Antenor Batista |
Na
área de saúde, especialmente na saúde pública, sobretudo, o comércio e as
fraudes são terríveis flagelos. Os lobistas das indústrias farmacêuticas
exploram o tráfico de influência para aumentar o volume de suas vendas de
remédios, alguns até desnecessários. No comércio de sangue, muitas pessoas são
contaminadas pela transfusão de material impróprio. E mais, o Brasil está em
primeiro lugar no mundo em cirurgias supérfluas, particularmente em cirurgias
estéticas, bem como em venda e compra de remédios e produtos falsificados. O
escândalo denominado “Vampiros da Saúde”, em que funcionários graduados foram
presos pela Polícia Federal, e ainda, o famigerado esquema “Sanguessuga,”
envolvendo deputados, senadores, empresários e funcionários públicos, são mais
exemplos da caixa preta que se tornou a medicina no Brasil.
Na
operação denominada “Vampiros da Saúde”, realizada em 2004 pela Polícia Federal
e Ministério Público Federal, a Controladoria Geral da União (CGU) estima que a
fraude teria causado um prejuízo de mais de R$ 2 bilhões aos cofres
públicos.
Conforme
veiculação pela mídia, tornou-se comum, particularmente nos casos de pacientes
terminais, antecipar a morte de alguns para atender outros que pagam mais ou têm
plano de saúde que cobram mais. Entubar, só em casos especiais. Ou seja, “se
está prestes a morrer... que morra logo e dê lugar para outro”. Isso é coisa de
bandido! E, ainda, teriam sido desativados 1.315 leitos hospitalares no SUS,
segundo o Conselho Federal de Medicina.
Assim,
casos semelhantes, aos que teriam ocorrido no Hospital Evangélico de Curitiba/PR
e no Hospital de Araucária/PR, estariam ocorrendo em todo Brasil e no mundo,
pois em 2013 mais de 23 milhões de intervenções cirúrgicas foram realizadas, 13%
dessas no Brasil.
A boa
medicina e os médicos que honram a profissão não se prestam a essas baixarias
que ceifam vidas. Mas essas minorias não têm poder de polícia para sanear as
atividades médicas e hospitalares que estão infiltradas pelo crime organizado e
pela ambição infecciosa.
Um
estudo, elaborado pela Associação de Hospitais Norte-americanos – examinado por
uma subcomissão parlamentar – concluiu que, em 1974, nos EUA, teriam sido
realizadas 2.380.000 cirurgias dispensáveis, provocando 11.900 mortes e elevados
gastos (também desnecessários). Tal mal, então, seria internacional? Ou apenas
em alguns países?
Urge o
aumento da rede hospitalar e especialização médica, particularmente no âmbito
cirúrgico, cirurgiões cardíacos inclusive, pois, o Brasil possui apenas dois mil
e quinhentos cirurgiões cardiovasculares, aproximadamente.
O
programa “Mais Médicos”, desde que integrado por bons profissionais, clínicos
gerais, inclusive, é promissor. Mas, os médicos estrangeiros, entre eles, os
cubanos, também precisam ser avaliados profissionalmente e revalidar seus
diplomas, inclusive. A Associação Médica Brasileira (AMB) vê manobra
político-eleitoral no programa em apreço e a Agência Nacional de Saúde (ANS)
também está acompanhando o caso. O que é oportuno, considerando que o Brasil
possui muitas faculdades de medicina e exige rigor no exame das provas de
médicos recém-formados. Daí, no fim de 2014, 55% terem sido reprovados pelo
Conselho Regional de Medicina (Cremesp/2014).
Apesar
dessas gravidades, outras mazelas ocorrem, como o tráfico de próteses, de
órteses e de stents, que envolve hospitais e médicos, num mercado sujo e
desprezível no qual circula muito dinheiro e muitas cirurgias sem necessidade,
num esquema que vem causando mortes e deficientes físicos.
Nós
devemos muito à boa medicina! Daí escrevermos contra os males que se abrigam nas
atividades médicas ou hospitalares: mercado infeccioso, corrupção e
incúria.
* Antenor Batista
(www.antenorbatista.adv.br) é
advogado formado pela Faculdade de Direito de Guarulhos. É
auditor Fiscal da
Receita Federal do Brasil, aposentado. É autor de
nove livros, entre eles, Corrupção: O 5° Poder Repensando a ética,
cuja 14ª edição atualizada será lançada em 2015.
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