Num mundo conturbado pelo terror, onde se buscam "explicações" para comportamentos inexplicáveis, é nossa obrigação tomar ciência do que não podemos aceitar nem tentar entender - mas temos de combater, isolar e extirpar este mal. Afinal os Haitianos sofridos, os Africanos discriminados, os Judeus perseguidos e os Hindus famintos jamais recorreram ao terrorismo para expressar suas frustrações, seu desespero e suas angústias...
Gheula Canarutto Nemmni é uma educadora e escritora que vive em Milão, Itália. Seu livro mais recente é (No) si puo avere tutto. - (Não) se pode ver tudo - Mondadorid -2015
Num mundo conturbado pelo terror, onde se buscam "explicações" para comportamentos inexplicáveis, é nossa obrigação tomar ciência do que não podemos aceitar nem tentar entender - mas temos de combater, isolar e extirpar este mal. Afinal os Haitianos sofridos, os Africanos discriminados, os Judeus perseguidos e os Hindus famintos jamais recorreram ao terrorismo para expressar suas frustrações, seu desespero e suas angústias...
Gheula Canarutto Nemmni é uma educadora e escritora que vive em Milão, Itália. Seu livro mais recente é (No) si puo avere tutto. - (Não) se pode ver tudo - Mondadorid -2015
O texto abaixo é para ser lido e relido. Uma verdadeira "aula" sobre a distinção necessária entre Desespero e Frustração, versus recurso ao terrorismo. Em minha opinião, a carta não deveria ser endereçada ao Papa Francisco, um verdadeiro amigo dos judeus e um ser humano tolerante. Mas o texto é excepcional.
Caro Papa Francisco, no apelo apaixonado pela Justiça Social que Sua Santidade fez em um discurso aos parlamentares Quenianos em Nairóbi na semana passada, S.S. afirmou que a "violência, os conflitos e o terrorismo são alimentados pelo medo e desespero nascidos da pobreza e frustração". No entanto, nem nada, nem mesmo desespero, pode justificar o terrorismo. As raízes do terrorismo residem apenas na educação baseada em ódio Nós judeus temos muita experiência em desespero. Mas a nossa história mostra outras maneiras mais construtivas de lidar com ele.
O desespero jamais foi uma justificativa para que os Judeus comentam atos violentos em nome da nossa religião. Fomos levados, acorrentados, em desfile pelas ruas de Roma enquanto o nosso Santuário em Jerusalém ardia em chamas. Fomos atirados em anfiteatros onde leões famintos e espectadores ansiosos esperavam por nosso sangue. Fomos queimados em autos-de-fé, fomos chamados marranos (NT; porcos), nos foi proibido ascender velas e também as orações em nossa língua ancestral foram proibidas.
Fomos massacrados em pogroms, nossas sinagogas foram destruídas, nossos filhos alistados forçosamente em Exércitos dos quais eles nunca voltaram. Fomos privados de nosso direito ao trabalho, à propriedade, ao voto e até a falar. Nos foi roubadas a dignidade que todos ser humano deve desfrutar por direito, simplesmente por nascer. Nossos dentes de ouro foram arrancados de nossas bocas e nossos braços marcados como se fôssemos animais enviados ao matadouro. Foi-nos dito "Volte para sua terra Natal" e agora que estamos em casas eles nos dizem: "Caiam fora daqui".
Nós, Judeus, somos uma parte indissolúvel do tecido histórico do nosso mundo. A presença Judaica é o fio comum na maioria dos países do globo. Em todo lugar da terra onde chegamos, nós produzimos poetas, matemáticos, físicos, escritores, políticos, cientistas, médicos, inventores. mesmo quando fomos trancafiados em guetos nunca paramos de escrever, pensar, discutir, produzindo o bem. Nós nunca colocamos nossas vidas em modo de espera, nem mesmo por pouco tempo. Apesar de tudo isso, não ficamos cobrindo as cabeças com cinzas por milhares de anos.
Nós carregamos o nosso destino em nosso ombros e amarramos a herança dos nossos antepassados aos nosso corações e fomos à procura de um novo lugar onde se pudesse respirar novamente. Se você é ensinado que cada instante na Terra é a maior riqueza que você possui, e que a vida é o dom mais precioso que você recebeu ao nascer, não há nem tempo nem vontade de chafurdar na auto-piedade. E não há espaça para o ressentimento. Voltamos, sem nossos pais, nosso irmãos, nossos filhos, nossos maridos e esposas, para a Alemanha, Itália e França.
Nós ficamos debaixo das janelas de nossas casas olhando para estranhos em que agora vivem em lugares que nos pertenciam antes da guerra. Arregaçamos as mangas, revelando números tatuados com fogo em nossos braços, e começamos tudo de novo, do zero. Os países interessados em ondas de migração devem estudar a história Judaica e o nosso modelo de integração. Em cada novo lugar que chegamos, mantivemos a nossa regra de ouro: nunca escorregar em nossas lágrimas. Nós nunca ficamos esperando por compaixão dos países que abriram as suas fronteiras para nós
por Gheula Canarutto Nemni / Tradução: Marcos L Susskind
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