Idosos Órfãos de Filhos Vivos
Atenção e carinho estão para a alegria da alma, como o ar que respiramos está para a saúde o corpo. Nestas últimas décadas surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos Laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões. A ordem era essa: em busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os mais fortes, que logo traziam seus irmãos, e seus pais e moravam todos sob um mesmo teto, até que a vida e o trabalho duro e honesto lhes propiciassem melhores condições.
Este senhor, com olhos sonhadores, rememorava com saudades os tempos em que cavavam buracos nas terras e ali dormiam, cheios de sonho que lhes fortalecia cansados. Não importava dormir ao relento. Cediam ao cansaço sob a luz das estrelas e das esperanças. A evasão dos mais jovens em busca de recursos de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas das guerras e perseguições, a seca e a forme brutal, desde que o mundo é mundo pressionou os jovens fugirem da violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio. Nada disso, porém, era vivido como abandono: era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como como intervalo, breve ou tomado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de reencontro, de reunião.
Separação e Responsabilidade: assim como os pais deixavam e, ainda deixam seus filhos em mãos de outros familiares, ao partirem em busca de melhores condições de vida, de trabalho e estudos, houve filhos que se separaram de seus pais. Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. os filhos que partem e partiam, também assumem responsabilidades pesadas d ampará-los e aos irmãos mais jovens. Gratidão e retorno, em forma de cuidados ainda que à distância. Mesmo quando um filho não está presente na vida de seus pais, sua voz ao telefone, agora enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudades e da genuína preocupação.
E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que sentem-se amados e pode abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém,, dentro de uma espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de 'pais órfãos de filhos'. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do País. Pais que cedem seus créditos consignados para os filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança.
Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão - talvez, não diretamente de seu interesse, nem de sua falta de tempo - mas da crença de que seus pais se bastam. Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a 'presença a troco de nada, só para ficar junto', dificulta ou, mesmo, impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, no que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável.
Vida liquida, como diz Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Instalou-se e aprofundou-se nos pais nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O Universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudades e da genuína preocupação. E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que sentem-se amados e pode abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas.
Nasceu uma geração de 'pais órfãos de filhos'. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudos fora do País. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus horados nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não tem assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão - talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo - mas da crença de que seus pais se bastam. Este estilo de vida, nos dias de comuns, que não inclui conversa amena e exclui a ' presença a troco de nada, só para ficar junto', dificulta ou, mesmo impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na politica familiar focada nos mais jovens.
Nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. Instalou-se e aprofundou-se no Pais, nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O Universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que redes sociais são suficientes para gerar controle e sentimento de pertença. Não passam, porém de ilusões que mascaram as distâncias interpessoais que se acentuam e que esvaziam de afeto mesmo aquelas que são primordiais:
entre pais e filhos e entre irmãos. o desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que 'não querem incomodar ninguém'.
Uma falsa racionalidade - e é para isso que se prestam as realizações - que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco eu seus filhos lhes concedem em termos de atenção presença afetuosa. O primado da 'falta de tempo' torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar. A irritação por precisar mudar alguns hábitos. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldade crescente se serem ágeis nos gestos e decisões. Os poucos minutos dos sinais luminosos para atravessar uma rua, até as grandes filas nos supermercados, a dificuldade de caminhar por calçadas quebradas e a hesitação ao digitar uma senha de computador.
Qualquer coisa que tire o adulto de seu tempo de trabalho e do seu lazer, ao acompanhar os pais, é causa de irritação. Inclusive por que o próprio lazer, igualmente, é executado com horário marcado e espaço determinado. Nas salas de espera veem-se os idosos calados e seus filhos entretidos nos seus jornais, revistas, tablete e celulares. Vive-se uma vida velocíssima, em quase todo o tempo do simples existir deve ser vertido para tempo útil, entendendo-se tempo útil como aquele que também é invertido nas redes sociais. Enquanto isso, para os mais velhos o relógio gira mais lento, à medida que percebem, eles próprios, irem passando pelo tempo.
O tempo para estar parado, o tempo da fruição está limitado. Os adultos correm para diminuir suas ansiosas marchas em aulas de meditação. os mais velhos têm tempo sobrante para escutar os outros, ou para lerem seus livros, a Bíblia, tudo aquilo que possa requerer reflexão. Ou somente uma leve distração. os idosos leem o de que gostam. Adultos devoram artigos, revistas e informações sobre o seu trabalho, em suas hiper especializações. Têm que estar a par de tudo just. on time - o que não significa exatamente saber, posto que existe grande diferença entre saber e tomar conhecimento. Já, os mais velhos querem mais é se livrar do excesso de conhecimento e manter suas mentes mais abertas e em repouso.
Ou, então, focadas naquilo que realmente lhes faz bem como pessoa. Restam poucos interesses em comum a compartilhar. Idosos precisam de tempo para fazer nada e, simplesmente recordar. Idosos apreciam prosear. Adultos têm necessidade de dizer e de contar do seu dia a dia. Ela não é útil, não produz resultados palpáveis.
A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz...Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora, conforto, segurança e bem estar: um número grande de filhos não mais é bem vindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando.
Sobreviveram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas as gerações em conflito se infringem. Por vezes a estratégia de condutadas desviantes dão certo, para os adolescentes conseguirem trazer seus pais para mais perto, enquanto os mais idosos caem doentes, necessitando - objetivamente - de cuidados especiais.
Tudo isso, porém, tem um altíssimo custo. Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversa, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrir-se para o outro. É requerer tempo, ambiente e clima, para que se realizam escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade.
A dificuldade de reconhecer limites característicos do envelhecimento dos pais. este é o modelo que se pode identificar. Muito mais grave seria não ter modelo. A questão é que as dores são tão mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas tecnologias, inclusive, que todas as gerações estão envolvidas pelo desejo exacerbado de viver fortes emoções e correr riscos desnecessários, quase que diariamente. Na infância e adolescência os pais devem ser responsáveis pelos seus filhos. Depois, os adultos, cada qual deve ser responsável por seus pais de mais idade. R quando não se é mais nem tão jovem e, ainda não tão idoso que se necessite de cuidados permanentes por parte dos filhos? temos aí a geração de pais desvalidos: pais órfãos de seus filhos vivos. E estes respondem, de maneira geral, ou com negligência ou, com superproteção. Qualquer das formas caracteriza maus cuidados e violência emocional.
Na vida dos mais velhos alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e vão mudando com a idade. Dos pais e dos filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção à necessidades de seus pais, conforme envelhecem
A começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar, pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice. Somente que, em vez de se flexibilizarem, uns e outros, os filhos tentam modificar seus pais, ensinando-lhes como envelhecer. Quando a solidão e o desamparo, o abandono emocional, forem reconhecidos como altamente nocivos, pela experiência e pelas autoridades médicas, em redes publicas de saúde e de comunicação, quem sabe ouviremos mais pessoas que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a Lei do silêncio. Por vergonha de se declararem abandonados.
É necessário aprender a enfrentar o que constitui perigo, alto risco para a saúde moral e emocional para cada faixa etária
Temos previsão de que, chegados ao ano 2.035, no Brasil haverá mais pessoas com 55 anos ou mais de idade, do que crianças. Estudos de grande envergadura em relação ao envelhecimento afirmam que a população de 80 anos e mais é a que vai quadruplicar de hoje até o ano 2.050. Como não deve permanecer fora da discussão sobre o envelhecimento populacional mundial e as estratégias para enfrentá-lo.
Autora: Ana Fraiman, Mestre em Psicologia Social Pela USP (Fonte: Portal Raízes)
Iracema Alves (...)
jornalista gestora cadeirante - em 28/02/2017 - às 23:32
Atenção e carinho estão para a alegria da alma, como o ar que respiramos está para a saúde o corpo. Nestas últimas décadas surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos Laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões. A ordem era essa: em busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os mais fortes, que logo traziam seus irmãos, e seus pais e moravam todos sob um mesmo teto, até que a vida e o trabalho duro e honesto lhes propiciassem melhores condições.
Este senhor, com olhos sonhadores, rememorava com saudades os tempos em que cavavam buracos nas terras e ali dormiam, cheios de sonho que lhes fortalecia cansados. Não importava dormir ao relento. Cediam ao cansaço sob a luz das estrelas e das esperanças. A evasão dos mais jovens em busca de recursos de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas das guerras e perseguições, a seca e a forme brutal, desde que o mundo é mundo pressionou os jovens fugirem da violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio. Nada disso, porém, era vivido como abandono: era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como como intervalo, breve ou tomado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de reencontro, de reunião.
Separação e Responsabilidade: assim como os pais deixavam e, ainda deixam seus filhos em mãos de outros familiares, ao partirem em busca de melhores condições de vida, de trabalho e estudos, houve filhos que se separaram de seus pais. Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. os filhos que partem e partiam, também assumem responsabilidades pesadas d ampará-los e aos irmãos mais jovens. Gratidão e retorno, em forma de cuidados ainda que à distância. Mesmo quando um filho não está presente na vida de seus pais, sua voz ao telefone, agora enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudades e da genuína preocupação.
E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que sentem-se amados e pode abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém,, dentro de uma espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de 'pais órfãos de filhos'. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do País. Pais que cedem seus créditos consignados para os filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança.
Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão - talvez, não diretamente de seu interesse, nem de sua falta de tempo - mas da crença de que seus pais se bastam. Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a 'presença a troco de nada, só para ficar junto', dificulta ou, mesmo, impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, no que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável.
Vida liquida, como diz Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Instalou-se e aprofundou-se nos pais nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O Universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudades e da genuína preocupação. E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que sentem-se amados e pode abençoá-los. Nos tempos de hoje, porém, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas.
Nasceu uma geração de 'pais órfãos de filhos'. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudos fora do País. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus horados nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não tem assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão - talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo - mas da crença de que seus pais se bastam. Este estilo de vida, nos dias de comuns, que não inclui conversa amena e exclui a ' presença a troco de nada, só para ficar junto', dificulta ou, mesmo impede o compartilhar de valores e interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na politica familiar focada nos mais jovens.
Nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. Instalou-se e aprofundou-se no Pais, nem tão velhos assim, o sentimento de abandono. E de desespero. O Universo de relacionamento nas sociedades líquidas assegura a insegurança permanente e monta uma armadilha em que redes sociais são suficientes para gerar controle e sentimento de pertença. Não passam, porém de ilusões que mascaram as distâncias interpessoais que se acentuam e que esvaziam de afeto mesmo aquelas que são primordiais:
entre pais e filhos e entre irmãos. o desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que 'não querem incomodar ninguém'.
Uma falsa racionalidade - e é para isso que se prestam as realizações - que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco eu seus filhos lhes concedem em termos de atenção presença afetuosa. O primado da 'falta de tempo' torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar. A irritação por precisar mudar alguns hábitos. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldade crescente se serem ágeis nos gestos e decisões. Os poucos minutos dos sinais luminosos para atravessar uma rua, até as grandes filas nos supermercados, a dificuldade de caminhar por calçadas quebradas e a hesitação ao digitar uma senha de computador.
Qualquer coisa que tire o adulto de seu tempo de trabalho e do seu lazer, ao acompanhar os pais, é causa de irritação. Inclusive por que o próprio lazer, igualmente, é executado com horário marcado e espaço determinado. Nas salas de espera veem-se os idosos calados e seus filhos entretidos nos seus jornais, revistas, tablete e celulares. Vive-se uma vida velocíssima, em quase todo o tempo do simples existir deve ser vertido para tempo útil, entendendo-se tempo útil como aquele que também é invertido nas redes sociais. Enquanto isso, para os mais velhos o relógio gira mais lento, à medida que percebem, eles próprios, irem passando pelo tempo.
O tempo para estar parado, o tempo da fruição está limitado. Os adultos correm para diminuir suas ansiosas marchas em aulas de meditação. os mais velhos têm tempo sobrante para escutar os outros, ou para lerem seus livros, a Bíblia, tudo aquilo que possa requerer reflexão. Ou somente uma leve distração. os idosos leem o de que gostam. Adultos devoram artigos, revistas e informações sobre o seu trabalho, em suas hiper especializações. Têm que estar a par de tudo just. on time - o que não significa exatamente saber, posto que existe grande diferença entre saber e tomar conhecimento. Já, os mais velhos querem mais é se livrar do excesso de conhecimento e manter suas mentes mais abertas e em repouso.
Ou, então, focadas naquilo que realmente lhes faz bem como pessoa. Restam poucos interesses em comum a compartilhar. Idosos precisam de tempo para fazer nada e, simplesmente recordar. Idosos apreciam prosear. Adultos têm necessidade de dizer e de contar do seu dia a dia. Ela não é útil, não produz resultados palpáveis.
A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz...Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora, conforto, segurança e bem estar: um número grande de filhos não mais é bem vindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando.
Sobreviveram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas as gerações em conflito se infringem. Por vezes a estratégia de condutadas desviantes dão certo, para os adolescentes conseguirem trazer seus pais para mais perto, enquanto os mais idosos caem doentes, necessitando - objetivamente - de cuidados especiais.
Tudo isso, porém, tem um altíssimo custo. Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversa, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrir-se para o outro. É requerer tempo, ambiente e clima, para que se realizam escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade.
A dificuldade de reconhecer limites característicos do envelhecimento dos pais. este é o modelo que se pode identificar. Muito mais grave seria não ter modelo. A questão é que as dores são tão mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas tecnologias, inclusive, que todas as gerações estão envolvidas pelo desejo exacerbado de viver fortes emoções e correr riscos desnecessários, quase que diariamente. Na infância e adolescência os pais devem ser responsáveis pelos seus filhos. Depois, os adultos, cada qual deve ser responsável por seus pais de mais idade. R quando não se é mais nem tão jovem e, ainda não tão idoso que se necessite de cuidados permanentes por parte dos filhos? temos aí a geração de pais desvalidos: pais órfãos de seus filhos vivos. E estes respondem, de maneira geral, ou com negligência ou, com superproteção. Qualquer das formas caracteriza maus cuidados e violência emocional.
Na vida dos mais velhos alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e vão mudando com a idade. Dos pais e dos filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção à necessidades de seus pais, conforme envelhecem
A começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar, pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice. Somente que, em vez de se flexibilizarem, uns e outros, os filhos tentam modificar seus pais, ensinando-lhes como envelhecer. Quando a solidão e o desamparo, o abandono emocional, forem reconhecidos como altamente nocivos, pela experiência e pelas autoridades médicas, em redes publicas de saúde e de comunicação, quem sabe ouviremos mais pessoas que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a que pensam desta mesma forma, porém se auto impuseram a Lei do silêncio. Por vergonha de se declararem abandonados.
É necessário aprender a enfrentar o que constitui perigo, alto risco para a saúde moral e emocional para cada faixa etária
Temos previsão de que, chegados ao ano 2.035, no Brasil haverá mais pessoas com 55 anos ou mais de idade, do que crianças. Estudos de grande envergadura em relação ao envelhecimento afirmam que a população de 80 anos e mais é a que vai quadruplicar de hoje até o ano 2.050. Como não deve permanecer fora da discussão sobre o envelhecimento populacional mundial e as estratégias para enfrentá-lo.
Autora: Ana Fraiman, Mestre em Psicologia Social Pela USP (Fonte: Portal Raízes)
Iracema Alves (...)
jornalista gestora cadeirante - em 28/02/2017 - às 23:32
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