segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A PETROBRAS OU A JUSTIÇA A PAULO FRANCIS, AINDA QUE TARDIA

IN MEMORIAM
Por Maristela Basso*

Paulo Francis morreu em fevereiro de 1997, em Nova Iorque, de infarto fulminante do miocárdio, cansado, em boa parte, pelo desgosto e sentimento de injustiça que corroeu sua alma e seu coração, e nos privou do cara mais chato e irremediavelmente brilhante e encantador que o Brasil já teve. Paulo Francis estava sob enorme pressão resultante de um processo judicial ardilosamente proposto contra ele nos Estados Unidos por suposta calúnia contra a Petrobras. 


Pouco antes, no Programa de TV a cabo do qual participava, o Manhattan Connection, transmitido pelo GNT, à época, Paulo Francis sugeriu a privatização da Petrobras e chamou a atenção para o fato de que seus diretores desviavam dinheiro para contas na Suíça, era preciso investigar. Contudo Francis não tinha provas. Jornalistas geralmente não tem provas, porém honram sua fontes em geral secretas. (grifos meus). Elas dizem o que sabem, vivem e vêem, e por temerem por suas vidas preferem ficar no anonimato. Nesses casos estamos diante das chamadas "provas diabólicas": excessivamente difíceis de serem produzidas. A credibilidade de Francis e a solidez do Programa deveriam ser suficientes para dar sustentação à denúncia e justificar a investigação no Brasil. O que ocorreu, e tivemos que esperar até muito recentemente para que os mandos de desmandos da Petrobras começassem a ser investigados.
Após a denúncia de Paulo Francis, sete diretores da Petrobras, liderados pelo então Presidente Joel Rennó**, decidiram cobrar reparação judicial pelo suposto dano moral resultante da calúnia que alegaram ter sofrido e, para tanto, buscaram o Poder judiciário dos Estados Unidos, conhecido pela receptividade desse tipo de ação e por fixar indenizações milionárias. Os diretores da estatal fizeram o que em Direito e chama de "fórum shopping", isto é, recorrer ao judiciário de um país cuja legislação é mais favorável e as decisões dos tribunais mais palatáveis  ao caso que se pretende ver julgado. E assim foi. A Justiça americana mandou Paulo Francis indenizar os diretores em 100 milhões de dólares, mas as custas e honorários. Muitos brasileiros ilustres, bateram  na porta do Presidente Joel Rennó para que desistisse de cobrar de Francis - que não tinha os meios necessários. Francis, em seu calvário melancólico pós-sentença, começou por transferir sua dor moral para uma simples bursite e desta migrou, definitivamente, para uma bomba no seu coração. Lá se foi a figura agridoce mais extraordinária de todos os tempos e um "gentleman" como não se viu mais. E como seguir agora sabendo que era tudo verdade? E, pior: a roubalheira era muito maior e que não tão poucos por tanto tempo roubaram tudo que podiam.
Paulo Francis merece ter sua memória recomposta. Se não lhe fazer justiça estamos fadados e nos igualar aos seus algozes. É o mínimo que podemos fazer por ele. Para tanto é preciso que seus herdeiros e sucessores voltem ao Poder Judiciário americano com uma ação de recuperação da imagem e erro judicial - frente às provas de que dispomos agora. É preciso responsabilizar a Justiça americana da morte de Francis, haja vista que nenhuma sentença pode ser proferida sabendo-se que o condenado não teria os meios de pagar - e que seu cumprimento o levaria à ruína. É preciso que a Justiça americana reconheça que foi usada como "fórum shopping" por litigantes de má-fé que deveriam ter ingressado com a ação na Justiça da cidade do Rio de Janeiro, sede da rede Globo de televisão, responsável pelo programa "Manhattan Connection", e local onde os diretores da Petrobras viram e sentiram os efeitos e prejuízos (se é que houve) do que foi dito por Francis. A Rede Globo pode tomar essa iniciativa, afinal de contas o Programa era dela. Errou a Justiça americana. Deixou-se usar á época. Mas os tempos mudaram de lá e cá.
Não há o que se preocupar com a prescrição. Esta não atinge a nova demanda nos EUA por justiça a Francis. Fatos novos apareceram e com eles um mar de provas. Sem falar que crimes contra os direitos humanos não prescrevem e aqueles do colarinho branco abrem um corredor direto para a prisão nos Estados Unidos. Entretanto, até que isso aconteça, fica a sugestão de buscarmos consolo em uma discreta risada (mesmo que ninguém veja) em homenagem a Paulo Francis, pois ele tinha razão.

* Maristela Basso é Professora de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco) 

* Joel Mendes Rennó, graduou-se em engenharia pela Universidade Federal de Itajubá. Ocupou o cargo de presidente da Petrobras durante os dois anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Foi a segunda mais longeva gestão da Petrobras, ficando atrás apenas da de José Sérgio Gabrielli de Azevedo. Foi presidente da Companhia Vale do Rio Doce.

Fonte: JUSTIFICANDO
Digitado por Iracema Alves - jornalista Cadeirante. em 01/12/2014 às 13;28 horas

Um comentário:

  1. Lamento mas não me arrependo de publicar IM MEMERIAM sobre Paulo Francis com os
    dois sérios erros cometidos. Sua data de Falecimento foi em 1997; José Sérgio Gabrilli
    foi um dos mais antigos presidente da Petrobras (ler a penúltima linha do texto). Tentei
    tirar a matéria do ar mas não consegui. Pedi, humildemente, ajuda - nenhuma! Resumo
    da ópera; assumi meus erros e estender a mão quem necessitar. Bjs.
    LIVRE PARA VOAR

    ResponderExcluir