Por Isaac Roitman*
O leitor certamente achou estranho o título do artigo. Norucongo é uma nova palavra. Tive o cuidado de verificar no Google. A sua criação foi inspirada na Belíndia, conjunção da Bélgica e Índia, termo popularizado por Edmar Bacha em sua fábula "O Rei da Belíndia. Norucongo é a conjunção de outros dois países, a Noruega e o Congo. O quadrilátero se refere à forma geométrica do Distrito Federal. Este texto é inspirado no documentário Noruega e Congo no centro do Brasil, de Camila Murugussa e Jhady Arana, que utilizaram dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). na excelente obra cinematográfica, é mostrado que temos a Noruega e o Congo dentro do quadrilátero. A Noruega é representada pelo Lago Sul e o Congo pela Cidade Estrutural. A Noruega é o país que apresenta o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); 0,943. O Lago Sul supera o IDH da Noruega; 0,945. Por sua vez, a Cidade Estrutural tem IDH semelhante ao do Congo, país de menor índice do planeta: 0,286.
O IDH é baseado em renda, educação e saúde (expectativa de vida) e foi criado como contraponto ao indicador utilizado até então, o Produto Interno Bruto (PIB), que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. No Lago Sul, a renda "per capita" é de aproximadamente R$ 19 mil reais. Na cidade Estrutural, a renda "per capita" é de R$300 reais e a familiar, de R$ 1.300 reais. No documentário, especialistas - Julio Miragaya (Presidente da Codeplan), Seguei Suarez, Herton Araújo e Marcelo Medeiros (pesquisadores do Ipea) - discutem a extrema desigualdade social do Distrito Federal, que é a maior entre as Unidades Federativas do Brasil. No Lago Sul, 84% dos chefes de domicilio têm curso superior, ao contrário dos baixos níveis de escolaridade da Cidade Estrutural. A grande migração que vem ocorrendo no Distrito Federal e região metropolitana é também um vetor importante para a construção desses cenários tão desiguais entre duas localidades separadas de recursos naturais e sem proporcionar uma educação de qualidade, provavelmente, aumentará o abismo entre ricos e pobres. Sem a reversão desse quadro, as crianças e jovens de famílias de baixa renda não terão oportunidade de terem educação de qualidade.
Assim, não terão oportunidades em um mercado de trabalho justo e serão candidatos a uma vida no mundo da marginalidade. Provavelmente, estamos à b eira da explosão do caldeirão social. O abismo que se alarga entre "os que têm e os que não têm" transformou o relacionamento humano em cenário de conflitos permanentes - étnicos, tribais, religiosos, nacionalistas ou meramente sociais -, enquanto os indivíduos experimentam frustração, alienação e desconforto sem-fim. Os recentes fenômenos sociais (manifestações nas ruas e rolezinhos), que são frutos de mobilização social e da consciência do reconhecimento dos jovens e direitos, expressam a insatisfação dos habitantes das populações marginalizadas e sofridas.
As políticas e instrumentos de inclusão social (Bolsa família, Cotas etc) podem amenizar a situação. Porém, políticas de longo prazos devem ser introduzidas para que essas medidas sejam extintas. O primeiro passo seria proporcionar educação básica de qualidade a todos os jovens brasileiros. Teríamos, assim, uma nova geração com oportunidade de trabalho para uma vida digna e comportamento social com solidariedade e ética. Chegamos a uma encruzilhada na evolução da espécie humana. A ameaça de cairmos numa noiva idade de trevas tornou-se concreta. É importante que tenhamos a consciência de que estamos todos vivendo uma breve viagem no planeta. Nessa viagem, devemos deixar um legado virtuoso para nossos descendentes. Esse esforço de cada um de nós para a extinção do Norucongo no Distrito Federal e no Brasil, deverá ser Missão prioritária.
Agradecimentos: M.R. Assistente Social
Iracema Alves/ jornalista cadeirante por mim digitado em 23/02/2014
Colaboração Wiglinews