sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A INCRÍVEL AMEAÇA DA UNASUL

Como se o Brasil fosse uma república bananeira, sem instituições democráticas sólidas e vulnerável a conspiratas e golpes cucarachos,  e secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Ernesto Samper, declarou que a entidade respalda a presidente Dilma Rousseff e que pode expulsar o País da organização caso o Congresso decida pelo impeachment sem que haja uma "causa criminal". Samper esteve no Brasil no último dia 13/10/2015 e reuniu-se com Dilma no Planalto. Saiu do encontro dizendo-se convicto de que Dilma é uma "pessoa honesta" e que foi "eleita constitucionalmente", razão pela qual a Unasul espera "que todos os temas políticos sejam tratados dentro do Congresso em respeito à Constituição e em respeito às normas universais sobre o direito de defesa".  
A declaração de Samper sugere que o eventual impeachment de Dilma está sendo urdido em desrespeito à Constituição - ou seja, insinuou que há um golpe em curso no Brasil. É exatamente esse o discurso da própria Dilma, que nos últimos dias tem tratado as articulações políticas contra ela no Congresso como se constituíssem a semente de um "golpe à paraguaia."  A tramoia, segundo o raciocínio  de Dilma, agora respaldado por Samper, visa a explorar as brechas do Congresso e fragilidade da base governista para arquitetar a queda da petista, inventado pretextos supostamente chancelados pela Constituição. Dilma acredita que foi uma operação desse tipo que em 2012 selou a sorte do então presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que sofreu impeachment após um processo que durou pouco mais que 24 horas.
Embora nenhuma Lei Paraguaia tenha sido violada no caso, Dilma e sua colega argentina, Cristina Kirchner, denunciaram o "golpe" e articularam a a suspensão do Paraguai do Mercosul. Agora conforme ameaçou Samper, é o Brasil que corre o risco de ser punido. O colombiano  disse ao jornal Valor que "existe um cláusula  democrática que prevê que a Unasul deve intervir para evitar que, de uma maneira brusca, se altere a ordem constitucional. É evidente que Samper não fala por si nem pela Unasul. Ele fala por Dilma, que certamente quer usar a ameaça diplomática vocalizada pelo secretário-geral da Unasul como mais um argumento a favor da manutenção de seu mandato.
A Unasul é um dos grandes símbolos da temporada burlesca que testemunhou a ascensão simultânea do lulopetismo, do chavismo e do kirchnerismo na América Latina. Nasceu com a tarefa de  defender os regimes bolivianos contra todas as tentativas de denunciar o retrocesso democrático que eles representavam. Envernizada como instituição "democrática", a Unasul nada mais é do que um instrumento dos autocratas que pretendem se perpetuar no poder na Venezuela, no  Equador e em outros cantos latino-americanos. Enquanto a Unasul se sentiu na obrigação de advertir a oposição brasileira de que o País pode sofrer consequências diplomáticas se o processo de impeachment for adiante, nenhuma palavra foi dita pelo bloco a respeito das inúmeras violências cometidas pelo governo da Venezuela contra os adversários do regime.
As portas de uma eleição legislativa que, de acordo com todas as pesquisas, deve resultar em acachapante derrota do presidente Nicolás Maduro, é para que não haja testemunhas, Maduro proibiu que a campanha Eleitoras e a votação de 6 de dezembro sejam acompanhadas por observadores independentes. Somente os delegados da Unasul, totalmente submissos aos interesses chavistas, estão autorizados a verificar a lisura do pleito. Diante desse histórico, não surpreende que Dilma se agarre à Unasul para tentar conferir a defesa do seu mandato um caráter transcendental. Mas na remotíssima hipótese de que a ameaça se cumpra e o Brasil  venha a ser excluído da Unasul em razão da eventual destituição de Dilma, pode se dizer, conforme apropriada expressão popular, que o Brasil terá matado dois coelhos com uma paulada.
Fonte: A incrível ameaça da Unasul - Geral - Estadão postado em 16/10/2015 
Iracema Alves
Jornalista Cadeirante

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