* Por Ricardo Galhardo
A diretoria do Instituto Lula postergou para o início de 2016 a reunião de planejamento das atividades para o ano que se inicia. Desde que o Instituto foi criado em 2011, essa reunião é realizada no fim do ano anterior. Em 2015, isso não foi possível, segundo auxiliares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque a agenda do petista em dezembro foi quase totalmente tomada por medidas defensivas. O episódio ilustra como foi 2015 para Lula, ano em que mais foi alvo de desgaste desde que deixou o Palácio do Planalto. Depois de ajudar a reeleger sua sucessora, Dilma Rousseff, em uma disputa apertada contra o tucano Aécio Neves, em 2014.
O ex-presidente que deixou o governo com o maior índice de aprovação já registrado no Brasil - 87% - segundo o CNI/Ibope - viu seu capital político escorrer pelas mãos em meio a fracassos na economia, erros na condução politica do governo, o derretimento político do PT, manifestações nas ruas, ameaças de impeachment de Dilma, investigações envolvendo integrantes de sua família, amigos e o próprio Instituto. Em 20 de junho, durante encontro com líderes religiosos, em São Paulo, o próprio Lula resumiu a situação, com uma de suas tradicionais metáforas: "Dilma está no volume morto, o PT esta abaixo do volume morto, eu estou no volume morto".
Pesquisas mostram que, para o eleitorado, as boas lembranças do governo Lula estão cada vez mais distantes. Segundo a Datafolha, em dezembro de 2010, 71% consideravam o petista o maior presidente da história do Brasil. Em novembro de 2015, essa taxa era de 39%.
"Padre Cícero:" os dirigentes petistas admitem, reservadamente, que os acontecimentos de 2015 precipitaram um processo de desmitificação de Lula. Em 2009, pouco antes de deixar o governo de Minas para se candidatar ao Senado, Aécio dizia em conversas reservadas que nunca enfrentaria Lula nas urnas porque o petista havia alcançado a condição de mito em algumas regiões do País.
No Nordeste, onde segundo o mineiro, ex-presidente havia obtido o mesmo status de Padre Cícero. Hoje, conforme pesquisas, o tucano bateria o petista nas urnas com 31% das intensões de votos, ante 22% do adversário. Segundo auxiliares próximos de Lula, o fracasso de Dilma na área econômica e as contradições entre o discurso de campanha da presidente e a prática são suas maiores preocupações. Em conversas recentes, ele teria manifestado incômodo com o impacto da economia nos programas sociais. A um interlocutor, expressou o temor de que o País "volte atrás dez anos" e as forças de esquerda tenham de "começar tudo outra vez".
Por isso estava concentrando seus esforços em ajudar Dilma a recompor sua base política (na sociedade e no Congresso), afastar o risco de impeachment e retomar a rota de crescimento econômico para evitar retrocesso na área social. "É a primeira vez que ele não sabe o que fazer", diz um petista que o acompanha há mais de três décadas.
"Operações:" mas a principal causa do abalo na imagem do ex-presidente, segundo análises internas do PT, é a aproximação de investigações com Lava Jato e Zelotes, a amigos e parentes do petista. Desde que o doleiro Alberto Youssef disse que Lula "tinha conhecimento do esquema de desvios na Petrobrás, aumentou a impressão de que o cerco se fecha em torno do ex-presidente.
PARA LEMBRAR: O EX-PRESIDENTE E AS APURAÇÕES.
Segundo Instituto Lula, o ex-presidente está tranquilo em relação ao aspecto jurídico das citações, mas admite que elas têm sido usadas para desgastá-lo politicamente. "É evidente que existe um processo de desconstrução da imagem do Lula", disse o jornalista Celso Marcondes, um dos diretores do Instituto.
"Tráfico de influência;" em maio de 2015, o Ministério Público Federal pediu esclarecimento a Lula, à Odebrecht - alvo da Operação Lava Jato - e ao BNDES sobre suspeitas de tráfico de influência - de 2011 a 2014, Lula teria ajudado a empreiteira a obter contratos no exterior com recursos do banco.
"Instituto Empresa": A Polícia Federal afirmou em junho do ano passado que a Camargo Corrêa - que já teve executivos condenados na Lava Jato - pagou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e mais R$ 1,5 milhão à LILS, Palestras, Eventos e Publicidade, empresa do ex-presidente, entre 2011 e 2013.
"Investigação": A procuradoria do Distrito Federal abriu em Julho procedimento de investigação criminal para apurar se o ex-presidente praticou tráfico internacional de influência em favor da Odebrecht. A procuradoria suspeita que Lula obteve "vantagens econômicas " da empresa.
"Assuntos do BNDES": Polícia Federal citou o nome do ex-presidente nos autos da Lava Jato sobre a Odebrecht. Em relatório sobre intercepção telefônica da 14ª fase da operação, a PF informou ao juiz Sérgio Moro que o ex-presidente conversou com o executivo Alexandrino Alencar, da Odebrecht, em 15 de junho - quatro dias depois do telefonema, Alexandrino foi preso. Segundo o relatório, Lula estaria preocupado com "assuntos do BNDES.
"Delator 1": Em delação premiada, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou que, entre repasses "legais e ilegais" para partidos com a finalidade de "abrir portas" no Congresso e em órgãos públicos, pagou em 2006 R$ 2,4 milhões à campanha de Lula.
Pessoa disse, porém, que não sabe se o ex-presidente tinha conhecimento da origem ilegal do dinheiro.
"Coaf": O conselho de controle de Atividades Financeiras (Cof), órgão de inteligência do Ministério da Fazenda, remeteu em agosto ao menos três relatórios diferentes indicando movimentação atípica da empresa do ex-presidente, LILS, para investigações do Ministério Público Federal.
"Informante": A PF pediu em setembro ao Supremo que Lula fosse ouvido no inquérito que investiga envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobrás. O pedido aponta suspeita de que Lula pode ter sido "beneficiado pelo esquema". O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, autoriza a PF a colher depoimento do ex-presidente como "informante".
"Delator 2:" Fernando Baiano afirmou que Lula se reuniu pelo menos duas vezes com o pecuarista José Carlos Bumlai e com João Carlos Ferraz, então presidente da Sete Brasil - companhia criada pela Petrobrás para construção de navios-sonda -, para tratar de negócios intermediados por ele. Segundo Baiano, os encontros ocorreram no Instituto Lula e antecederam a cobrança de R$ 3 milhões por Bumlai para supostamente pagar uma dívida de imóvel de uma nora do ex-presidente.
"Pagamentos": Laudo da PF apontou instituições ligadas ao ex-presidente receberam quase R$ 4 milhões da Odebrecht, entre 2011 e 2014. os pagamentos foram feitos ao Instituto Lula e à LILS. Ainda segundo o laudo, as instituições receberam R$17 milhões de outras empreiteiras alvo da Lava Jato.
"Zelotes": No fim de setembro, a PF, Receita e Ministério Federal cumpriram mandado de busca e apreensão no escritório de Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente. A ação integrou a Operação Zelotes, que investiga esquema de compra de medidas provisórias para favorecer montadoras de veículos.
"Depoimento": Em dezembro o ex-presidente prestou depoimento à PF na condição de "informante" em inquérito que tramita no Supremo para apurar suposta formação de quadrinha por políticos de PP, PT e PMDB para desviar recursos da Petrobrás. Ele disse não ter conhecimento sobre eventos de corrupção ocorridos na estatal e falou em tentativa de "criminalizar" o PT.
"Amigo preso": No fim de novembro, o pecuarista José Carlos Bumbai, amigo do ex-presidente, foi preso suspeito de intermediar propinas envolvendo contrato do navio-sonda da Petrobrás. A PF investiga empréstimo de R$ 12 milhões tomados por Bumbai no Banco Schahin - o real destinatário do dinheiro foi o PT, segundo o empresário.
Nota: Ver nesse texto o paragrafo "Investigação" em breve nas manchetes das mídias
Iracema Alves
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