É bem a cara do PT, que imagina ser o governo sua propriedade, a intenção de Dilma Rousseff de dificultar ao máximo para a equipe de Michel Temer a transmissão de funções que se dará tão logo a presidente tenha seu afastamento provisório do cargo decretado pelo Senado, em decorrência do processo do impeachment. Como o Estado apurou, a ordem do Planalto que está sendo repassada a todos os Ministérios, em particular àqueles controlados pelo PT, é que nenhuma informação seja transmitida aos "golpistas" que estarão assumindo. Como sabotagem da administração pública, Dilma e os petistas pretendem registrar seu protesto contra o "golpe" de que se consideram vítimas e dificultar o trabalho dos novos e "ilegítimos" responsáveis pela administração federal.
Mas estarão prejudicando, na verdade, aqueles para quem o governo deve trabalhar: os cidadãos brasileiros. Os petistas e a própria Dilma Rousseff estão convencidos que a batalha do impeachment está perdida, daí essa decisão absurda e irresponsável de pura revanche, que foi informada a deputados governistas - alguns dos poucos que sobraram - em reunião realizada na terça feira com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o presidente nacional do PT, Rui Facão. Essa sabotagem revanchista, reveladora da absoluta carência de genuíno espírito público de um partido que desde que assumiu o governo elegeu como prioridade a perpetuação de seu projeto de poder, faz parte da estratégia com a qual os petistas, com o apoio das entidades e organizações sociais que controlam, já começaram a "infernizar" a vida de Michel Temer, mesmo antes da instalação do governo provisório.
Na manhã de quinta feira 26/04/2016 - e este é apenas um exemplo da ação de guerrilha já em curso -, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) promoveu a paralização do trânsito em pelo menos 13 Avenidas e Rodovias da Grande São Paulo, com o objetivo, segundo nota divulgada, de "denunciar o golpe em curso no Pais e defender os direitos sociais, que serão ameaçados pela agenda de retrocessos apresentada por Michel Temer caso assuma a Presidência". Em tom ameaçador, acrescenta a nota: "não aceitaremos golpe. Nem nenhum direito a menos. Vai ter luta e resistência popular", CUT, MST e UNE, entre outras entidades que gravitam na órbita do PT, planejam a execução contínua de ações semelhantes.
É óbvio que a maior prejudicada de imediato por essas ações de verdadeiro terrorismo urbano é a população, cuja mobilidade fica gravemente comprometida. Mas, em nome de uma "causa popular", para os "defensores da democracia", quanto pior, melhor. O desespero dos petistas diante da forma vergonhosa como seu ciclo de hegemonia política está se extinguindo leva-os a escancarar a intolerância que, mesmo no exercício do poder, sempre foi uma característica marcante de seu comportamento politico. Essa intolerância sempre esteve na raiz da estratégia de dividir o Pais ente "nós" e "eles" e agora se acentua na ilusão de que será possível promover um retorno de pelo menos 14 anos na história do Brasil, quando a estrela do PT era símbolo da renovação das práticas politicas que promovem o progresso e a justiça social.
Para o PT o progresso era então um privilégio das elites e a injustiça social o meio para mantê-lo. Assumiram o poder, substituíram o progresso pela incompetência e a justiça social pela corrupção generalizada e, ao darem com os burros n'água, voltam agora responsabilizar "eles" por todos os males que afligem os brasileiros. Só a intolerância com "eles" poderá salvar o Brasil - é a palavra de ordem que desmascara a vocação autoritária de Lula e seus bajuladores e promete levar às ruas não a saudável manifestação do contraditório democrático, mas o rancor rançoso do fundamentalismo populista.
"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana" Carl Jung (...)
Tudo indica que seja assim: depois de Dilma ser afastada provisoriamente da Presidência, ela e Lula transformam o Palácio da Alvorada em bunker da "resistência democrática" e ambos saem pelo País e pelo mundo - se possível, em aviões da FAB - provocando indignação geral contra o "golpe" e a catastrófica recessão da economia brasileira, o insuportável aumento do custo de vida, o devastador aumento do desemprego. Tudo, é claro, por culpa "deles". Alguém duvida? Eu não coloco minha mão no foco (grifos meus)
Fonte: Notas & Informações Jornal o Estadão em 01/06/2016
Iracema Alves
Jornalista cadeirante
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