Por Marcelo Szpilman*
Todos
nós aprendemos na escola que o Brasil tem água em abundância - 10% de
toda a água doce disponível do mundo. Como consequência, nos acostumamos
a utilizar esse recurso barato de forma livre e despreocupada e nos
tornamos grandes esbanjadores. No entanto, a verdade é que paramos no
tempo e não percebemos que mudanças globais (ambientais, climáticas e
geopolíticas) estavam ocorrendo ao nosso redor e que elas também nos
afetaria.
A escassez de água potável, que já é uma realidade para 30% da população mundial, vem sendo acentuada nos últimos 40 anos pela poluição dos rios, desmatamento das florestas, degradação do solo, má gestão dos recursos hídricos e pelo grande desperdício na agricultura, na indústria e no nosso dia a dia.
Fora isso, nos últimos 100 anos, o consumo de água aumentou oito vezes, enquanto a população mundial cresceu quatro vezes. Ou seja, o consumo médio individual dobrou. Porém, nesse mesmo período, poluímos 50% da água doce disponível para o nosso uso. Significa dizer que hoje estamos gastando o dobro de uma fonte que está com sua capacidade reduzida à metade. Não é por outra razão que em 2020, 60% da população mundial sofrerão carência de água de boa qualidade para o consumo. Quer mais uma triste estatística? Segundo a ONU, no mundo atual, 80% das internações hospitalares são motivadas pela simples falta de acesso à água potável.
Não é de hoje que se discute se o aquecimento global é motivado pelo cíclico e natural aquecimento do Planeta ou pelos séculos de emissões de gases poluentes na atmosfera. Mas enquanto não se chega a uma conclusão, se é que vai-se chegar, sofremos com as mudanças climáticas que esmurram nossas portas: a falta de água em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro já é uma dura realidade a ser enfrentada, hoje e pelos próximos anos.
Será que podemos fazer algo? Na gestão dos recursos hídricos, somente os governantes, mas no bom uso da água pode-se contribuir bastante. O consumo responsável no nosso cotidiano é capaz de proporcionar considerável redução no desperdício de água. E exemplos não faltam. Tomar banho fechando a torneira ao ensaboar o corpo e os cabelos pode representar uma economia de até 90 litros de água por banho. Da mesma forma que barbear-se fechando a torneira, quando a água não estiver sendo utilizada, pode produzir uma economia de até 10 litros. Sem falar na habitual e dispensável “vassoura hidráulica” utilizada pelos faxineiros dos prédios para varrer e lavar as calçadas, onde o uso de uma vassoura normal economizaria até 250 litros de água por dia.
Ainda assim, infelizmente, nessa questão da boa utilização da água pela sociedade, ter ou não educação e boa vontade para adotar seu consumo consciente não são por si só relevantes. Para grande parte da população, o uso responsável só virá com mecanismos de controle e punição, como uma conta salgada no final do mês. Diferente da energia e do gás, cujos consumos individuais vêm quantificados na conta mensal da concessionária, permitindo que o cidadão sinta no bolso o uso exagerado e o desperdício, a água, na maioria dos prédios residenciais, é cobrada do condomínio numa única conta coletiva. Assim, o uso correto desse recurso só será possível quando todas as residências tiverem seu consumo de água medido por hidrômetros individuais e cobrado em contas separadas.
Um grande exemplo vem da Alemanha, onde o custo da água é bem alto e a cobrança individual. Lá, só se costuma puxar a descarga do vaso no banheiro após quatro ou cinco xixis. Substâncias para eliminar o cheiro desagradável da ureia são utilizadas, sem dúvida, e é claro que está se falando de uma atitude extrema, que espero não tenhamos que copiar, mas esse comportamento nos dá a exata dimensão do quão sensível pode ser o bolso do consumidor e o quanto esse mecanismo de punição financeira é eficiente na redução do consumo e do desperdício de água.
Reflita sobre esse assunto. Seja consciente e responsável no consumo de água, na sua residência ou no seu trabalho, para que não falte no futuro.
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*Marcelo Szpilman, biólogo marinho formado pela UFRJ, com Pós-graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor dos livros Guia Aqualung de Peixes (1991) e de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to Fishes (1992), Seres Marinhos Perigosos (1998), Peixes Marinhos do Brasil (2000) e Tubarões no Brasil (2004). Por ser um dos maiores especialistas em peixes e tubarões e escritor de várias matérias e artigos sobre natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas, jornais, blogs e sites, Marcelo Szpilman é muito requisitado para ministrar palestras, conceder entrevistas e dar consultoria técnica para diversos canais de TV. Atualmente, é diretor-presidente do Aquário Marinho do Rio de Janeiro, diretor-executivo do Instituto Ecológico Aqualung, diretor do Projeto Tubarões no Brasil, membro do Conselho da Cidade do Rio de Janeiro (área de Meio Ambiente e Sustentabilidade) e membro e diretor do Sub Comitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Fonte: Instituto Ecológico Aqualung
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