quinta-feira, 2 de junho de 2016

"O PT REPETIU O 'MODUS OPERANDI' DA DIREITA QUE DOMINOU O BRASIL POR 500 ANOS

 
 
 
 
 
 
 
A ENTREVISTA É DE CECÍLIA BALESTEROS, PUBLICADA POR EL PAÍS,  31/05/2016
 
 
Exilado durante a ditadura militar brasileira (1964-1985) e com experiência nos meandros do poder por ter sido ministro da Cultura dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Juca Ferreira (Salvador, 1949) afirma que o novo governo interino é uma "afronta à democracia".
 
- Você deixou de ser ministro da Cultura há duas semanas, depois do impeachment da presidente Rousseff. O que opina sobre o Governo interino Michel Temer?
- É um desastre em todos os sentidos. É ilegal, ilegítimo e impopular. Uma afronta à democracia. É um governo de homens brancos, representantes da oligarquia mais retrógrada, muito distante da diversidade brasileira. Além disso, Michel Temer está implantando um projeto ultraliberal, seguindo a mesma receita da austeridade que tanto sofrimento causou na Europa. Vai ao sentido oposto ao voto de 54 milhões de eleitores na última eleição presidencial. Dificilmente será aceito. O governo Temer nasceu morto. 
 
-Por que acredita que a decisão de extinguir o Ministro da Cultura foi revertida em poucos dias?
É uma reação que subestimaram o poder do mundo da cultura. Houve mobilizações e protestos em muitas cidades do País contra a extinção do MinC, sedes foram ocupadas, produtores e cineastas protestaram em Cannes, Caetano Veloso, todos e mobilizaram, e o(governo interino) se surpreendeu com a resposta. Subordinar à educação e um retrocesso rumo a um Brasil de 30 anos atrás. Antes de recuar, Temer sondou seis mulheres, artistas e gestoras públicas proeminentes, para que ocupassem a Secretaria de Cultura, que seria subordinada no Ministério da Educação), e todas rejeitaram.
 
-O que achou do aviso do novo Governo de que poderia auditar as contas do seu período como ministro, para apurar se favoreceram projetos de interesse político?
- É repugnante. Nunca persegui benefícios desse tipo. Hoje a mentira é uma arma política no Brasil.
- Dilma Rousseff e o PT qualificaram o processo com "golpe de Estado". Você concorda?
- Ninguém tem dúvida. Todo processo de destituição está viciado, política e midiaticamente manipulado. Na Câmara dos Deputados, foi conduzido por Eduardo Cunha, um corrupto contumaz, afastado do cargo depois de concluir sua missão de abrir o processo contra a Dilma. A votação do impeachment, transmitida ao vivo pela televisão, foi algo tão vergonhoso que alcançou uma repercussão internacional.
 
- A Câmara, ainda sob a influência de Cunha, está dominada pelo que chamamos de bancada BBB - a da bala, que representa a indústria de armamento, do boi, ligado ao agronegócios, e da Bíblia, que reúne pastores e deputados das igrejas Evangélicas . O golpe de 2016 tem muitas semelhanças com o de 1964.  Nos dois casos, representam uma reação das elites econômicas, rurais e urbanas à políticas redistributivas e à ascensão das classes  trabalhadoras. Mas não é só isso. O quadro é muito mais complexo. O próprio projeto de Pais está em disputa. E eu iria além. O projeto de afirmação da América do Sul está em perigo. Vimos golpes de Estado semelhante no Paraguai e em Honduras. Agora é o Brasil, e a próxima e a próxima tentativa será na Venezuela. A única diferença com relação a 1964 é a ausência das Forças Armadas. Os golpes de hoje são perpetrados dentro da instituições, sem tiros, sem derramamento de sangue. 
 
-João Vicente Goulart, filho do presidente João Goulart, deposto pela ditadura em 1964, também declarou que há semelhanças com aquela época, embora o defina como "golpe baixo."
- Em nenhum momento ele minimizou o ataque golpista contra Dilma. Ao contrário, disse que a destituição de uma presidente eleita com 54 milhões de votos por 367 parlamentares, dos quais quase 300 estão sob investigação, é um golpe baixo, disfarçado de legalidade. Usou uma frase que sintetiza este processo: "Trocaram as baionetas pelas togas ".
 
- Você acha que o PT tem alguma responsabilidade nos acontecimentos, dada a sucessão de escândalos de corrupção, como o da Petrobrás e o mensalão?
- Claro. o PT e os governos petistas erraram . Primeiro permitindo que alguns militantes se envolvessem em escândalo de corrupção. O PT é um partido que se consolidou empunhando a bandeira da ética. Não deveria ter cometido irregularidades que afetassem o Governo e empresas privadas. Não deveria ter  posto em risco uma empresa como a Petrobrás. Repetiu o modus operandi da direita que dominou os Estado brasileiro durante 500 anos. Outra falha é não ter feito grandes reformas num momento em que o Governo tinha força e credibilidade. Também houve erros no comando da política econômica durante o primeiro mandato de Dilma, e isso abriu espaço para os ataques da oposição.
 
- A ausência das mulheres no Governo também foi criticada... Não só por haver mulheres é por terem sido suprimidos os Ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos humanos. Obviamente, tampouco há negros ou índios. Num Pais com a diversidade do Brasil, cuja população é majoritariamente negra e feminina, a imagem de um governo formado por homens brancos, velhos e rico já diz tudo.
- O que achou da reação da América do Sul?
- Exceto pela Argentina de Mauricio Macri que expressou timidamente respeito ao Governo interino, a reação foi bastante unânime. Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e El Salvador qualificaram de golpe de Estado e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos também expressou sua preocupação. Agora, resta saber se o golpe se consolidará. Estou confiante. os golpistas não passarão.
 
Fonte: Humanitas Unisinos, nossos agradecimentos.
                  Iracema Alves
                  Jornalista cadeirante     email  iraalves2010@gmail.com   - em 02/07/2016 às 22h45   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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