A evidência do processo de desconstrução de um mito foi uma marca importante deixada pelos protestos de rua do dia 16/08/205: Lula Nunca Mais! O repudio a Dilma e ao PT eram as outras palavras de ordem dominante no evento, óbvias por miragem as personagens que se destacam na cena política: a protagonista e seu coro. Mas, por detrás de Dilma e do PT, emergiu fortemente na percepção dos cidadãos a figura do arquiteto da grande mistificação populista que encantou a maioria dos brasileiros enquanto pôde se manter sobre seus pés de Barro. O sucesso popular de Luiz Inácio Lula da Silva foi o resultado da conjugação de virtudes pessoais, como a excepcional habilidade para aliar meios a fins - da essência da política -, como circunstâncias históricas, como globalização da economia e das comunicações que fizeram amadurecer, na virada do século, momento propício um forte influxo humanista na economia de mercado que vinha de impor sua hegemonia no planeta.
No auge de seu prestígio popular, quando comemorava, em 2010, com a eleição de Dilma, sua terceira vitória consecutiva em eleições presidenciais, Lula claramente se sentia detentor de um poder quase absoluto. Acaba de dar um passo decisivo para o projeto de perpetuar a hegemonia política do seu PT. Esqueceu-se da célebre advertência de Lord Acton: "o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente." E não permitiu que restassem dúvidas quanto a quem era o verdadeiro dono desse poder quando, ainda antes da metade do primeiro mandato de Dilma, a convenceu a praticamente renegar a "faxina ética" que realizara em seu Ministério ainda em 2011. É bem verdade que com o tempo, e principalmente a partir da posse no segundo mandato, Dilma afastou-se gradativamente da influência política direta de Lula.
Mas faltou-lhe competência política para salvar a si, ao PT e ao Brasil do desastre político, econômico , social e moral cujas raízes estavam solidamente plantadas desde os primeiros meses do primeiro governo de seu criador e frustrado preceptor. A avassaladora evolução das investigações da Operação Lava Jato começa a revelar os primeiros indícios de que Lula pode estar envolvido em episódios que já levaram à prisão donos das grandes empreiteiras de obras com os quais desenvolveu estreito relacionamento pessoal, tanto como presidente da República quanto, depois, como consultor, conferencista e lobista internacional.
Mas não é a Lava Jato - ou apenas ela - que aproxima Lula de Lord Acton. Por apego ao poder, o chefão do PT corrompeu, principalmente, um projeto político em que, durante muito tempo, uma maioria de brasileiros de boa-fé, completamente iludida, acreditou firmemente: a redução das desigualdades com o pleno acesso da população marginalizada da vida econômica aos bens sociais essenciais, como educação, saúde, saneamento, transporte, segurança. O fastígio econômico dos seis primeiros anos do governo Lula, apoiado nos principais princípios sólidos de estabilidade econômica herdados de governos anteriores e numa conjuntura internacional extremamente favorável, permitiu avanços sociais importantes no desfrute de uma política social focada no crédito fácil e na gastança voltada para bens de consumo.
A ambição de transformar esses avanços em vantagens eleitorais a curto prazo e não em efetivas conquistas no prazo longo, aliada à miopia de viés ideológico, levou a implantação de uma "nova matriz econômica" intervencionista, estatista. Enfim, a corrupção de uma política que se anunciava voltada para os benefícios sociais resultou nas mazelas que hoje todo o País sofre. Lula, portanto, corrompeu com sua ambição de poder um projeto político que fez as pessoas acreditarem ser socialmente desejável e exequível . E acabou por inviabilizá-lo - aí com a forte ajuda de Dilma - ao vinculá-lo à "ideologia do bem" segundo a qual não existe verdade fora do Estado. Razões suficientes para que o País queira vê-lo pelas costas.
Fonte: Jornal O Estado de São. Paulo - via internet em 19/05/2015 às 22h20
Postado por Iracema Alves - Jornalista cadeirante autônoma
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