quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Hora de criar trincheiras cidadãs

Passados alguns meses, o que está se passando na conjuntura? Por que as agendas cidadãs não avançam e tudo volta ao seu lugar, como se nada tivesse acontecido, como se a força das mensagens das mobilizações de junho tivessem evaporado"? As perguntas são de Cândido  Grzybowski, sociólogo, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ibase, em artigo publicado por Canal Ibase em 19 de novembro de 2013.
Do ponto de vista da cidadania, as grandes mobilizações e passeatas de junho de 2013 que tomaram as ruas do Brasil, foram um despertar de esperanças. A letargia do país foi sacudida para valer e os poderes constituídos redescobriram que estavam distantes das aspirações mais legitimas por direitos e dignidade, de respeito à cidadania não só em seu poder constituinte como seu poder instituinte, que remete ao direito dos cidadãos de criar, modificar e revogar instituições. Basta é Basta! Foi o que revelaram as ruas. Não dá para atender exigências da Federação Internacional de Futebol - FIFA e as ganâncias de empresas construtoras, gastando bilhões, e não garantir o básico em transportes, educação e saúde, alegando falta de recursos. Também não dá mais para aceitar representantes mais preocupados com seu próprio bolso do que em fazer jus ao mandato que lhes foi dado pelo voto de todos e todas nós. A cidadania levantou a voz, aos gritos, e destampou as contradições que permeiam a nossa jovem democracia.
Mas, passados alguns meses, o que está se passando na conjuntura? Por que as agendas cidadãs não avançam e tudo volta ao seu lugar, como se nada tivesse acontecido, como se a força das mensagens das mobilizações de junho pp. tivessem evaporado? No momento, de certo mesmo só a sensação de muita coisa esta dando errado. Logo entre nós, o país festejado pelos seus avanços da primeira década do século XXI! Parece que a fumaça das explosões cidadãs de junho pp. ficaram no ar e todo mundo foi perdendo um pouco de perspectiva. As próprias mobilizações perderam muito de seu foco e de pontos aglutinadores. Muita gente continuou a se manifestar nas ruas, mas...para onde vai isto tudo? A presença dos "black blocs", no fim das passeatas, degenerou em violência e passou a afastar muita gente destas festas de cidadania e civismo.  A nossa truculenta policia, reprimindo e batendo, redescobriu métodos e leis do tempo da ditadura para investir contra os que ela caracterizou como baderneiros, vândalos, organizações criminosas. Mesmo nas festejadas Unidades de Policia Pacificadora - UPPs do Rio de Janeiro, a policia continua a mesma: força de repressão que é para proteger a gente do asfalto dos pobres favelados que teimam em se dizer parte da cidade e reivindicar o direito de ter direitos.
Aliás, a violência com assassinatos no Brasil voltou a crescer mais do que em países em guerra, mas para nós parece ainda uma expressão de normalidade. Um absurdo em si mesmo, antidemocrático e injustificável. Mas é na arena oficial da politica - as Instituições do Executivo, o Congresso e os partidos, o Judiciário, com uma forte dose de radicalização da mídia das classes dominantes, um monocórdio barulhento ele mesmo - que a fumaça ganhou consistência e a visibilidade da conjuntura ficou quase nula. A gente vê pouca coisa clara no momento. As agendas, que pareciam plantadas na politica, retrocederam a cada dia. Cadê a reforma política, o plebiscito, a mudança de práticas e costumes no processo eleitoral? Não se fala mais e ponto. Nada, absolutamente nada de substantivo para fazer valer o direito instituinte e constituinte da cidadania nas democracias. Tivemos o escândalo da espionagem americana sobre nossas vidas e a louvável indignação da Presidente Dilma. Mas o escândalo da corrupção endêmica nas altas esferas do poder - fora a punição exemplar ao PT e seus aliados - continua um assunto menor. Ou alguém acredita que vai da alguma coisa o tal fundo do metrô para os governadores do PSDB em São Paulo, bem maior do que o mensalão? E qual será o desfecho do fantástico esquema de desvio de recursos públicos na Prefeitura de São Paulo?  Ou o sumiço dos recursos da reconstrução na Serra, no nosso Rio de Janeiro? 
Seguindo nesta vala obscura das ligações clandestinas para desvio de recursos públicos, o que dizer dos super salários no setor público, praticados com o maior escarnio, à revelia da lei, como se direitos fossem? Dá para juntar muito mais explosões e fogos por aí que estão causando muita fumaça e ruído e deixando turvo o horizonte politico. lembro aqui o ameaçador Código de Mineração, a confusão dos leilões (pré-sal, aeroportos, rodovias...) e das parcerias publico-privadas, o voto secreto no Congresso, a demolição do Elevado da Perimetral (por que e para quem?), o embaralhamento do processo eleitoral do ano que vem. A lista é longa, infelizmente. Mas, como titulares de cidadania, devemos resistir e tentar entender. Criar "trincheiras" cidadãs para "guerras de posição", como lembra o genial Gramsci se referindo a Karl Max pelo seu amplo e sereno cérebro - é condição incontornável para amanhã poder se mover e avançar. No Ibase, estamos praticando os "conversatórios" que são nada mais e nada menos do que a prática do livre pensar da conjuntura politica. De tanto debater, uns e umas ajudando outros e outras, vamos acabar vendo melhor e saber onde incidir. temos o ano de 2014 no horizonte próximo, muito desafiante. nada como estar entrincheirados e preparados para o que der e vier. Afinal, optamos por radicalizar a democracia e "quem sabe faz a hora , não espera acontecer" 
   
Iracema Alves/ jornalista cadeirante digitou em 21/11/2013
Participação Wiglinews

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