O ALERTA DO BANCO CENTRAL
Fundamental para o controle da inflação, para a segurança das decisões e para o crescimento econômico, a politica monetária hoje confronta um risco muito especial, a incerteza quanto à evolução do quadro politico. A inflação continua em queda e as projeções ainda apontam, para este e para o próximo ano, aumento de preços muito próximos da meta de 4,5% e até abaixo desse ponto, mas as decisões sobre juros podem torna-se bem mais complicadas do que têm sido desde o fim do ano passado. A complicação principal está associada a um fator pouco lembrado na maior parte das discussões entre economistas do mercado, investidores e empresários: os juros estruturais.
Essa expressão, um tanto misteriosa para a maioria do público, tem aparecido com frequência, há alguns meses, nas comunicações do Banco Central (BC) e em declarações de seus dirigentes. Há algo novo e importante nessa insistência. A expressão taxa de juros estrutural aparece várias vezes no Relatório de Inflação divulgado, ontem dia 23 de Junho. Com circulação trimestral, o relatório contém um resumo das condições e das perspectivas econômicas internas, externas e fornece algumas pistas sobre a evolução provável da politica monetária .
A nova edição realça um ponto já destacado na ata da última reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom): as decisões sobre juros dependerão, como sempre, das projeções e expectativas de inflação, da atividade econômica, balanço de riscos, "mas também das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira". A taxa estrutural é aquela compatível com um rumo de crescimento econômico sustentável, isto é, realizável sem pressões inflacionárias. A insegurança quanto "a evolução do processo de reformas e ajustes necessários à economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa estrutural de juros é um componente real do cenário e econômico
É um limite objetivo, assim como as condições do tempo, a capacidade instalada ou o poder de competição internacional das empresas. É um dado difícil estimar e, além disso, varia de acordo com as circunstâncias. Mas é necessário levá-lo em conta nas decisões sobre o custo do dinheiro. Cortar os juros de forma voluntária, como se fez por exemplo, entre agosto de 2011 e abril de 2013, é uma violação desse limite. O fracasso dessa politica prejudicou severamente a imagem da autoridade monetária, só restaurada, muito lentamente, quando a taxa básica de juros e Selic, voltou a subir. A correção do erro foi penosa, até porque a deterioração das contas publicas tornou mais complicado o controle da inflação.
A taxa 14,35%, em vigou até 2016, foi uma das consequências. Necessário para conter a inflação , esse aperto foi uma das causas da longa e dolorosa contração da atividade entre 2014 e 2016. O limite representado pela taxa estrutural de juros condiciona, além do ritmo sustentável de crescimento, o custo de financiamento do Tesouro. O Copom fracassará duplamente, sempre quando cortar os juros básicos de forma voluntarista. Em primeiro lugar, dará oxigênio à fogueira da inflação. Em segundo, será rejeitado, na prática, pelos compradores de títulos públicos.
Ninguém financiará a gastança governamental a juros irrealistas para atender às determinações da autoridade monetária. Batalhar pela redução efetiva dos juros estruturais é hoje uma das principais tarefas do governo. Conduzido principalmente pelos Ministérios Econômicos e pelo (BC), esse trabalho inclui tanto o ajuste e a reestruturação das finanças publicas como o controle eficiente da inflação. Os efeitos positivos aparecerão na contenção e no barateamento da dívida pública e também na
segurança proporcionada pela estabilidade de preços. Ao tornar incerto o comprimento da agenda de ajustes e reformas, a insegurança politica pode comprometer esse esforço, travando o crescimento e a criação de empregos. É essa a mensagem do (BC) ao insistir no tema dos juros estruturais.
REDAÇÃO:
Iracema Alves
Jornalista cadeirante
"Aprenda a buscar a felicidade limitando os meus desejos; em vez de satisfaze-los" (...)
Stuart Milli
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