Estou
com medo de que as crianças me chamem de mentiroso. Pois eu disse que o
negócio dos professores é ensinar a felicidade. Acontece que eu não
conheço nenhuma criança que concorde com isto. Se elas já tivessem
aprendido as lições da política, me acusariam de porta voz da classe
dominante. Pois, como todos sabem, mas ninguém tem coragem de dizer,
toda escola tem uma classe dominante e uma classe dominada: a primeira,
formada por professores e administradores, e que detém o monopólio do
saber, e a segunda, formada pelos alunos, que detém o monopólio da
ignorância, e que deve submeter o seu comportamento e o seu pensamento
aos seus superiores, se desejam passar de ano.
Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças e os seus rostos
cheios de ansiedade para compreender que a escola lhes traz sofrimento. O
meu palpite é que, se se fizer uma pesquisa entre as crianças e os
adolescentes sobre as suas experiências de alegria na escola, eles terão
muito que falar sobre a amizade e o companheirismo entre eles, mas
pouquíssimas serão as referências à alegria de estudar, compreender e
aprender.
A classe dominante argumentará que o testemunho dos alunos não deve
ser levado em consideração. Eles não sabem, ainda… Quem sabe são os
professores e os administradores.
Acontece que as crianças não estão sozinhas neste julgamento. Eu
mesmo só me lembro com alegria de dois professores dos meus tempos de
grupo, ginásio e científico. A primeira, uma gorda e maternal senhora,
professora do curso de admissão, tratava-nos a todos como filhos. Com
ela era como se todos fôssemos uma grande família. O outro, professor de
Literatura, foi a primeira pessoa a me introduzir nas delícias da
leitura. Ele falava sobre os grandes clássicos com tal amor que deles
nunca pude me esquecer. Quanto aos outros, a minha impressão era a de
que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por
um saber cujas finalidade e utilidade nunca se deram ao trabalho de nos
explicar. Compreende-se, portanto, que entre as nossas maiores alegrias
estava a notícia de que o professor estava doente e não poderia dar a
aula. E até mesmo uma dor de barriga ou um resfriado era motivo de
alegria, quando a doença nos dava uma desculpa aceitável para não ir à
escola.
Não me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. O
que aprendi foi fora dela e contra ela. Jorge Luís Borges passou por
experiência semelhante. Declarou que estudou a vida inteira, menos nos
anos em que esteve na escola. Era, de fato, difícil amar as disciplinas
representadas por rostos e vozes que não queriam ser amados.
Esta situação, ao que parece, tem sido a norma, tanto que e assim que
aparece freqüentemente relatada na literatura. Romain Rolland conta a
experiência de um aluno: “… afinal de contas, não entender nada já é um
hábito. Três quartas partes do que se diz e do que me fazem escrever na
escola: a gramática, ciências, a moral e mais um terço das palavras que
leio, que me ditam, que eu mesmo emprego – eu não sei o que elas querem
dizer. Já observei que em minhas redações as que eu menos compreendo são
as que levam mais chances de ser classificadas em primeiro lugar”. Mas
nem precisaríamos ler Romain Rolland: bastaria ler os textos que os
nossos filhos têm de ler e aprender. Concordo com Paul Goodmann na sua
afirmação de que a maioria dos estudantes nos colégios e universidades
não desejam estar lá.
Estão lá porque são obrigados.
Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já
foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um
adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que
ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parecem ter com sua
vida?
Compreende-se que, com o passar do tempo a inteligência se encolha
por medo e horror diante dos desafios intelectuais., e que o aluno passe
a se considerar como um burro. Quando a verdade é outra: a sua
inteligência foi intimidada pelos professores e, por isto, ficou
paralisada.
Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a
aprendizagem e, a partir dos seus resultados, classificam os alunos. Mas
ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos estudantes – mesmo
porque não há métodos objetivos para tal. Porque a alegria é uma
condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de
pensamentos e sentimentos. A educação, fascinada pelo conhecimento do
mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que
jaz adormecido em cada estudante. Daí o paradoxo com que sempre nos
defrontamos: quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. T. S. Eliot
fazia esta terrível pergunta, que deveria ser motivo de meditação para
todos os professores: “Onde está a sabedoria que perdemos no
conhecimento?”
Vai aqui este pedido aos professores, pedido de alguém que sofre ao
ver o rosto aflito das crianças, dos adolescentes: lembrem-se de que
vocês são pastores da alegria, e que a sua responsabilidade primeira é
definida por um rosto que lhes faz um pedido: “Por favor, me ajude a ser
feliz…”
Realmente nosso povo é passivo e, os governos de todas as áreas, se elegem às nossas custas sem um programa estabelecido. Exemplo: priorizar a Educação; ou
ResponderExcluiro transporte digno seja metrô ou ônibus; a segurança da população através de uma Polícia atuante e bem equipada, ferrovias rasgando o Brasil Continental facilitando nossas exportações. Sem escola e professores capacitados e bem pagos é o mesmo que jogar a água do banho com a criança dentro.