Após ser expulso da Polícia Militar do Ceará em janeiro, acusado de distribuir seu livro intitulado "Militarismo, um sistema arcaico de segurança pública", dentro da Academia Estadual de Segurança Pública, o ex-soldado Darlan Menezes Abrantes (foto), 39 anos, voltou a criticar o atual modelo da PM e a militarização da corporação, da qual fazia parte há 13 anos. "Sou a prova viva de que esse sistema de segurança pública é falido" e "cria monstros", declarou, em entrevista ao UOL.
A reportagem é de Carlos Medeiros e Gil Alessi, publicada pelo portal UOL,03/02/2014.
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"Quando eu era da cavalaria, fiz muitas coisas das quais me arrependo. Quando eu chegava em dizia para minha esposa 'nossa, eu sou um monstro!' O treinamento militar é opressivo, e faz com que o policial trate a população como inimigo, e não como aliado", falou. Para ele, a violência e os excessos cometidos pelos policiais nas ruas tem origem na opressão vivida pelos praças (PMs de patente inferior) dentro dos quartéis. "Os oficiais têm poder total sobre os praças. Como uma polícia antidemocrática pode fazer a segurança de uma sociedade democrática? A PM tem uma estrutura medieval". Segundo Abrantes, "durante os treinamentos os superiores ficam dizendo que você não é nada, que você é um parasita.
Lembro que na academia um superior me deu uma folha de papel em branco e disse:' esses são os seus direitos'. Aí quando o policial se forma, já é um pitbull."
Lembro que na academia um superior me deu uma folha de papel em branco e disse:' esses são os seus direitos'. Aí quando o policial se forma, já é um pitbull."
Para ele, o militarismo "serve para as Forças Armadas", e não para segurança interna do país, " É preciso desmilitarizar a corporação e fundi-la como polícia civil. A cada ano, a polícia perde de goleada para o crime organizado, e a solução está na modernização e desmilitarização da força". Procurada pela reportagem, a Secretaria Pública e Defesa Social do Ceará afirmou que à época do ingresso de Abrantes na corporação "a formação de policiais militares se dava pelo extinto Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PM" e que o atual treinamento conta com um programa de formação cidadã, "trabalhando as concepções de cidadania, respeito aos Direitos Humanos e à diversidade étnica e cultural".
Expulsão: a controladoria da PM expulsou Abrantes "com base em vários artigos do Código Disciplinar do Código Penal Militar", de acordo com o tenente-coronel Fernando Albano, porta voz da corporação. "Os atos praticados vão de encontro ao pudor e ao decoro da classe. Só isso que a PM tem a falar", disse ele. A advogada do ex-soldado, Quércia de Andrade Silva, afirma que já recorreu da expulsão e diz acreditar que a decisão possa ser revertida. "Tem outro processo também na auditoria militar, mas que está ainda m fase inicial. Ele será ouvido pela primeira vez em maio. Estamos aguardando a resposta desse recurso para possivelmente recorrer à Justiça", diz Quércia.
Para ler mais:
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
Iracema Alves/ jornalista cadeirante
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