terça-feira, 16 de agosto de 2016

O RISCO DE DISRUPÇÃO NA ESTRATÉGICA DE ANIQUILAR O PT

 
 
 
 
 
"Além de tirar o PT do poder, os grupos mais conservadores querem banir o partido e tudo que ele representa. Cabe a reflexão do que ocorrerá no Brasil heterogêneo e desigual caso não haja um substituto à altura que, como a sigla, proponha apenas remédios e ajustes para maior justiça social e menor desequilíbrio  econômico" O comentário é de Róber Iturriet Avila, doutor em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, em artigo publicado por Brasil Debate, em 10/08/2016. A data será atualizada ( grifos meus.)
 
Desde 2013 o Brasil vive momentos de tensão politica e social. Indubitavelmente, o resultado desse processo foi uma derrota politica retumbante do governo de Dilma Rousseff, do seu partido, o PT e da esquerda brasileira de uma maneira geral. Essa alteração é complexa e envolve uma miríade de variáveis , as quais podem ser categorizadas com profundidade. Análise essa que escapa dos objetivos deste pequeno texto. entretanto, é possível observar que houve uma derrota no campo de ideias e no imaginário da "opinião pública", simbolicamente direcionada ao PT. De forma  mais abrangente, é possível dizer que a esquerda brasileira perdeu corações e mentes no período recente. A despeito de seus enorme erros na condução do partido e dos governos, a transformação que se deu foi paulatinamente construída  pelos conservadores. As ideias antagônicas foram constantemente plantada, de maneira nítida a quem consegue enxergar além das obviedades: seja na mídia tradicional, seja nos partidos, seja no enfoque pontual de problemas estruturais. É do jogo. A disputa de ideias e de versões é constante em qualquer sociedade minimamente sadia e organizada. 
 
As disputas entre os "progressistas" e "conservadores" não conformam uma especificidade do nosso tempo e tampouco do Brasil. O PT apenas encabeçou um grupo que possui alguma articulação desde o PTB, pelo menos. Podemos chamar esse segmento de "centro-esquerda", com enraizamento em setores populares. Quer dizer, não são grupos políticos e sociais que buscam acabar com o capitalismo, mas compreendem que existem distorções históricas e mesmo do próprio sistema que requerem interferências de politicas públicas e, portanto, do Estado. No campo econômico, particularmente, tais grupos partem da visão de que é preciso correções na distribuição porque o livre mercado tende a concentrar a renda e a riqueza. Seja porque uns capitais são maiores do que os outros, seja porque há assimetria na relação capital-trabalho, seja porque os Países estão em estágios distintos de acúmulo de capital e, por consequência, de inserção tecnológica. No caso do PT, ao longo dos últimos governos, houve uma identificação de grupos populares com as politicas implementadas, com as de transferência direta de renda, elevação do salário mínimo em termos mais reais e políticos de acesso à educação superior.
 
 Sejam esses grupos mais ou menos conscientes disto, os 13 anos de governo do "PT"  proporcionaram uma inclusão social nunca ocorrida no Brasil. Ao redor do mundo, há segmentos mais à direita que também patrocinam tais politicas. Não por acaso, desde o século XIX, traços social democratas nasciam na direita e no conservadorismo, o caso alemão é icônico. remediar os pobres e ampliar direitos sociais, trabalhistas e civis era uma forma de garantir  a estabilidade social em um sistema que reproduz cronicamente a desigualdade. Sob outra perspectiva, pode-se dizer que dominar grupos sociais exige sacrifício. Aqueles que exercem o poder precisam de consentimento dos dominados. A dominação não ocorre mais através da força bruta, como era nas sociedades mais primitivas. Os dominados precisam se sentir beneficiados com o sistema para que haja estabilidade. Coloquialmente, esta ideia está na analogia de entregar alguns anéis e preservar os dedos. Contudo, no caso brasileiro, os grupos políticos que emergem ao poder não parecem ter tais intenções. Os sinais autoritários são claros. na proibição de protestos nos estádios, na tentativa de restringir o pensamento crítico que contesta a ordem social posta (sob o rótulo de "escola sem partido"), na constante tentativa de criminalizar e desqualificar a esquerda, seus representantes políticos e intelectuais.
 
 
Além de tirar o PT do poder, os grupos mais conservadores querem aniquilar com o partido e com tudo o que ele representa. o Ministro do STF Gilmar Mendes chegou a ensaiar um pedido de cassação do partido, tal qual ocorreu com os "comunistas" após o golpe de 1964. Eles não querem adversários que contestem seu poder, sua ordem e o modos operandi na terra Brasilis. Suas intenções no campo de organização são igualmente claras: privatizações, perda de direitos sociais e trabalhista, enxugamento das politicas públicas como a saúde, educação e a assistência social, redução de salários, congelamento de gastos e sepultamento da Constituição de 1988. A derrota do PT parece irreversível. É bastante provável que haja uma disputa nas esquerdas pelo seu espólio, ou mesmo internamente,  caso o partido sobreviva. Cabe a reflexão, entretanto, do que ocorrerá caso o partido seja banido e não haja um substituto à altura. Ora, o partido nunca foi revolucionário e sempre esteve de acordo com a ordem posta, ele propõe apenas remédios e ajustes para que haja maior justiça social e menor desequilíbrio econômico. Sem esse campo politico, sob o nome de "PT" ou sob outro agrupamento, a possibilidade de  conciliação é mais difícil.
 
O Brasil é um Pais bastante heterogêneo, desigual, com um passivo social de 388 anos de escravidão, com periferias imensas nas principais Capitais. É preciso ter em mente que 50% da população recebe menos de R$1.300,00 reais!!!Na derruba recente, os grupos populares não saíram em massa às ruas para defender o governo, possivelmente por insatisfações diversas, já sentindo os efeitos do austericídio de 2015. A partir do momento em que esses grupos sentirem na pele o que representa o aniquilamento da esquerda e sem uma direita consciente de que é preciso atender aos dominados, os riscos de disfunção social não pequenos. Indaga-se o caminho escolhido pela elite brasileira de destruir seus adversários é mesmo inteligente. Aniquilar a voz e os direitos dos dominados pode ter efeitos deletério sobre os interesses de quem executa essas articulações
 
Fonte: Instituto Humanitas Unissinos - nossos agradecimentos
 
"A imaginação, muitas vezes, conduz-nos a mundos a que nunca iremos a nenhum lugar"
   Carl Sagan
  
 Iracema Alves
 Jornalista cadeirante.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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