domingo, 5 de julho de 2015

Carta para Caetano e Gil

Seria gratificante se israelenses e palestinos pudessem, da noite para o dia, conviver como cidadãos com direitos iguais em algum ‘Estados Unidos da Terra Sagrada’

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Meus caros Caetano e Gil

Quero me solidarizar com a sua resposta à carta do Sr. Roger Waters propondo que vocês endossem o movimento, hoje se universalizando, que atende pela legenda BDS (Boycott, Divestment and Sanctions).

Por outro lado, quero propor que vocês se solidarizem com um movimento chamado BTI (Breaking The Impasse). Enquanto um propõe a dissolução do Estado de Israel, o outro constrói, através de propostas objetivas, soluções de convivência e de avanço em negociações para formação de um Estado Palestino, além de outras concessões necessárias de lado a lado para chegar à tão almejada paz.

O BTI é um grupo de proeminentes palestinos e israelenses, empresários e líderes da sociedade civil que acreditam na urgência de se encontrar uma solução pacífica para o conflito Israel/Palestina através do recurso “dois Estados para dois povos”.

Além de várias outras atividades, sempre no mesmo sentido da encontrar simbioses bilaterais, a fim de apressar soluções e encontrar áreas de colaboração, desde já, entre palestinos e israelenses. É melhor construir pontes do que aprofundar diferenças.


O impasse em questão já vem de longe e é produto das diversas guerras de agressão que Israel sofreu em seu território e que enlutou tanto os países árabes agressores, quanto Israel, o agredido.

Como judeu e brasileiro e que já era habitante do planeta Terra na época do nazismo e do holocausto, pude viver a construção de Israel através do sangue derramado em guerras e agressões feitas pelos países árabes em conflitos sangrentos e dos quais Israel sobreviveu, porém sempre com a mão estendida à procura de paz naquela região, porém sem abrir mão de sua segurança.

Os inimigos no Oriente Médio são os próprios países árabes. Os radicalismos religiosos dentro do Islã e uma cultura econômica não inclusiva procuram culpar Israel pela sua própria desordem e desorganização. Esse não é o caso de Israel, onde os valores democráticos e humanísticos são os mesmos que os nossos aqui no Brasil e que tanto prezamos.

Caetano, fiquei muito feliz com a tua resposta. O Gil é meu colega ambientalista e vocês dois são um admirável exemplo de talento e inteligência.

Que país magnífico é o nosso, onde esse tipo de problema e radicalismo não impera.

Israel é um país judeu, é uma aspiração milenar de retorno ao seu próprio país, onde a sua história foi, e é, fator fundamental para toda a cultura ocidental.

Roger Cohen, um dos mais brilhantes colunistas do NYT, escreveu uma excelente análise dos objetivos do BDS: “A doce retórica de democracia, direitos e justiça mascara os objetivos tortuosos do BDS que não são nenhum outro, além de acabar com o Estado judaico, criado pelas Nações Unidas através de um inequívoco mandato, em 1947. O antissionismo desse movimento pode facilmente disfarçar um antissemitismo”.

Seria gratificante se israelenses e palestinos pudessem, da noite para o dia, aprender a conviver como cidadãos com direitos iguais em algum “Estados Unidos da Terra Sagrada”, entre o Mediterrâneo e o Rio Jordão, num Estado secular, binacional e democrático que convive com suas diferenças. No entanto, seria uma ilusão acreditar que fosse possível realizar a utopia em um só Estado.

As diferenças são muito profundas. Um único Estado não é capaz de definir seu “Dia de Independência” e “Dia da Catástrofe” em uma mesma data. Por essa mesma razão, há a necessidade transcendente de dois Estados: o judeu e o palestino, o que acontecerá não por pressões externas, mas pela evolução da necessidade de convivência dos dois povos. Para isso, vocês dois, Caetano e Gil, podem colaborar enormemente através de sua arte, trazendo compreensão e beleza aos dois lados. Seguramente, muitos palestinos irão assisti-los, bem como do lado judeu vocês terão aplausos retumbantes não só de lá, mas também daqui.

Israel Klabin é ambientalista e presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável

Fonte: O Globo

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