqui tem muita cuca no lance."


Agradecemos ao profissionalismo de Faustino Vicente - Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos; Advogado e Professor, a autorização para publicarmos em nosso blog seu Artigo sobre o Dia da Secretária.
Iracema Alves
Participação: Wiglinews 
    

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

EXISTEM DUAS LEIS PRATICAMENTE ESQUECIDAS...

  
"Antes de iniciarmos nosso texto de hoje abordaremos duas situações cotidianas que nem sempre chamam a atenção daqueles que nos rodeiam. Há pessoas que constroem relações doentias vivenciado dia após dia silêncios prolongados, rotinas perturbadoras, ausência total de presença física, esquecem datas significativas outrora comemoradas. Ouvem reclamações, cobranças, geralmente fazem perguntas duvidosas aos berros. O tempo passa! Um belo dia olha-se no espelho! O susto! Quem sou eu? "(grifos meus) Você deveria conhecer a Lei Maria da Penha, nº 11.340/2006 e curar sua relação doentia. Ligue 180 e reconstrua seu caminho, sua vida!


O Supremo Tribunal Eleitoral ainda não tomou nenhuma providência relacionada com a Lei da Ficha Limpa. Embora tenha à sua disposição todas as mídias do mundo não acionou nenhuma para relatar ao povo brasileiro o significado Lei Ficha Limpa. As eleições estão próximas e temos necessidade de votar corretamente. Com a supervisão e apoio do Supremo Tribunal Eleitoral - não esquecer a tradução nacional da Linguagem da LIBRA. Providenciar por favor um e-mail ou 0800 para atender as dúvidas dos eleitores.
  
Violência contra mulher indígena tende a ser vista como "normal" A nação guatemalteca vive uma perigosa tendência de "natureza" a violência contra mulheres indígenas, alerta documento emitido pelo Fórum Nacional da Aliança ACT (Ação Conjunta das Igrejas, a sigla em inglês). As causas têm origem pessoal e estrutural, e o problema deve ser atacado pela raiz, adverte o estudo.
A reportagem é de Mayra Rodriguez, publicada pela Agência Latino-americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 17/09/2013. O documento, intitulado "Genocídio contra mulheres indígenas", assinala que a violência encontra guarida no próprio contexto da comunidade, onde o parceiro ou pai é o agressor. A violência estrutural também está presente. No governo do presidente militar Efrain Ríos Montt desapareceram comunidades indígenas inteiras, historiou Nora Coloma do Conselho Ecumênico Cristão da Guatemala e integrante do Fórum ACT. O documento distingue genocídio de feminicídio. Aquele reporta-se à violência estrutural enquanto este refere-se ao delito penal por diversos tipos de violência cometido contra mulheres. "O propósito (do estudo) não é só de evidenciar a gravidade das agressões, mas de qualificá-las como expressão de politicas genocidas e racistas, que são estruturais e que envolvem as mulheres indígenas no seu quotidiano, como estratégia de domínio para dar continuidade ao caráter monocultural desta nação, disse Nora. O racismo, frisa o estudo realizado em quatro meses, "contribuiu para tornar normal a opressão contra as mulheres indígenas e a edificar imaginários poderosos que criam indiferenças.
O estudo foi coordenado pela pesquisadora Tania Palencia. Ela afirma que os casos de violência registrados por indígenas é relativamente elevado, de modo especial quando se trata de agressões físicas ou emocionais por motivos econômicos...
ACT Aliança convoca os indígenas, especialmente as lideranças, para que assumam sua quota de responsabilidade e combatam todas as formas de exclusão das mulheres. Estamos diante de um problema de caráter político no qual se entrecruzam múltiplas opressões que requerem soluções de fundo, nas quais as mulheres sejam protagonistas das mudanças. Nesse caminho, a renovação dos imaginários e fundamental. Mudar mudando, define o documento.

Aliança ACT é uma rede global de mais de 150 membros, entre denominações religiosas e agências de desenvolvimento, filiadas ao Conselho Mundial de Iglesias, à Federação Luterana Mundial e outras organizações baseadas na Fé.

Iracema Alves
Participação de Wiglinews 
  

domingo, 22 de setembro de 2013

Juiza de Cajazeiras é Contra o 'Bolsa Família' e diz Por Quê

Sejamos dignos e realistas; vamos fazer uma campanha para moralizar e fazer progredir de fato e para valer essa 'joça' de País em que vivemos.
Apenas a título de esclarecimento aos que respeitam opiniões contrárias, e apenas a esses, é que escrevo agora. Fui alvo de críticas e agressões acerca de minha opinião avessa ao ' Bolsa-Família, programa criado pelo Governo federal há 10 anos. Grande parte optou por uma justificativa simplista: " Ah, ela é rica, juíza, elite, fala por que nunca passou necessidades, nunca passou fome...". Pronto! Essa justificativa encerra a questão e resolve o problema. É uma idiotia de quem nada sabe sobre a vida. Apenas a título de informação saibam que não sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele se Deus quiser, nunca passarei fome nem necessidade, mas lutei por ele; e como lutei!, Sofri, estudei, trabalhei lutei, repita-se. Mas isso é outra história que em momento, se interessar a alguém, posso contar. Contudo, existem outros motivos que levam as pessoas a formarem suas opiniões que não são necessariamente as suas condições financeiras. Nunca passei fome graças a Deus, graças ao trabalho de meus pais, mas da mesma forma que nunca faltou, também nunca sobrou. Trabalho desde os 18 anos de idade, quando me submeti a concurso público e fui ser funcionária pública, trabalhar oito horas diárias e ganhar menos do que um salário mínimo, apesar da Constituição Federal já vedar tal conduta. Mas como já disse isso é outra história.
O fina de semana que passou retrata exatamente um dos fatores que me levam a formar a opinião que tenho. Um simples "boato" de que o 'Bolsa  Família' iria acabar, foi suficiente para causar um caos em várias agências da Caixa Econômica Federal. Uma pessoa me disse que teve que pedir dinheiro emprestado para sair do seu sítio para receber o 'bolsa família' " antes que acabasse"...A pergunta é: de que viveriam essas pessoas se o 'bolsa família acabasse?. A minha resposta: passariam mais fome do que tinham quando começaram a recebe-lo. E sabem por quê? Porque agora com certeza do "benefício", do óbolo, elas não se propõem mais a trabalhar ou estudar e se profissionalizar. Enfim. Estão escravizados à merreca que recebem, como qualquer dependente químico da droga que consomem. É a isso que me oponho. Quando esse "programa social" foi implantado a situação das pessoas era caótica, lastimável. Hoje elas estão sendo tratadas como inúteis, como incapazes. A partir do momento em que se implanta um 'programa assistencialista' como esse, sem uma política paralela de reestruturação, de capacitação para o restabelecimento de condições de trabalho, autossustento, de busca por uma atividade que, enfim, de busca por uma atividade que traga um mínimo de independência como contrapartida pela ajuda oferecida pelo Estado, ou esse Estado passa a considerar essas pessoas como não tendo capacidade alguma para tal ou simplesmente não está querendo ajudar, mas tão somente escravizar, ou seja, obter delas a única coisa de valor que têm a oferecer: seu voto  -  e a preço módico. É no que acredito.
A Organização das Nações Unidas (ONU) embora por um lado elogie o programa, por outro lado, critica o assistencialismo populista e demagógico com o consequente apelo politico que ele gera. Segundo essa Organização Internacional, o 'bolsa família - que antes era chamado de 'bolsa escola' e exigia a contrapartida das crianças e adultos analfabetos estarem cursando o ensino fundamental - rendeu muita popularidade e votos, mas as DESIGUALDADES continuam elevadas e os progressos obtidos são pífios. Como programa de caráter EMERGENCIAL, o 'bolsa família' foi importantes mas onde está a tão decantada "inclusão socioeconômica" sustentável dos seus beneficiários? O saudoso Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas canções, de composição com Zé Dantas: "Seu Doutor uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão...". É nisso que acredito desde muito antes de me tornar Juíza. A Coordenadoria do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil afirmou que, da forma que esse programa não tem impacto nenhum na redução do trabalho infantil.
Vejam a entrevista de Frei Beto (que não é juiz mas apenas um ex-clérigo e doutrinador comunista), um dos lideres do 'Fome Zero' - outro programa assistencialista caça-votos - e me digam o que acham. O programa existe há dez anos e pouquíssimo foi mudado na vida dessas pessoas. O que foi feito de efetivo para reestruturar essas famílias? Quanto mudou? Enquanto apresentam índices de redução de evasão escolar, em razão do que era o 'Bolsa Escola', os adolescentes que passam hoje pela Vara que ocupo não sabem a data de seus nascimentos, não sabem o seu nome completo, não sabem o nome de seus pais e, pasmem não têm a menor ideia de seus endereços. Que noção de civilidade esses meninos tem? Esses mesmos meninos que agora estão querendo jogar na prisão!?! Quem ou QUÊ vai dar essa noção de civilidade, se um programa Sério de educação, capacitação, dignificação das pessoas não começar a ser ativado imediatamente? O 'Bolsa família não dignifica, Escraviza, Vicia no ócio. É o que acho. As pessoas se tornaram escravas da vontade politica e não formadoras dessa vontade. E isso para mim é um faz-de-conta. Defender a redução da maioridade penal é um exemplo disso. Defender a pena de morte também. Fazem de conta que isso vai resolver a criminalidade mas não vai. da mesma forma que fazem de conta que cumprem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Da mesma forma que fazem de conta que cumprem o ECA que existe há mais de vinte anos, não o cumprem. Nunca cumpriram. Como eu posso cobrar algo de alguém a quem nunca dei a chance que produzisse esse algo?. As pessoas não podem viver de esmolas. Precisam aprender a andar com suas próprias pernas e precisam saber que isso é da responsabilidade delas também.
É dever dos Governos federal, Estadual e Municipal prover as condições de escolaridade que dê aos cidadãos a capacidade mínima d escolher seus meios de vida e seus dirigentes e representantes sem que isso dependa de uma esmola sine qua non e que as pessoas possam seguir com suas vidas na  dignidade que cada profissão oferece, porque todas ela a têm. Vejo mulheres jovens e saudáveis pedindo  dinheiro nas ruas. Cada uma com seus três ou quatro filhos. Mas nenhuma pede um emprego. Por quê? os senhores têm ideia de quantos cartões desses programa estão nas famosas "bocas de fumo"? Vejo homens jovens e saudáveis nas portas dos bares ou papeando nas esquinas em pleno dia da semana. Porque não estão trabalhando? Qual o trabalho que as politicas públicas oferecem ou a simples, mas fundamental capacitação para eles? É certo que existem alguns programas profissionalizantes. Mas são tímidos, limitados, e não recebem a milésima parte do investimento que o programa de" caridade" gasta com essa barganha evidente o "toma lá e dá cá seu voto" . O que isso vai nos levar senhores? Ao que nos levou até agora? Como estão essas pessoas? sem fome? Tem certeza que R$ 130,00 (cento e trinta reais) realmente mata essa fome? Piada de humor negro...Não sou contra partido politico algum. Sou contra politicas públicas inúteis, mal intencionadas e danosas ao futuro da nossa gente e Nação. Sou contra e serei sempre. É minha opinião senhores. Respeitem-na. Discordem dela mas respeitem.
Não sejam tão simplistas assim. As coisas não são simples e não podem ser "explicadas" dessa forma populista e demagógica com tem sido a prática dos governos na última década, principalmente por quem não me conhece. O homem precisa ser dignificado e não escravizado ou comprado por aparentes favores de seus governantes. As pessoas continua sofrendo com a seca... Absolutamente todas as pessoas, todos os anos, há décadas. E o que foi feito da politica de irrigação, da politica que permanece que se perpetue e que de fato transforme a vida do sertanejo do nordeste, onde - todo mundo sabe menos o governo - a água está no subsolo e não na superfície?. É contra isso que sou. Sou nordestina com muito orgulho e me sinto humilhada com noticias tais como as divulgadas no Jornal Nacional, mostrando pessoas "famintas" na porta do Banco para receberem suas migalhas governamentais. Não precisamos disso. Somos inteligentes e capazes. temos força e vontade de trabalhar. Só precisamos de oportunidades e onde elas estão? Onde está a água das chuvas do ano passado? Não sei se melhorei muito de situação. Mas se piorei não foi essa a minha intenção. Precisava explicar os meu motivos. Aos que me criticam com decência fico com as criticas para refletir sobre elas na construção de minhas opiniões futuras. Aos que apenas me agrediram gratuitamente fico com a dor que me causaram e com o consolo de que o tempo cura quase tudo. Aos que perderam alguns minutos de suas vidas para lerem essa minha resposta, agradeço a atenção. A todos reafirmo: esta é a minha opinião. Não a de uma Juíza mas de uma mulher que quer muito mais do que Esmolas para o cidadão brasileiro e, principalmente, para os jovens adolescentes.





Que Deus esteja convosco!
Cajazeiras - PB 26 de maio de 2013
Adriana Lins de Oliveira Bezerra
Juíza de Direito, Eleitora e Cidadã
Iracema Alves
Participação Wiglinews

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

DEUS, OS SUICIDAS E OS ATEUS

Lu Fonte *

No mesmo dia em que o suicídio do músico Champignon com um tiro na boca  foi manchete nas páginas e telas mais nobres da imprensa brasileira, uma família formada pelo casal e seus dois filhos pequenos, na cidade de Cotia, na grande São Paulo, ocupou espaços menos nobres e menos extensos. O casal cometeu o suicídio e envenenou também as crianças e um cachorro. O pai deixou na parede da sala as razões para a atitude extrema: " tentei cuidar de meus filhos e não consegui", traduzindo as dificuldades financeiras pelas quais passava. Em comum entre os dois casos, o ato extremo de autoextermínio e a associação da motivação à depressão e a dificuldades econômicas. Nesse fim de semana mais uma episódio associável ao suicídio veio à tona em São Paulo. Uma corretora de imóveis está sendo acusada de matar duas filhas adolescentes, o cachorro e depois tentar matar-se, com ingestão de grande quantidade de antidepressivos, abertura do sistema de gás da casa aberto e gasolina sobre o corpo.
Se há coisa que destoa do comportamento do jornalismo atual, cuja marca é o estardalhaço quando se trata da cobertura da maioria dos temas, é a abordagem comedida do suicídio. Há muito tempo se convencionou, numa espécie de consenso que nem precisou ser acordado para funcionar entre os jornalistas de praticamente todo o mundo, que o suicido, deve ser um tabu na imprensa. Ninguém ousa falar dele, a não ser nos casos de celebridades e nos casos em que, a principio, é necessário esclarecimento policial das circunstâncias da morte. Argumenta-se que a dor desses casos não é do interesse público, por só dizer respeito à família, e que falar do assunto poderia induzir as pessoas a adotar o mesmo gesto extremo. Entretanto, com ou sem cobertura dos casos de suicídio nas grandes cidades, os índices só aumentam. E em todo o mundo.
 No Brasil, então, deram um pulo. Se em toda a década de 80 cresceram 2,7% em relação à década anterior, na década de 90 o crescimento foi de 18,8%. Da década de 90 para 2011 o índice pulou para 28,3%. E o que é pior: os estudiosos do mapa da violência no Brasil afirmam que os casos de suicídio devem ser hoje cerca de 30% mais altos que os registrados oficialmente no país, pois muita gente cujo atestado de óbito diz que a morte se deu por queda, atropelamento, acidente de trânsito ou envenenamento, muitas vezes provocou a morte propositadamente, jogando-se de viadutos, por exemplo. Ou, para ficar em casos comuns em Salvador, o envenenamento por chumbinho, substância que, embora proibida, é comprável no comércio clandestino das feiras populares. Enquanto impera o tabu do suicídio na imprensa,  supostamente em nome do respeito à dor de quem fica - e à pergunta incômoda que não quer calar entre amigos e familiares: o que eu poderia ter feito para evitar isso? - por outro lado, a sociedade quase em uníssono, alimentada por valores religiosos, não cansa de repetir uma tese mais desrespeitosa que qualquer abordagem jornalística sobre o tema. Tratando-se de imprensa, o apresentador José Luiz Datena é o porta-voz mor desse pensamento. Diante da morte da família de Cotia, ele não cansava de repetir que só um fenômeno explica o suicídio: a falta de fé em Deus, a falta de Deus no coração, associando aos ateus e agnósticos uma tendência quase natural ao suicídio. Isso sem falar que todos que pensam assim não se constrangem em declarar o desrespeito pela dor de quem não suporta mais enfrentar o real e apontam e julgam os suicidas como fracos e covardes.
*Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da UFBA - Universidade Federal da Bahia.
Agradecimentos ao Blog de Dimitri que nos autorizou a publicar esta matéria.
Iracema Alves / jornalista cadeirante

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

As armadilhas do desenvolvimento sustentável

      As armadilhas do desenvolvimento sustentável. 

Entrevista especial com Elder Andrade de Paula


“O cenário atual da Amazônia hoje é muito mais grave do que foi no período do estado desenvolvimentista comandado pela ditadura militar. À época, as formas destrutivas eram visíveis; agora, boa parte das formas destrutivas é invisível", constata o agrônomo.

Foto: http://bit.ly/167HZGo
A expansão da pecuária e a exploração madeireira na Amazônia ultrapassaram os efeitos tradicionais de expulsão das populações camponesas e extermínio dos povos indígenas. Hoje, está em curso um “tipo de destruição” que não é muito “visível”, diz Elder Andrade de Paula à IHU On-Line, em entrevista concedida por telefone. “Estou me referindo ao modo como a pecuária tem deixado de ser uma atividade somente ligada a grandes, médias e pequenas propriedades, e tem se disseminado na pequena propriedade de produção camponesa e também entrado nas Unidades de Conservação”, menciona.

Andrade de Paula se refere a medidas ambientais implementadas nos últimos dez anos, as quais são revestidas com o discurso da sustentabilidade, mas fizeram triplicar a exploração madeireira e a expansão pecuária no Acre. “Trata-se de uma política de dar com uma mão e tirar com a outra, porque ao mesmo tempo em que se anunciou uma expansão do controle da propriedade da terra sobre controle público, para ser concedida como forma de uso para seus ocupantes, apareceu um conjunto de políticas que fizeram com que esse público fosse apropriado para fins privados. O exemplo mais emblemático disso foi a mal denominada lei de Florestas Públicas, Lei 11.284, aprovada em 2006”, esclarece. Segundo ele, “essa lei colocou, sob o domínio efetivo das grandes corporações vinculadas à exploração e comércio mundial de madeira, a exploração de um potencial de 50 milhões de hectares na Amazônia”.

Autor do livro (Des)envolvimento insustentável na Amazônia Ocidental, produzido a partir da sua tese de doutorado, Elder enfatiza que ao longo da última década também foram criadas “políticas estratégicas de exploração de madeira acobertadas por nomes bastante simpáticos, como Planos de Manejo Florestal Sustentável de Base Comunitária”.

Segundo ele, “o Manejo Comunitário é muito enganoso, porque não há nada de comunitário. As comunidades só veem as madeiras mais valiosas saírem de suas áreas, sem terem qualquer participação nisso, porque o processo de exploração da madeira é mecanizado. As empresas compram a madeira e atuam com outras que são subsidiárias para fazer o corte e o transporte”.

Elder Andrade de Paula é licenciado em Ciências Agrícolas pela UFRJ, especialista em Ciências Sociais com enfoque na Amazônia pela Universidade Federal do Acre – UFAC, mestre e doutor em Desenvolvimento Agrícola e Sociedade. Atualmente é docente dos programas de Mestrado em Desenvolvimento Regional e de Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, da Universidade Federal do Acre – UFAC.
Foto: http://bit.ly/18vKMJE

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual é o atual quadro da expansão da pecuária e da exploração madeireira no Acre? Por quais razões essas atividades triplicaram na última década?
Elder Andrade de Paula – Já havia sido apontada uma tendência, numa pesquisa que realizei em 2002, de que, ao contrário do que se afirma no Brasil e no exterior, na Amazônia havia possibilidades animadoras para redirecionar o processo de desenvolvimento no sentido de torná-lo menos predatório e mais justo social e ambientalmente. O que percebemos na última década foi o contrário, ou seja, a reiteração de um processo destrutivo de expansão do capital na Amazônia, encoberto pela propaganda que se converteu em ideologia do desenvolvimento sustentável.
Quando analisamos o estado do Acre, considerado o mais avançado na adoção dessas políticas e estratégias orientadas segundo o chamado desenvolvimento sustentável, tal como preconizado pelo Banco Mundial, vemos a expansão das atividades mais destrutivas da Amazônia: a pecuária extensiva de corte e a exploração florestal madeireira. Na última década, houve uma expansão monumental dessas duas atividades. A pecuária, que em 1998 tinha um rebanho de aproximadamente 800 mil cabeças de gado, hoje está perto de três milhões de cabeças. A exploração madeireira, que em 1998 estava em torno de 300 mil metros cúbicos, hoje se aproxima de um milhão de metros cúbicos. Eu me refiro à data de 1998, porque foi em 1999 que teve início o governo identificado com o propósito de implantar o dito desenvolvimento sustentável.

IHU On-Line - Quais são os efeitos diretos da expansão da pecuária e da exploração madeireira na região?
Elder Andrade de Paula – Sempre se associou à expansão da pecuária a desapropriação de territórios, com a expulsão de populações camponesas para as cidades e o extermínio de povos indígenas. Esses são os efeitos tradicionais da expansão da pecuária. Porém, hoje, essa expansão tem gerado outro tipo de destruição, que não é muito visível. Estou me referindo ao modo como a pecuária tem deixado de ser uma atividade somente ligada a grandes, médias e pequenas propriedades e tem se disseminado na pequena propriedade de produção camponesa e também entrado nas Unidades de Conservação. Houve denúncias, há dois ou três anos, da expansão da pecuária nas reservas extrativistas Chico Mendes, porque as populações que moram ali acabam sendo forçadas ou incentivadas a ampliarem suas áreas de campo para dedicarem-se a essas atividades, uma vez que a atividade extrativista vai sendo estrangulada porque não tem incentivo para a produção de castanha ou para outras atividades ligadas à existência dessas comunidades e povos. O mais incrível é que, quando as comunidades fazem isso, são criminalizadas. Havia uma forte propensão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade — ICMBio de expulsar das reservas extrativistas aquelas famílias que estavam fazendo o uso de áreas para a expansão da pecuária.
A pecuária avança, degrada a floresta, e posteriormente há algumas iniciativas governamentais ditas para recuperar a área degradada. Ocorre que essa recuperação se dá com a plantação de monocultivos. No plano de governo do Acre está anunciada claramente a intenção de reflorestar 40 mil hectares de área degradada com a cultura do dendê e com outras formas de cultivo para a produção de energia. A cana-de-açúcar já expandiu de forma razoável no Eixo da BR-317. Então, a pecuária foi incentivada com financiamentos para destruir, e agora a área destruída será recuperada por grandes empresas, as quais receberão financiamento para isso. Assim, elas ganham de outro lado. E não se trata de recuperar a área, mas de intensificar a destruição com o monocultivo.
As consequências sociais são dramáticas em um estado que não tem indústrias, a população é expulsa do campo, vai para a cidade, onde não tem ocupação e emprego, e acaba trabalhando em subempregos e ficando refém dos programas assistencialistas e clientelistas que dominam o poder político regional e oligárquico. Os dados do IBGE são assustadores, porque demonstram que metade da população do Acre vive de programas sociais, a renda é muito concentrada, a propriedade da terra é concentrada: 540 propriedades detêm 78% da terra de domínio privado.

IHU On-Line - Quais foram as políticas implantadas na última década e que geraram esse cenário, a exemplo da criação de Unidades de Conservação, de Reservas Extrativistas?
Elder Andrade de Paula – Trata-se de uma política de dar com uma mão e tirar com a outra, porque ao mesmo tempo em que se anunciou uma expansão do controle da propriedade da terra sobre controle público, para ser concedida como forma de uso para seus ocupantes, apareceu um conjunto de políticas que fizeram com que esse público fosse apropriado para fins privados. O exemplo mais emblemático disso foi a mal denominada lei de Florestas Públicas, Lei 11.284, aprovada em 2006.

IHU On-Line – Quando Marina Silva era ministra do Meio Ambiente?

Elder Andrade de Paula – Sim, ela era ministra do Meio Ambiente. Essa lei colocou, sob o domínio efetivo das grandes corporações vinculadas à exploração e comércio mundial de madeira, a exploração de um potencial de 50 milhões de hectares na Amazônia. Aliado a isso foram criadas outras políticas estratégicas de exploração de madeira acobertadas por nomes bastante simpáticos, como Planos de Manejo Florestal Sustentável de Base Comunitária. No Acre existem licenciamentos para 23 mil hectares, e a proposta de governo no período de 2010 a 2014 é ampliar para 280 mil hectares. O Manejo Comunitário é muito enganoso, porque não há nada de comunitário. As comunidades só veem as madeiras mais valiosas saírem de suas áreas, sem ter qualquer participação nisso, porque o processo de exploração da madeira é mecanizado. As empresas compram a madeira e atuam com outras que são subsidiárias para fazer o corte e o transporte. Para você ter uma ideia, as famílias que trabalhavam na Floresta Estadual do Antimari, que é a primeira unidade de experimentação no dito Manejo Florestal Sustentável, recebiam em média 800 reais mensais. O metro cúbico de madeira certificada no município de Rio Branco custa 600 reais. Então se você considerar que dessas unidades saem, no mínimo, 30 metros cúbicos de madeira por mês, é possível ter uma ideia de qual é o resultado prático disso. O resultado econômico dessa atividade novamente se concentra fora da região, com a participação do poder oligárquico, que se beneficia. Isso gera um estrangulamento na cidade, porque marcenarias que compravam madeira em torno de 400 reais o metro cúbico, hoje encontram o metro cúbico a 600 reais.  


IHU On-Line - Além da exploração madeireira e da expansão da pecuária, quais são os indícios de desenvolvimento insustentável na Amazônia Ocidental?
Elder Andrade de Paula – Agravam-se os conflitos por causa da propriedade da terra. O Caderno de Conflitos da Comissão Pastoral da Terra — CPT mostra claramente a linha de conflitos nessas áreas em que a madeira é explorada pelo plano de manejo. Essas atividades se integram ao processo de retomada do ciclo extrativista na América Latina. Além da madeira, da expansão da pecuária e do monocultivo, também está prevista a exploração de gás e petróleo no Parque Nacional da Serra do Divisor e a possibilidade de exploração de gás de xisto, que é destrutiva ambientalmente.  

IHU On-Line - Qual é o destino dessa madeira?
Elder Andrade de Paula – Os laminados são destinados ao Centro-Sul, mas, do total da madeira explorada, 35% se destina ao mercado externo e algo como 40 ou 50% é destinado ao Sudeste e Centro-Sul. Pouco fica no Acre. Essa atividade é fortemente subsidiada com isenção fiscal. Então as populações deixam de se beneficiar porque o Estado financia grandes empresas.

IHU On-Line - O senhor diz que as linhas de crédito no Acre servem para articular as economias que chama de marrom e verde. Pode explicar esse panorama? Quais são essas linhas e o que denomina de economia marrom e verde?
Elder Andrade de Paula – Os incentivos para a produção são oferecidos através de linhas de crédito do governo federal. A indústria madeireira também é financiada pelo BNDES. Em Xapuri, o BNDES financiou 60 milhões para a construção de uma indústria. Construiu o prédio, comprou as máquinas para operar, e depois o governo entregou a empresa na forma de concessão para a exploração privada. Além de essa indústria operar em uma instalação com maquinários adquiridos com recursos públicos via BNDES, ela também está comprando madeira de unidades que são de domínio público. O governo estadual também financia a infraestrutura no fornecimento de energia, de construção de infraestrutura de transportes, como é o caso da estrada que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul, a qual foi financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. As madeireiras e grandes fazendas dedicadas à exploração pecuária também recebem um alento a mais por conservarem algumas áreas, através de algo chamado de Mercado de Crédito de Carbono.

IHU On-Line - Que aspectos devem ser considerados no debate regional sobre sustentabilidade? Em que consistiria uma política pública eficiente para garantir a sustentabilidade regional da Amazônia?

Elder Andrade de Paula - Algumas coisas são fundamentais. A primeira é fazer com que os sujeitos sociais mais interessados em reverter esse processo tenham maior poder de voz no sentido de propor e implementar outras políticas. Não estou tentando reinventar nada, estou lembrando o que aconteceu na década de 1980, quando os movimentos sociais reativos se interpuseram ao processo de expansão predatória e propuseram alternativas consideradas por eles mais adequadas ao seu modo de vida e às suas aspirações, como foi o caso das reservas ativistas. Nos últimos 20 anos, houve uma tentativa de aniquilação do poder de pressão dessas comunidades camponesas, dos povos indígenas e suas representações no sentido de amordaçá-los e fazer com que não se constituíssem obstáculos nesse conjunto de políticas. O ponto essencial é que essas representações, esses movimentos, reconquistem uma autonomia suficiente para que sua voz seja ouvida e não seja mais representada por terceiros, sejam eles partidos políticos, grandes organizações não governamentais, etc.

O segundo aspecto é retomar parte daquilo que indicaram, já nos anos 1980, como essencial para fazer com que essa região não seja destruída. Ou seja, criar as condições de vida adequadas aos povos que vivem em seus territórios, ofertando a eles condições de vida decentes, com financiamento subsidiando a produção, valorizando uma gama enorme de produtos existentes nas florestas, os quais podem ser usados sem destruí-las, como essências e ervas medicinais.
O problema fundamental é que o modelo de desenvolvimento em curso no Brasil está pautado no processo extensivo de apropriação permanente de territórios para o saque dos bens naturais, para alimentar o moinho satânico do capital. A solução definitiva para mudar esse cenário, não creio que possa ser dada nos marcos do capitalismo, pois o capitalismo é incompatível com o bem-estar social, com a conservação do meio ambiente.

IHU On-Line - Quais as implicações do uso do termo desenvolvimento sustentável?
Elder Andrade de Paula - O uso desse termo tem sido até hoje extremamente útil para ocultar aquilo que ele de fato produz: a insustentabilidade. Em um determinado momento do capitalismo, pensou-se que seria possível compatibilizar a conservação dos bens naturais com a lucratividade do capital. Essa crença foi alimentada pelo colapso do bloco socialista, quando o socialismo deixou de estar no horizonte. Pensou-se, então, que era no capitalismo que se deveriam resolver os problemas mais emergentes da civilização. E acreditou-se que o desenvolvimento sustentável era a saída, ou seja, em nome do desenvolvimento sustentável se construíram esses processos a que me referi até agora. Ocorre que o desenvolvimento sustentável acabou se convertendo em uma grande ideologia que oculta o seu processo destrutivo. Na Rio+20 aconteceu um fato extraordinário: a economia verde apareceu como “cavalo de batalhas”, e o debate, que foi jogado com a expressão economia verde, teve na verdade a intenção de revigorar o desenvolvimento sustentável. A diferença é que a economia verde revela suas  intenções, enquanto o desenvolvimento sustentável as oculta. Então, criou-se uma falsa ideia, inclusive na Cúpula dos Povos, de que se teria de lutar contra a economia verde em favor do desenvolvimento sustentável. Essa é uma grande armadilha, porque o desenvolvimento sustentável, tal como preconizado pela matriz dominante no mundo, é veiculado às políticas do Banco Mundial. Ou seja, afirma explicitamente que só é sustentável aquilo que traz resultado econômico. Então são os resultados econômicos que comandam as políticas de estratégias. O restante é, novamente, política secundária, de assistência social, de mitigação de meio ambiente.
Há ainda uma ofensiva monumental aos bens da natureza com uma intensificação que se chama hoje financeirização, apresentada nesses mecanismos de pagamentos de serviços ambientais, que transferem para o mercado financeiro o controle de vastos territórios na forma de contratos como o REED.
O cenário atual da Amazônia hoje é muito mais grave do que foi no período do estado desenvolvimentista comandado pela ditadura militar. À época, as formas destrutivas eram visíveis; agora, boa parte das formas destrutivas é tornada invisível. O que aparece nos meios de informação do país são notícias a respeito da expansão das queimadas, ou então os impactos de grandes projetos como a hidrelétrica de Belo Monte, a abertura de estradas, a exploração de gás e petróleo. Mas esse conjunto de atividades das quais me referi não aparece nos noticiários.

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Elder Andrade de Paula – Existe a emergência de movimentos que estão lutando contra isso em toda a América Latina. O exemplo emblemático foi o caso de Cochabamba, em 2010, na Bolívia, com ampla participação das comunidades indígenas e camponesas. Foi um dos eventos mais importantes do século XXI, porque se contrapôs ao consenso estabelecido no âmbito da ONU com o dito desenvolvimento sustentável. Ele serve como horizonte maior para nós pensarmos nas lutas de resistência, que não podem se dar isoladamente.

Publicado originalmente no site do Instituto Humanitas Unisinos

sábado, 14 de setembro de 2013

UM TEXTO PARA LER E REFLETIR

As reformas constitucionais necessárias e a crise política


Há cinco reformas necessárias para diminuir o custo do Brasil e voltar o país a ter competitividade, a  saber: a política, a administrativa, a trabalhista, a previdenciária e a do Judiciário. Todas as manifestações dos últimos tempos, em que as pessoas sabem o que não querem, mas não sabem o que querem e, o que pensam querer, não sabem como fazer, são a prova inequívoca de que algo que não vai bem, no governo e no país. A maioria do povo que vai às ruas pede transparência, honestidade no trato da coisa pública e reformas. Abstraio os vândalos, que deveriam ser detidos, de imediato, sendo-lhes aplicada a lei penal vigente. Tanto o governo como o Congresso não perceberam a mensagem ou fingiram não perceber. A presidente  propôs um plebiscito, que o povo não pediu. O Congresso criou uma Comissão de reforma Política sem consultar a sociedade. O resultado esperado foi, nas pesquisas posteriores a estas iniciativas, o repúdio da opinião pública, com idênticos índices de repulsa, antes e após a realização das mesmas. Haverá necessidade de uma reforma administrativa para reduzir o peso da adiposa e esclerosada máquina pública, a começar no âmbito federal. Uma reforma tributária para eliminar a guerra fiscal de estados e municípios, e para simplificar o sistema tributário também seria imprescindível
A Comissão do Senado de que participei - eram 13 especialistas - propôs 12 anteprojetos de emendas constitucionais, leis, complementares, ordinárias e resoluções do Senado que jazem, em berço esplêndido, nos armários do Congresso. E, ainda, de rigor uma reforma trabalhista para nivelar o país às economias mais competitivas do planeta, assim como a reforma previdenciária - já em andamento - para equalizar os cidadãos de primeira categoria (aposentadorias integrais - servidores públicos) e de segunda categoria (cidadãos comuns - 10 salários mínimos no máximo), em patamar que não viesse a implodir o sistema. A reforma do Judiciário é outra medida que se impõe, a começar pela exigência de que todos os assessores de ministros, que auxiliam na elaboração dos votos, sejam concursados para esta função, de preferência juízes . Não deveriam ser escolhidos livremente, algumas vezes sem a qualificação ou sem independência, por pertencerem à Procuradoria da Fazenda Nacional, procuradoria das fazendas estaduais, o que compromete imparcialidade, quando União ou estados  são partes nos processos.
Quanto à reforma política, na Comissão da OAB - São Paulo que presido - e que é constituída pelos seguintes juristas: Alberto Rollo, Alexandre de Moraes, Almino Affonso, André Ramos Tavares, Antônio Carlos Rodrigues do Amaral, Cláudio Lembo, Ney Prado, Paulo de Barros Carvalho e Samantha Meyer Pflug -  estamos estudando a curto prazo, questões como voto distrital, financiamento de campanha, reeleição, número de partidos, coligações, plebiscito ou referendo. E, a longo prazo, bi-cameralismo, parlamentarismo ou presidencialismo. Todas estas matérias exigem reflexão de especialistas  e de governantes e, à evidência, por sua complexidade, não podem ser objeto de plebiscito, no máximo podendo aceitar-se um referendo. O certo, todavia, é que, mais do que as reformas, há necessidade de mudanças na política econômica do país. Ninguém discute ser a presidente Dilma uma mulher honesta e trabalhadora. Todavia, seu estilo autoritário de conduzir o país torna seu Ministério não um Conselho, mas uma grupo de ouvintes de suas ordens. sem nomes de expressão, como nos ministérios do passado, são seus colaboradores comportados executores, que jamais contrariam as determinações da comandante.
Talvez o fato de ter, no passado, participado da luta armada, em movimento que, algumas vezes, assumiu facetas terroristas, com assassinato de inocentes em atentados a bomba em shoppings e supermercados, tenha incutido, no seu estilo de liderança, que, possivelmente, por este seu passado, é que a presidente se sinta tão atraída pelas posturas de seus colegas bolivarianos: o falecido Chávez, Maduro, Morales, Corrêa e Cristina, todos aprendizes de ditadores. Tanto é assim que Dilma permitiu a entrada da Venezuela no Mercosul, apesar de esse país não ter aceito, à época, a totalidade do acervo normativo do Tratado, e excluiu o Paraguai, que na deposição do presidente Lugo, apenas cumpriu o que determinava o artigo 225 de sua Constituição, ou seja, o afastamento por mau desempenho, em processo límpido, claro, com  apoio popular e sem qualquer uso de força, permitindo, inclusive, que o deposto, logo em seguida, concorresse ao Senado.
O governo desse país democrático não sofreu nas ruas de suas principais cidades, grandes contestações por parte da sociedade, nem queda de popularidade, como a presidente Dilma tem experimentado, no Brasil. No Paraguai, não se controla o Judiciário como na Venezuela, que não permite sequer recontagem de votos, numa eleição em que a ínfima diferença de votos a favor do candidato boliviano eleito justificaria que fosse feita, como ocorre nas verdadeiras democracias. O certo é que a presidente Dilma, em virtude de suas simpatias bolivarianas, passou a seguir a política de seus colegas, tornando-se acólito de Cristina, Maduro, Morales e Corrêa. E começa a colher os mesmos frutos, ou seja, baixo PIB (Produto Interno Bruto),alta inflação, descontrole cambial por força da má condução da economia, amarrada pelo Mercosul, impedida de fazer acordos internacionais, aceitando todos os desaforos econômicos de seus parceiros, violadores permanentes das regras do Tratado de Assunção. No seu estilo autoritário,  investiu no consumo e não no desenvolvimento empresarial, gerando inflação de demanda, no momento em que estimulou a baixa de juros. Quando Irving Fischer definiu que a teoria do juro é determinada pela oportunidade de investir contra a impaciência de gastar, quis mostrar que, quando se baixam os juros e se estimula o consumo, a inflação é decorrência. E o mero consumo, sem investimentos em tecnologia e na indústria, tem vida curta.
Não sem razão o retrocesso econômico do Brasil, nestes dois anos e meio do governo Dilma, foi notório, com a agravante de, prisioneira de seus colegas bolivarianos, ter feito o Brasil perder a autonomia e a liberdade na celebração de acordos bilaterais, que lhe permitiriam melhorar não só a performance da balança comercial como, pelo menos, reduzir o dantesco déficit do balanço de pagamentos. No modelo bolivariano, a máquina governamental cresce e sufoca o segmento privado, gerando pressão inflacionária que, segundo Steven Webb, foi o principal fator da hiperinflação da República de Weimar. Ora a única forma de combater a inflação com redução de juros, seria reduzir as despesas de custeio da máquina administrativa, algo  que, no modelo bolivariano, é impossível e, no governo Dilma, inaceitável. Tanto que tem 39 ministérios... Neste quadro - em que o PIB decresce, a inflação cresce, o câmbio se descontrola, a máquina administrativa desperdiça, a balança comercial gera déficits e as contas externas se descompassam, causa espécie que a presidente pretendia manter-se fiel aos ideais dos regimes bolivarianos e continue a não perceber que está levando o país a um fantástico retrocesso, sendo mais conduzida por seus parceiros do Mercosul, do que pelos interesses do Brasil.
Como cidadão que considera a presidente Dilma uma mulher honesta e trabalhadora, gostaria que tivesse ela humildade de raciocinar e, analisando o fracasso de sua política econômica, decidisse definitivamente, liberá-la das amarras ideológicas e passasse a cuidar dos verdadeiros interesses nacionais, que não são, necessariamente, aqueles acalentados pelos seus amigos, aprendizes de ditadores.
            
                E que, para o bem do Brasil, mudasse o rumo de seu governo
Ives Gandra da Silva Martins é jurista  
(Publicado no Jornal do Brasil de 06/08/2013) texto recebido via email
Iracema Alves / Jornalista cadeirante
Colaborador: Wiglinews
        

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

SETEMBRO CHEGOU !


Cante meu coração a sinfonia dos ventos pousa nas árvores frágeis e frondosas, eliminando a poluição deixando transparecer o mais belo verde de seus galhos e folhas. Cante meu coração, os primeiros raios de sol de setembro dão brilho nos altos Edifícios; às pontes que cortam a cidade, a sirenes que buscam saídas do trânsito exorbitante.
Cante meu coração que setembro chegou desabrochando  as flores dos requintados jardins dos palacetes  silenciosos; ruas e avenidas com seus Ipês multicoloridos nos cumprimentam marcando suas presenças. Do outro lado da cidade temos as favelas com suas pequenas janelas portando vasos  de flores que produzem mel, atraindo as abelhas.
Cante meu coração setembro chegou e o riso das crianças, adultos e idosos  disputam espaços para contemplar sua sinfonia. Quando a noite desce os grandes parques da cidade recebem seus hospedes pontuais para caminhadas e confraternizações .
 Cante meu coração foi em setembro, mais precisamente no dia nove, ao regressar do colégio, recebi meu primeiro beijo! Para mim o ano inteiro seria setembro...Cante meu coração,  mas cante bem alto não deixe que eu ouça o pranto de minha alma.
Iracema Alves / jornalista cadeirante
Colaboração Wiglinews

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"NÓS ESTAMOS DEMARCANDO A TERRA COM NOSSO SANGUE", AFIRMA KAIOWÁ GUARANI"


Cerca de 300 indígenas participaram do Aty Guasu, grande reunião Kaiowá e Guarani do Mato Grasso do Sul, entre os dias 22 e 27 de julho de 2013, na aldeia Jaguapiru, município de Dourados. Intitulada “Ñanderu Mo Mbarete”  a assembleia marcou o reencontro de quase uma centena de rezadores e rezadoras indígenas, que há mais de 10 anos não se reuniam. Ao lado de caciques, mulheres, lideranças, professores e trabalhadores da saúde e jovens, os indígenas mais uma vez reafirmaram sua  principal urgência: a demarcação de seus territórios tradicionais.  São terras marcadas pela violência, mas sobretudo, pelas possibilidades de vida traduzida hoje em luta e reencontros com fragmentos culturais longe da poeira dos museus ou livros de história. Os rezadores explicam que não se chama mais de Nanderu e Nandesy - homens e mulheres rezadores, respectivamente. "Redescobrimos uma palavra antiga. Nosso nome agora é Tekoa' ruvixa porque nós damos a vida a "palavra antiga", conta Getúlio Juca, anfitrião do Aty Guasu. 
A espiritualidade dos Guaranis e Kaiowá, portanto é calcada na realidade em que vivem. Entre o reencontro com a "palavra antiga", a troca de cantigas e de experiências, toda a discussão circundava a questão da demarcação das terras indígenas - leia na íntegra a carta dos rezadores e rezadoras do Aty Guasu Nanderu Mo Mbarete.

Aos caciques  e lideranças coube a tarefa de formatar a discussão dos Tekoa'ruvixa em pauta de reivindicações, apresentada à presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). Maria Augusta Assirati. Presente no penúltimo dia do encontro, acompanhadas das coordenadores regionais do órgão no Mato Grosso do Sul, Maria Augusta ouviu críticas severas dos indígenas à morosidade na demarcação das terras Guarani e Kaiowá.

"O ouvido de vocês está cansado. E a gente também esta cansada de falar a mesma coisa", desabafou a professora Léia Aquino, de Nanderu Marangatu. Anos e anos passam e a gente não consegue ver resultado de nada", disse - veja a pauta completa de reivindicações do Aty Guasu Nanderu Mo Mbarete .

Denúncias sobre a falta de professores, salas de aula, merendeiras, agentes de saúde, ambulâncias, combustível, medicamentos, verbas dentistas, politicas públicas para jovens e segurança; ataques de pistoleiros, impunidade nos casos de assassinato, discriminação e preconceito em escolas municipais, desmatamento e envenenamento por agrotóxicos, entre outros, foram relatadas à Funai. "Todos esses problemas acontecem porque não temos a terra. A terra é a nossa vida. É só com elas que vamos começar a melhorar", afirmou Léia. Tudo porém, permeia a falta de acesso ao território e a lentidão dos processos demarcatórios. a presidente Maria Augusta concordou: "...nada de bom pode acontecer se a gente de fato não der acesso", disse aos indígenas. "Só que isso não depende só da Funai. Depende de outros poderes - a começar pelo pode público estadual, pelas pessoas que tem fazendas aqui. {Elas} precisam se abrir pra esta discussão - sem preconceito, sem discriminação, sem achar que o seu próprio direito,o direito dos fazendeiros, é o único direito que existe no mundo. Porque não é", enfatizou.

Apesar de reconhecerem a boa vontade da coordenação federal da Funai, para a nação Guarani, nada de novo foi apresentado pelo órgão indigenista. "Mais um dia eu vejo o sol brilhar, e mais um dia eu vejo as autoridades presentes não trazendo nada para nós, sobre a nossa terra, dizendo: essa área foi identificada. essa área aqui já foi homologada. Ninguém trouxe papel aqui" respondeu Ládio Veron. Para os indígenas, nada mais do que sofrer e não demarcar as terras, os Guaranis e Kaiowá estão perdendo território. "...perdemos para o branco antes, e agora perdemos para a soja, cana, braquiara e boi", compara o indígena Jorge Gomes"Eu não li a Constituição toda, mas onde eu parei de ler, não achei nada escrito que tem que tirar o índio das terras dele, o índio tem direito de retornar novamente pra terras deles". A expectativa dos Guarani e Kaiowá  e de que o governo federal  apresente uma proposta, até o dia 5 de agosto (pp), que dê cabo do conflito fundiário que tem levado milhares de indígenas à miséria no Mato Grosso do Sul. "Nós temos respeitado o acordo com o governo e estamos aguardando num indicativo concreto de que o problema da demarcação de terras realmente apareça até o dia 5 de agosto de 2013", comenta a liderança indígena Otonel Ricardo, do Conselho Continental da Nação Guarani.

Na última semana o Conselho Nacional de Justiça - CNJ apresentou um relatório que sugeriu seis possíveis soluções para o conflito fundiário no Estado. O professor Anastácio Peralta, membro da comissão, relata uma tentativa sorrateira de inclusão de pautas contrárias à posição dos indígenas no documento. "Tentaram  colocar o apoio do Projeto  de Lei complementar 227 no relatório. Não se sabe quem foi, mas foi pelas nossas causas. Isso é um absurdo", afirmou. "nós estamos demarcando a terra com nosso sangue", disse Valdenice Veron à presidente da Funai  ao final do discurso. "não  podemos esperar mais. Não aceitaremos mais outro prazo (além do dia 5).  Nós não vamos recuar. E todo derreamento de sangue Guarani e Kaiowá, de Terena do Mato Grosso do Sul, a Dilma será a maior culpada, conclui.

Fonte: Reportagem de Ruy Sposati (publicada pelo portal do CIMI , em 1/8/2013)

Apresentação de relatório sobre demarcação de terras indígenas é adiada para quarta-feira 04/09 - estaremos monitorando

Iracema Alves / jornalista cadeirante  (estou em plena recuperação de saúde. Obrigada aos amigos.)
Participação de Wiglinews

Entenda demarcações de terras indígenas e conflito com proprietários rurais