domingo, 26 de julho de 2015

DILMA E O FIADOR HONORÁRIO

  
Derrotado na discussão sobre a nova meta fiscal, o ministro da fazenda, Joaquim Levy, ainda pagou o mico de ter de explicar e defender a mudança de rumo anunciada por ele e seu colega do Planejamento, Nelson Barbosa. Para cumprir essa missão teve que renegar posições mantidas publicamente e de se apresentar como coautor de uma decisão digna dos piores momentos do mandato anterior da presidente Dilma Rousseff. Tendo de rejeitado a opinião do ministro Levy e optado pela politica mais frouxa e menos convincente, a presidente lembrou-se de um detalhe: o perdedor havia sido considerado, pelo menos até quarta-feira, data do anúncio da nova orientação, o fiador da politica econômica.

A solução imediata foi mandar seus subordinados elogiar o ministro da Fazenda e reafirmar sua condição de avalista. A ordem foi cumprida. Com isso, o avalista, confirmado em sua posição honorífica, virou fiador de uma politica de baixa credibilidade, nesse caso, é da chefe do governo, e ela se expôs inteiramente, no episódio, de forma irremediável. A presidente deixou clara, mais uma vez, sua pouca disposição de bancar medidas mais sérias de correção das finanças públicas e, de reparação, dos erros cometidos durante quatro anos. Alguns desses erros, como o prolongamento, depois da pior fase da crise, da chamada politica "anticíclica", foram herdados de seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agregados.

Um dos condutores da politica nesse período foi o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Tinha aceso fácil à presidente Dilma Rousseff, mas deixou o governo em 2013. Está de volta como ministro do Planejamento, ainda classificado, por determinação presidencial, como avalista do governo. Mas têm prevalecido as opiniões de Barbosa, como noticiou várias vezes a imprensa. O ministro da fazenda tem mencionado, para explicar as dificuldades da politica fiscal, a retração dos negócios e as táticas defensivas adotadas pelos empresários nas relações como o Fisco. Este detalhe já havia sido apontado em recente estudo da receita Federal. São argumentos verdadeiros.

A recessão tem sido, sem dúvida, mais severa do que previram analistas brasileiros e estrangeiros.Os danos causados na economia pelos erros cometidos nos quatro anos anteriores são enormes. A politica do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff é, sem dúvida, a causa principal dos males hoje vividos pelos brasileiros, como recessão, desemprego e inflação disparada.  Tudo isso explica a perda de receita de impostos e contribuições neste ano, mas os problemas da politica fiscal estão associados também a outros fatores. O mais importante é a franqueza  politica da presidente. Essa franqueza decorre em parte de suas características pessoais e em parte da estratégia de seu partido, subordinada inteiramente às ambições politicas de seu líder principal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem apoio do PT, a presidente pouco pode fazer - e nada tem feito, pessoalmente - para garantir a fidelidade dos partidos aliados. Nenhum governante fraco - e nesse caso as deficiências pessoas da presidente são determinantes - conduz uma politica de ajustes dolorosos e de forma complexas. Depois de quatro anos chefiando um governo marcado pela incompetência, pela maquiagem das contas, por um voluntarismo quase infantil e por lambanças variadas, a presidente causaria enorme surpresa se iniciasse o segundo mandato com um programa audacioso de correções e de reformas.

A menor surpresa nesse, caso, seria o apoio do companheiros e aliados. Desde o início o ministro Levy esteve comprometido com um programa tímido de ajuste e de reformas. Nem isso deu certo. A receita falhou, a despesa continuo crescendo e a meta de ajuste em 2015 foi virtualmente zerada. Ninguém explicou, até agora, por que se deve esperar um empenho mais firme nos próximos anos. 

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo do dia 25/07/2015 - via internet.
        Iracema Alves - Jornalista cadeirante 

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