O Artigo é da jornalista Tatiana Berriager *
Desde 2013, a grande burguesia interna brasileira voltou a apoiar uma política externa de subordinação passiva com o imperialismo. A politica externa foi um instrumento importante dos programas de governo do PSDB e do PT. Em conjunto com as demais políticas (econômica e social) a atuação internacional do Estado brasileiro foi determinada pelos interesses das frações de classe hegemônicas no bloco no poder que dirigiram duas frentes políticas distintas: a neoliberal e a neodesenvolvimentista. A primeira é dirigida pela burguesia compradora, fração de classe subordinada ao capital externo, que reproduz de maneira passiva os interesses imperialistas no interior da formação social brasileira. A segunda frente é dirigida pela grande burguesia interna brasileira, fração dependente do capital externo, mas que, ao mesmo tempo, concorre com ele e, por isso necessita da intervenção estatal para garantir sua sobrevivência.
Durante os governos do PT a posição politica do Estado brasileiro transitou de uma subordinação passiva ao imperialismo para uma posição de subordinação conflitiva dada à ascensão da grande burguesia interna do interior no poder. Essa alteração teve farte impacto geopolítico contribuindo para o fortalecimento do ciclo de governo progressista na América do Sul, para a cooperação com os BRICS e a criação do Banco de Desenvolvimento desse agrupamento. Desde o final dos anos 1989, quando o País vivi uma greve econômica, premido pela necessidade e urgência de renegociar a dívida externa, pela pressão dos Estados Unidos para abertura econômica, pela privatização dos serviços públicos e acesso às compras governamentais - tudo isso produziu efeitos sobre a burguesia industrial, que passou, após retaliações às suas exportações, a aderir a agenda neoliberal, ainda que com uma posição de certa forma moderada em relação à abertura comercial.
Interessava a essa fração da classe dominante brasileira a redução dos encargos trabalhistas e dos tributos, por isso aderiu à falsa ideia de que as politicas de industrialização por substituição de importações estariam ultrapassadas, e a estratégia para a recuperação da capacidade industrial brasileira deveria ser a 'integração competitiva" à chamada globalização acoliberal. Essa estratégia se resume à agenda da redução do "Custo Brasil", defendida pelas entidades patronais como a Fiesp e a CNI. Como a história demonstrou, a ofensiva contra os direitos trabalhistas e a redução das politicas sociais, bem como as privatizações e a abertura comercial ao invés de dinamizarem a economia brasileira, aprofundaram a dependência e a vulnerabilidade externa do País. Por isso, no final dos anos 1990, a grane burguesia interna brasileira, composta pela indústria manufatureira, grandes construtoras nacionais, empresas estatais e o agronegócio, tendo em vista as negociações da Área de Livre Comércio (ALCA).
Os resultados negativos da implantação do neoliberalismo no Brasil, começou a se aglutinar reivindicando uma abertura comercial negociada (em detrimento da abertura comercial unilateral que vinha sendo adotada), além da preferência nas compras governamentais, a conquista de novos mercados para a exportação dos seus produtos e a garantia de acesso a territórios para a instalação de suas empresas. Assim, durante os governos de Lula e Dilma o Estado brasileiro se aproximou de muitos Estados dependentes, garantindo o fortalecimento da integração regional, multilateralismo e o conflito pontual com o imperialismo. Essa politica garantiu enormes ganhos econômicos e obteve apoio da grande burguesia interna brasileira. Mas, desde 2013 essa postura enorme de ganhos mudou. Agora a Fiesp parece saudar a politica externa do ministro das Relações Exteriores José Serra e do governo golpista: uma politica que restabelece a subordinação passiva com o imperialismo.
O que teria produzido essa alteração na postura da entidade? O que levou a integrar a frente politica neoliberal e conservadora que dirige o golpe de Estado no Brasil? Em primeiro lugar é preciso destacar que a ofensiva do imperialismo e da frente neoliberal exerceu um importante papel para que essa fração se desaglutinasse e para ao menos parte dela se aliasse e para ao menos parte dela se aliasse aos setores que defenderam o afastamento do governo eleito em 2014. Além do fato de que uma parcela foi presa pela Operação Lava Jato. A entidade nega a história recente e as do desenvolvimento desigual e da dependência entre as nações. Ademais não tem compromisso estratégico com a integração regional econômica, produtiva, politica e social e com BRICS enquanto agrupamentos capaz de trazer um novo equilíbrio de poder no sistema internacional
Fonte:* Artigo de Tatiana Berringer, professora de relações Internacionais da UFABC, membro do GR-RJ e autora do livro "A Burguesia Brasileira e a politica externa nos governos FHC e Lula. Editora Appris, 2015, em artigo publicado por CartaCapital, em 23-06 2016
Copidesque
Iracema Alves
jornalista cadeirante
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