quarta-feira, 8 de abril de 2015

A ELETROBRÁS, OUTRA VÍTIMA

 1ª Parte
O Estado de S. Paulo
06/04/2015/ 02h02
Se não fossem os governos com inclinação neoliberal, seria possível suspeitar de um plano perverso para desmoralizar e arrasar as maiores estatais do País, a Petrobrás e a Eletrobrás. A primeira, aparelhada e saqueada por muitos anos, chega ao fim de março de 2015 sem ter fechado balanço do terceiro trimestre de 2014. A outra publicou na semana passada o balanço, relatando prejuízo pelo terceiro exercício consecutivo. Ninguém jamais chamou de neoliberal, ou mesmo de simpatizante, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem sua sucessora Dilma Rousseff, agora no segundo mandato. Não se suspeita, portanto, de uma política orientada por um plano de redução das atribuições e da intervenção do Estado na economia, como aquela conduzida pela primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
A explicação deve estar em outros fatores, alguns políticos, como a confusão entre partido e Estado, outros mais prosaicos,  com a incompetência administrativa exibida nos últimos quatro anos com requintes de virtuosismo. Essa incompetência é visível, por exemplo,  nas perdas impostas à Petrobrás e às empresas do setor elétrico pelo controle de preços, numa tentativa tosca de representar a inflação. Empresas do setor elétrico - e este é igualmente o caso da Petrobrás - foram prejudicadas também pela decisão imprudente de antecipar a renovação das concessões. nem todas aceitaram, mas um grupo controlado pela União teria de se sujeitar a um capricho do governo.
A Eletrobrás fechou o balanço de 2014 com prejuízo de R$ 3,03 bilhões. O Obtido (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também ficou negativo em R$ 179 milhões. Mas a Companhia apontou uma evolução positiva: o prejuízo foi 51% menor que o ano anterior, R$ 6,29 bilhões. As perdas, segundo o relatório, foram causadas principalmente pelo custo da energia comprada para revenda, pela provisão para contingências judiciais e pela baixa de crédito fiscal. O aumento do custo da energia obviamente só resultou em prejuízo porque foi impossível o repasse aos compradores finais. As tarifas voltaram a subir no ano passado, mas em ritmo insuficiente para compensar a variação de custos.
Ao apresentar o balança de 2013, em março do ano passado, a direção da empresa  chamou a atenção para a melhora do resultado: o prejuízo havia sido de 8,6% menor que o de 2012. Para o ano seguinte, a empresa era retornar em azul. "Todos os nossos estudos", disse na ocasião  o presidente da companhia, José da Costa Carvalho Neto, "indicam que em 2014 a Eletrobrás deve ter lucro". Os fatos desmentiram essas  projeções. Em relação às tarifas, o governo cometeu pelo menos quatro erros. O primeiro foi tentar maquiar as pressões inflacionárias, sem levar em conta a necessidade de uma correção, quase sempre muito custosa. O segundo erro foi enviar um sinal errado aos consumidores. A redução dos preços estimulou o consumo numa fase de aumento de custos. O terceiro erro foi prejudicar o fluxo de caixa e a lucratividade das empresas, dificultado a realização de investimentos e a expansão da capacidade instalada. O quarto foi menosprezar o efeito fiscal dessa política: o "Tesouro seria forçado a socorrer várias empresas e a endividar-se para isso. 

Raramente um governo, mesmo de reconhecida incompetência, incorre em tantos equívocos, criando problemas para as estatais, para o setor privado (prejudicado pela insuficiência de investimentos ) e para si mesmo, por causa das consequências fiscais e do impacto da correção dos preços. Esses erros combinam com outros equívocos acumulados nos últimos anos e refletidos na estagnação econômica. O segmento de produção e de distribuição de eletricidade, gás e água recuou 2,6% no ano passado, depois de haver avançado apenas 0,4% em 2013. A primeira-ministra Margaret Thatcher desmontou as estatais britânicas com um custo muito menor e com resultados positivos para a economia. Mas ela tinha um plano, sabia administrar e seu partido tinha ambições-modestas comandar a politica do País, sem se confundir com o Estado. 

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, Opinião de 06/04/2015.
                      Postado por Livre para Voar às 15:11 hs.

OBS. a seguir 2ª Parte

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