sábado, 14 de março de 2015

Borra de café no combate à Dengue

Os especialistas em saúde pública, entre eles, os médicos sanitaristas, estão saudando a descoberta de uma cientista paulista, a bióloga Alessandra Laranja, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp/São José do Rio Preto) durante a pesquisa da sua tese de mestrado. O mosquito Aedes aegypti pode ser combatido com a borra de café, que tem custo zero e é produzida todos os dias em praticamente todas as casas. 

A novidade adquire maior importância quando se constata que 90% dos focos são identificados em áreas residenciais.

Em seu estudo, a bióloga demonstrou que a cafeína da borra de café altera as enzimas esterases, responsáveis por processos fisiológicos fundamentais como o metabolismo hormonal e da reprodução do Aedes aegypti, podendo ser essa a causa dos efeitos verificados sobre a larva e o inseto adulto. Conforme explica Alessandra, 500 microgramas de cafeína da borra de café por mililitro de água bloqueia o desenvolvimento da larva no segundo de seus quatro estágios e reduz o tempo de vida dos mosquitos adultos. 

A solução com cafeína pode ser substituída por duas colheres de sopa de borra de café para cada meio copo de água, o que facilita o uso pela população de baixa renda. “A borra não precisa ser diluída em água para ser usada. Pode ser colocada diretamente nos recipientes, já que a água que escorre depois de regar as plantas vai diluí-la. Pode ser aplicada em pratos que ficam sob vasos com plantas, dentro de bromélias e sobre a terra dos vasos, jardins e hortas”, esclarece a bióloga. 

O mosquito Aedes se desenvolve mesmo na película fina de água que às vezes se forma sobre a terra endurecida dos jardins e hortas. Desenvolve-se também na água dos ralos e de outros recipientes com água parada (pneus, garrafas, latas, caixas d’água, etc). 

Atualmente, o método mais usado no combate ao Aedes aegypti é o da aspersão dos inseticidas organofosforados, altamente tóxicos para homens, animais e plantas. Esses inseticidas são os do fumacê e do líquido usados pelos técnicos em saúde pública. A bióloga discorda da utilização de inseticidas: “A borra de café é um inseticida natural, além de ter custo zero. Não é tóxica nem prejudica as plantas, podendo servir até como adubo ecologicamente correto”.

O ciclo do Aedes aegypti é composto por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. As larvas se desenvolvem em água parada, limpa ou suja. Na fase do acasalamento, em que as fêmeas precisam de sangue para garantir o desenvolvimento dos ovos, ocorre a transmissão da doença. A fêmea pica a pessoa infectada, mantém o vírus na saliva e o retransmite. 

A dengue é a doença infecciosa, aguda e de gravidade variável. Apresenta-se sob as formas de dengue clássica (tipos 1 e 2) e dengue hemorrágica (tipo 3), sendo esta última a forma mais grave da doença no Brasil. A dengue hemorrágica ocorre quando um indivíduo contrai novamente a dengue causada por um vírus de sorotipo incompatível com aquele que o infectou na primeira vez. 

A transmissão se dá através do ciclo Homem -> Aedes aegypti -> Homem. Após a ingestão de sangue infectado pelo inseto fêmea, transcorre um período de incubação que pode variar de oito a 12 dias. Após esse período, o mosquito torna-se apto a transmitir o vírus e assim permanece durante toda a vida. Os sintomas da doença são febre intensa, dor de cabeça, dores fortes nos olhos, em toda a musculatura, nos ossos e nas juntas. A dengue hemorrágica apresenta sangramento pelas gengivas, pela pele e pelo intestino, podendo levar à morte. No Brasil, o Aedes aegypti ainda transmite a febre amarela.

Conforme as estatísticas da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), do Ministério da Saúde, as regiões Sudeste e Nordeste são as que apresentam os maiores índices de notificação nos últimos anos.

É fundamental conscientizar as pessoas de que combater o mosquito da dengue, além de responsabilidade dos órgãos governamentais que deveriam encarregar-se do saneamento básico, abastecimento de água e de campanhas educativas permanentes, requer empenho de toda a sociedade, uma vez que o Aedes aegypti pode encontrar, em cada moradia e arredores, ambiente propício para sua proliferação. Considerando os dados levantados pela Fundação Nacional de Saúde de que o mosquito vetor “foi erradicado duas vezes do Brasil, em 1955 e 1973, e que, com o relaxamento da vigilância entomológica ocorrido no final da década de 70 e início dos anos 80, foi reintroduzido, instalando-se definitivamente no país”, conclui-se que o trabalho de combate deve ser permanente e contínuo. Desse modo, algumas medidas elementares podem ser tomadas individual e coletivamente para auxiliar na erradicação do Aedes aegypti:

* Vasos de flores ou plantas – a vasilha que fica sob o vaso para recolher a água excedente deve ser mantida seca. Uma boa medida é enchê-la com areia até a borda. A água dos vasos com flores deve ser trocada a cada 2 ou 3 dias;

* Pneus velhos – devem ser furados para eliminar a água que eventualmente se acumule, guardados em lugar coberto ou jogados fora;

* Caixas d’água – devem ser lavadas periodicamente e tampadas durante todo o tempo;

* Piscinas - o cloro da água das piscinas deve estar sempre no nível adequado;

* Garrafas vazias – devem ser guardadas de cabeça para baixo, em lugares cobertos e as tampas jogadas fora em sacos de lixo;

* Recipientes descartáveis (copos, pratos, travessas, etc.) - devem ser colocados em sacos de lixo para serem recolhidos pelos lixeiros;

* Lixo – nunca deve ser jogado em terrenos baldios, ou nas ruas e calçadas. Além disso, as latas de lixo devem estar sempre tampadas e limpas;

* Bebedouros de animais – precisam ser lavados e a água trocada sistematicamente;

* Depósitos de água – quaisquer que sejam os tipos e a finalidade a que se destinam, se não for possível prescindir deles, devem ser mantidos limpos e tampados com segurança;

* Bromélias – algumas plantas armazenam água entre suas folhas e podem tornar-se eventuais criadouros dos mosquitos. Entre elas, destacam-se as bromélias cujo cultivo é comum nos jardins e residências. Eliminá-las não resolveria o problema da dengue e poderia afetar o equilíbrio ecológico. Como é quase impossível retirar totalmente o grande volume de água que se embrenha pelas folhas, a solução é diluir uma colher de sopa de água sanitária em 1 litro de água limpa e regá-las duas vezes por semana. Esse mesmo preparado pode servir para inibir a formação de criadouros nos vasos de flores ou plantas com água.

Importante

Há quem afirme que a borra de café ou o fumo diluído em água também seriam úteis para controlar o surgimento de criadouros nos pratinhos sob os vasos ou na água retida pelas plantas. Em relação à borra de café, essa eficácia não foi comprovada pelos testes realizados no Laboratório de Pesquisas de Aedes aegypti do Serviço Regional de Marília da Sucen.

Uso de repelentes e inseticidas

O aumento de casos de dengue trouxe algumas alterações nos hábitos das pessoas que passaram a consumir mais repelentes de insetos e inseticidas. No entanto, seu uso exige cuidado, porque podem causar intoxicações e alergias especialmente em crianças pequenas. Nunca se deve aplicá-los em bebês ou crianças com menos de 4 anos de idade. É importante considerar, ainda, que vários tipos de inseticida apenas afugentam os mosquitos de dentro dos domicílios e são ineficazes em relação aos focos que estão nas redondezas. O mesmo acontece com os produtos naturais à base de citronela e andiroba. Portanto, os cuidados com os locais que eventualmente possam transformar-se em criadouros não podem restringir-se aos períodos de chuva e calor, época de maior incidência da dengue, nem à aplicação ocasional de inseticidas e repelentes

Reprodução em água suja

Em Pernambuco, os biólogos Cleide Albuquerque e André Furtado localizaram em Olinda e Recife respectivamente, em diferentes ocasiões, larvas de Aedes aegypti em água que continha resíduos de alimentos e de sabão. Por isso a população está sendo instruída para não jogar larvas do mosquito em vasos sanitários ou canaletas, mas sim na areia porque elas não sobrevivem em ambiente seco. Embora o achado demande mais pesquisa e observação, pode ser sinal de que o mosquito esteja desenvolvendo novo mecanismo de adaptação.

Bioinseticida


Segundo matéria de Luciana Miranda publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, na Universidade Estadual Fluminense (RJ), está sendo desenvolvido um novo bioinseticida para atacar as larvas do mosquito da dengue que poderá substituir os larvicidas químicos. Seu componente básico é a bactéria BTI (bacillus thuringiensis israelensis). Esse microorganismo produz uma toxina que ataca as larvas do Aedes aegypti sem prejudicar outros animais, seres humanos ou o equilíbrio ecológico. As larvas do Culex e do Anopheles, mosquitos transmissores de outras doenças, também são atacadas pela bactéria BTI. “O estudo começou em dezembro passado e os pesquisadores esperam ter os primeiros resultados nos próximos dois anos”.

Borra de café no combate à dengue

A borra do café mata 100% das larvas do Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue. Basta colocar duas colheres de borra no fundo dos pratos e vasos, para cada meio copo de água, trocando uma vez por semana. A borra se mistura à água e impede a proliferação do inseto. A mistura não é tóxica para as plantas e outros animais, nem possui a persistência ambiental dos químicos organofosforados comumente misturados à areia colocada nos recipientes onde insetos pode se reproduzir. E tem ainda a vantagem de agir em casos de resistência do mosquito a inseticidas químicos.

Essa constatação, divulgada no final do ano pela imprensa, parte de uma pesquisa que vem sendo realizada há três anos na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus São José do Rio Preto, pela bióloga Alessandra Laranja, sob a orientação de Hermione de Campos Bicudo. Ela já defendeu um mestrado provando que a borra é eficiente em condições de laboratório e agora em condições de campo e detalha como as substâncias contidas na borra agem sobre o metabolismo do mosquito.

Segundo declarações da pesquisadora, embora a borra de café contenha várias substancias potencialmente tóxica para os insetos, ela acredita que a cafeína seja o princípio ativo que mata as larvas. “A cafeína afeta as esterases, enzimas responsáveis por diversos processos fisiológicos, como a digestão, desenvolvimento juvenil (larvas na segunda fase), reprodução e, principalmente, resistência aos inseticidas químicos.

A pesquisa da Alessandra Laranja foi financiado por uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES), no valor de R$ 18 mil, e foi realizada no laboratório do Instituto de Biociência, Letras e Ciências Exatas da Unesp.

O doutorado de Alessandra ainda segue por mais três anos, mas o usa da borra de café já pode ser recomendado nas campanhas de combate à dengue, a exemplo do que já vem fazendo a Vigilância Sanitária de São José do Rio Preto e de outros municípios.



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