sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Febrasgo e CFM recomendam ácido fólico para as gestantes

Saúde da mulher e da criança: CFM recomenda o uso de ácido fólico para gestantes


A ingestão de 400 microgramas ao dia pode reduzir em até 75% riscos de complicações para o feto. No entanto, há indícios de que a substância – de baixo custo – não é encontrada na formulação ideal nos postos de saúde e farmácias populares e nem tem sido acrescida em produtos industrializados, como prevê recomendação da Anvisa
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O Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou recomendação orientando as mulheres a usarem o ácido fólico antes da concepção e nos três primeiros meses da gravidez. A medida atende solicitação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). A ingestão dessa vitamina pode reduzir em até 75% o risco de má formação no tubo neural do feto, o que previne casos de anencefalia, paralisia de membros inferiores, incontinência urinária e intestinal nos bebês, além de diferentes graus de retardo mental e de dificuldades de aprendizagem escolar.


Para estimular a ingestão da substância, o CFM – em parceria com a Febrasgo – enviará o alerta sobre a importância de consumir ácido fólico para todos os 400 mil médicos brasileiros. Espera-se também que a própria divulgação da recomendação pela imprensa estimule as pacientes a solicitarem a prescrição dessa vitamina.
Além de se destinar às mulheres, para que usem o ácido fólico na indicação recomendada, a recomendação do CFM também se destina aos médicos, para que falem com suas pacientes sobre a necessidade do suplemento. O Conselho também solicitará aos órgãos públicos desenvolvam programas mais abrangentes de fortificações de alimentos e maior vigilância no seguimento desses programas”, ressaltou o conselheiro José Hiran Gallo, diretor do CFM e relator da recomendação.
Outra providência será pedir aos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) que disponibilizem a fórmula nos postos de saúde e nas farmácias populares. Desde 2006, a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) recomenda a dose de 0,4 a 0,8 mg/ dia (400 a 800 microgramas) e para fornecer esta dose ele prepara uma formulação com 0,2 md/ml (200 microgramas/ml).No entanto, de acordo com especialistas da Febrasgo, na maioria dos postos de saúde e de farmácias populares essa medicação orientada pela Rename não está disponível para as pacientes. Elas encontram outra composição com uma dose de 5 mg (5000 microgramas), 10 vezes superior àquela recomendada.
O presidente da Comissão de Perinatologia da Febrasgo, Eduardo Fonseca, explica que a superdosagem pode levar a efeitos adversos. Há estudos que levantam a suspeita de o uso prolongado de ácido fólico em dosagens superiores às recomendadas pode estar associado ao câncer de mama. Outro problema é que esse consumo em excesso também pode comprometer o crescimento do feto, com o nascimento de bebês com peso abaixo do normal. Os consensos científicos consagrados até o momento determinam que há na segurança da dose de 400 microgramas ao dia.
Febrasgo recomenda que as mulheres consumam uma suplementação de 400 microgramas de ácido fólico por dia um mês antes da gravidez e durante os três primeiros meses de gestação. O problema é que poucas mulheres usam o suplemento.  Além da falta do suplemento na rede pública, a desinformação também tem levado as mulheres a não fazerem uso do ácido fólico.
Levantamento feito por Eduardo Fonseca, que também é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com 494 mulheres (entre usuárias de planos de saúde e do SUS) mostrou que 58% (286) delas engravidaram sem planejar e só 13,8% (68) receberam orientação e usaram ácido fólico no período. Outra constatação preocupante: somente 3,8% tomaram o suplemento na dose recomendada: 400 microgramas por dia. (Folic acid for the prevention of neural tube defects)
Os dados demonstram que as mulheres não conhecem os efeitos do ácido fólico. Quase 90% delas engravidaram sem utilizar a suplementação necessária. E não dá para dependermos apenas da alimentação”, diz o professor da UFPB. Mas não são apenas estes os problemas que médicos e pacientes enfrentam para que a prevenção pelo consumo do ácido fólico se materialize.
Em 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a adição de 4,2 mg de ferro e de 150 mg de ácido fólico para cada 100 g de farinha de trigo e de milho. No entanto, estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - CONSUMO DAS FARINHAS DE TRIGO E MILHO FORTIFICADAS COM ÁCIDO FÓLICO SOBRE O STATUS ORGÂNICO DO FOLATO DE MULHERES EM IDADE REPRODUTIVA - comprovou que esse acréscimo não tem sido suficiente para evitar a má formação do tubo neural dos fetos. “Isso ocorre, na minha avaliação, porque a indústria não está fazendo a adição do suplemento na dosagem correta e o governo não está fiscalizando”, avalia Eduardo Fonseca.
O ácido fólico é uma vitamina do complexo B que atua no processo de multiplicação das células e na formação de proteínas estruturais da hemoglobina. Sua forma natural, o folato, pode ser encontrada em vegetais de folhas verde escuras, como couve, brócolis e espinafre, mas ele é mal absorvido pelo organismo. Por isso, a forma sintética (ácido fólico) é a alternativa mais eficaz e prática para a mulher.
O tubo neural é a estrutura que dará origem ao sistema nervoso central do bebê, incluindo cérebro e coluna. Sua formação ocorre entre o 17.º e o 30.º dia após a concepção. Atualmente, uma em 1.000 crianças nasce, no Brasil, com algum problema no tubo neural. Os mais comuns são espinha bífida (exposição dos nervos da medula espinhal) e anencefalia. O uso do ácido fólico ao menos 30 dias antes do início da gestação, continuando até o terceiro mês, reduz em cerca de 75% a ocorrência dos defeitos de fechamento do tubo neural (a região do embrião que vai dar origem ao sistema nervoso central).

Editoria de arte/folhapress - Folha de São Paulo / 30/08/2012

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